terça-feira, 9 de outubro de 2018

[Foco no fosso] Quem cuida da infância perdida?

Haroldo P. Barboza

Milhares de crianças entre 3 e 12 anos, residentes nas fazendas dos poderosos, jamais seguraram um lápis para desenhar seus sonhos e jamais chutaram uma bola de borracha ou acariciaram uma boneca de trapo. Simplesmente são escravizadas durante doze ou quatorze horas por dia na colheita, nas estrebarias ou nos fornos das olarias em troca de alguma ração que abrigam vermes hostis aos seus frágeis organismos. Nenhuma autoridade de algum Juizado de Menores se comove no sentido de lhes oferecer a oportunidade de ser criança. Quando muito, caso alguma TV exiba tais atrocidades no horário nobre, se compromete a estudar alguma ação paliativa ou cobrar verbas retidas (desviadas, melhor dizendo) destinadas ao processo de combate a este genocídio tolerado.

Outros milhares vagam pelas ruas sem futuro, praticando furtos, conduzindo drogas ou se preparando para crimes com armas mortíferas. Nenhuma autoridade de algum Juizado de Menores se esforça para combater este caos social e fechar esta fábrica natural de futuros revoltados. Nem fiscalizam as várias ONGs que recebem verbas em função desta aberração e que não pretendem resolver os problemas em definitivo, pois isto acabaria com sua fonte de renda.

Também não há fiscalização adequada nos bailes noturnos em recintos prestes a pegar fogo onde os adolescentes consomem drogas e bebidas sem receio. Pela madrugada, já fora de sintonia, saem dirigindo sem cuidado, colocando várias vidas em perigo com seus carros incrementados e suas carteiras irregulares. Isto, quando estão "calmos". E quanto às crianças que são exploradas nas esquinas das principais ruas vendendo balas e outros artefatos? Inclusive o próprio corpo.

Esta atitude de proteger os reais necessitados e desamparados, apesar de ser uma obrigação da autoridade competente aguardada pela sociedade, não dá propaganda na mídia. Assim como obras subterrâneas para amenizar problemas potenciais dentro de dez anos. Para se projetar sob os holofotes da TV ou obter alguma vantagem, é preciso criar um caso de repercussão, que incomode a quem está de alguma forma, longe deste ambiente de miséria descrito acima. É mais fácil "fiscalizar" em cheirosos camarins de TV para ver se tem algum menor (mesmo autorizado pelos pais) trabalhando ou se há algumas meninas desfilando nas passarelas da moda sem carteira de estudante (quando a possuem, algumas empresas de ônibus não permitem que usem o veículo gratuitamente, pois não há fiscalização ou legislação que intimidem os tubarões dos transportes). Se este fato fosse socialmente ruim, alguns espertos já teriam criado ONGs para "salvar" estes menores.

Melhor transitar pelos cenários limpos e iluminados dos camarins e passarelas do que sair num veículo sucateado durante as noites frias para dar apoio às crianças que dormem sob marquises e viadutos, pelas esquinas da vida e que estão se preparando para o mundo da miséria e do crime, onde a matéria “esperança” não é ministrada por falta de orientadores. 
Título e Texto: Haroldo P. Barboza – Autor do livro: Brinque e cresça feliz. 9-10-2018

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