José Augusto Filho
Na montagem do governo, o novo presidente
elegeu duas pastas que podem responder pelo sucesso ou fracasso de sua
administração. No comando dos superministérios, nomes de reconhecida capacidade
técnica
Sob o olhar incrédulo, eivado de preconceitos e ainda ressentido de boa parte da opinião pública nacional e estrangeira, o capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro tomou posse na Presidência da República Federativa do Brasil. Político de 27 anos de Parlamento e alvo de qualificativos imprecisos – mixórdia de ultradireitista, conservador, nazifascista –, Bolsonaro soube, como ninguém, ler o cenário político e galvanizar o sentimento do eleitor, exaurido pela corrupção pantagruélica, apensada à bancarrota econômica do país e à escalada da violência.
É compreensível a dor de
cotovelo dos progressistas. Preocupados em se apropriar do Estado e implantar
suas políticas identitárias, esqueceram-se que a alternância de poder faz parte
da democracia. Contudo, importa agora que o Brasil está sob nova direção,
depois do longo ciclo de devaneios socialistas. O time escalado por Bolsonaro
está em campo a jogar a partida mais importante da vida dos integrantes do
primeiro escalão.
Na nova estrutura
administrativa dois superministérios assumem importância capital para o sucesso
do governo Bolsonaro. Entregues de “porteira fechada” para seus titulares, as
pastas da Economia e da Justiça e da Segurança Pública devem responder
celeremente às principais propostas de campanha do presidente.
À frente da Economia Paulo
Guedes, que já se reconhece um “Chicago old”, definiu três prioridades: reforma
da Previdência, privatização acelerada de estatais e simplificação, redução e
eliminação de impostos. Por outras palavras, Guedes promete travar uma luta
homérica contra o patrimonialismo brasileiro. Empresas públicas, aposentadorias
especiais e um sistema tributário feito sob medida para penalizar o trabalhador
pagador de impostos e aliviar a vida dos mais afortunados funcionam como o mais
draconiano programa de transferência de riqueza do pobre para o rico.
Essa distorção fez do Brasil
um dos países mais injustos do mundo e nunca foi devidamente enfrentada pelos
governos anteriores, sobretudo os progressistas que, apesar do característico
discurso demagógico, fortemente trataram de ampliar os privilégios de castas de
apetite voraz por sinecuras nas fartas tetas do governo. Neste sentido, a
reforma do Estado, além de fiscal, deve ser administrativa. Com mais de 390 mil
cargos de comissão, a máquina pública encontra-se emperrada sob o peso de um
corpo gigantesco e inerte.
Não podia ser diferente. Para
quem pretende romper com o atraso e a imoralidade na gestão pública, Guedes
atacou frontalmente os vícios da herança maldita de 16 anos de lulopetismo. “O
Brasil vai deixar de ser o paraíso dos rentistas e o inferno dos
empreendedores. Não foi para o microcrédito que os bancos públicos se perderam.
Eles se perderam nos grandes programas em que piratas privados, burocratas
corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo
brasileiro. O Brasil foi corrompido pelo excesso de gasto. O Brasil parou de
crescer pelo excesso de gasto”, disse o ministro em preciso diagnóstico da
tragédia consumada pelo PT de Lula da Silva.
Contudo, Guedes não deixou de
ressaltar a face humana do liberalismo clássico, responsável pelo
enriquecimento e melhoria da qualidade de vida nos lugares onde foi adotado. O
Estado deve exercer papel subsidiário na vida das pessoas e deixar o caminho
livre para a prosperidade individual, e atuar apenas e tão-somente nas questões
que a sociedade civil não consegue resolver por si mesma. Assim, investir em
áreas sociais como saúde e educação é criar instrumentos de libertação e transformação
do indivíduo.
No outro flanco turbinado por
Bolsonaro, o ministério da Justiça e da Segurança Pública, o comandado ficou a
cargo de Sérgio Moro. Assim como Paulo Guedes, o antigo juiz da Lava Jato
recrutou os melhores profissionais para compor sua equipe. Célebre por ter
mandado para a cadeia figurões do mundo político e empresarial, Moro quer
transformar a experiência acumulada nos cinco anos de operação em política de
Estado – uma Lava Jato permanente, para desespero dos corruptos e corruptores.
Em si mesma, a corrupção não é
a única nem tampouco a principal causa do atraso de um país. Contudo, a
corrupção estrutural como a que o Brasil conheceu nos últimos anos é causadora
de danos irreparáveis ao tecido social. Além de minguar o já reduzido orçamento
da União voltado para o desenvolvimento – mais de 90% da arrecadação estão
comprometidos com gastos obrigatórios –, a certeza de impunidade dos malfeitos
praticados por agentes públicos e privados produz no cidadão comum, aquele que
vive do suor do próprio trabalho, um estado de anomia permanente.
Para a sequência do excelente
trabalho de Moro, a manutenção da prisão em segunda instância e o resgate das
10 Medidas contra a Corrupção, de iniciativa do Ministério Público Federal
(MPF), representam a sentença mais dura contra a corrupção e o crime
organizado.
A prisão em segunda instância,
que alcançou Lula da Silva e vários integrantes de sua organização criminosa
travestida de partido político, foi um golpe fatal em malfeitores que contavam
com chicanas de advogados pagos a peso de ouro para evitar que sentenças
transitassem em julgado enquanto seus clientes, vivos, desmoralizam a Justiça.
A guerra ao crime organizado,
que movimenta mais de 15 bilhões de dólares por ano, talvez seja a que mais vai
exigir de Moro coragem e determinação. O narcotráfico é a principal fonte de
faturamento dos vários grupos que operam de dentro dos presídios, mas em
assombrosas triangulações com Estados produtores, como Venezuela, Colômbia e
Bolívia. A alta lucratividade do tráfico de drogas é a principal causa de
hostilidades entre facções que disputam o comando do negócio. Juntamente com o
narcoterrorismo e a violência urbana, o tráfico responde pela maioria dos mais
de 60 mil assassinatos por ano no país.
Em comparação ao antigo ofício
de juiz togado, agora a missão de Sérgio Moro é de altíssimo risco. Contra ele
estão políticos de comportamento nada republicano, operadores do Direito
militantes partidários e a bandidagem capaz de praticar as maiores atrocidades.
A favor do superministro, estão a Polícia Federal, o MPF e a sociedade
brasileira, que espera ver Moro conduzir a justiça do país com a mesma mão
firme que assinou pesadas sentenças contra políticos e empresários antes
intocáveis.
Juntos, Paulo Guedes e Sérgio
Moro, mais do que qualquer outro integrante de proa do governo, colocaram a
reputação de carreiras bem-sucedidas à prova. Sem passagem pela política, podem
sair consagrados ou desmoralizados no arriscado e árido jogo de Brasília, onde
os fracos literalmente não têm vez.
Enquanto o governo Bolsonaro
trabalha nas questões que de fato interessam à maioria do povo, os adversários
e a orgulhosa imprensa progressista continuam a procurar cabelo em ovo. Ataques
histéricos a cada derrapada da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos,
por exemplo, serão cada vez mais frequentes. Não se cansam de passar vergonha.
Mas o que isso importa? O que importa é a segurança e a economia, idiotas!
Título e Texto: José Augusto Filho, Jornalista e doutorando em Ciência Política e Relações Internacionais
no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa. Pesquisa
os desafios do multilateralismo liberal no presente contexto de transformação
da ordem mundial. Observador,
6-1-2019
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