Esconder fatos tristes na
memória é uma das maiores habilidades do ser humano. Principalmente por povos
habitualmente dominados pela anestésica indolência que maus dirigentes ajudam a
disseminar entre seus eleitores para se perpetuarem no poder.
De tempos em tempos, na época
de uma ocorrência chocante, algumas delas voltam à tona para encherem páginas
de jornal e mesas de pizzarias. Jamais servem para que o povo já domesticado e
acomodado se lembre que existem pendências públicas ainda não equacionadas de forma
lógica (viável, prática e econômica).
A tragédia de Brumadinho (MG)
me despertou umas quinze lembranças. Cito apenas dez (com ano/mortos) para não
alongar o resumo em pauta.
Queda da Gameleira (1971/65)
Incêndio do Joelma (1974/188)
Afundamento do Bateau Mouche (1988/15)
Afundamento da plataforma P52 (2001/11)
Deslizamento no morro do Bumba (2010/267)
Deslizamento em Teresópolis (2011/355)
Incêndio na boate Kiss (2013/242)
Rompimento de represa em Mariana (2015/19)
Queda de ciclovia do Joá (2016/2)
Rompimento da represa de Brumadinho (2019/>200)
Não importa a natureza do evento trágico. As “ortoridades” entre o início da república e 2018, por falta de criatividade, sempre fizeram pronunciamentos (logo após o evento sinistro) pautados nas seguintes frases (nesta ordem) que JAMAIS chegaram ao objetivo com o sucesso esperado:
1 – Lamentamos profundamente o
ocorrido e já acionamos nossas equipes de emergência para prestar apoio no que
for preciso aos sobreviventes e aos parentes dos falecidos.
2 – Vamos montar equipes
técnicas para apurar as ocorrências que nos conduziram a este lamentável
“acidente” e em menos de noventa dias já teremos as primeiras conclusões sobre
as causas (até o lavador de carros já as conhece) que serão exibidas à
sociedade.
3 – Os responsáveis diretos
bem como os secundários responsáveis por eventuais falhas, serão devidamente
penalizados sem contemplação, pois nossas condutas nas áreas sociais são retas
e transparentes.
4 – Todos os prejudicados
serão ressarcidos de suas perdas em tempo hábil para a reconstrução de suas
atividades e normalização de suas vidas agora afetadas pelo “destino”.
Na maior parte das vezes, o
“destino” é o vento (que não pode ser encaixotado, segundo uma ex-presidente)
não contido por uma “forte barragem de barro” de terceira qualidade ou por um
morador de rua que urinou na base do viaduto e corroeu suas bases de
sustentação.
Os poderosos empresários
apreciam mais as bolsas de valores do que a qualidade de vida de seus
funcionários (sem os quais suas empresas não cresceriam) e vizinhos de suas
fontes de produção. Suas estruturas de poder estão montadas sobre os seguintes
pilares:
- legisladores (subornáveis)
que não endurecem as normas de atuação das indústrias perigosas ao ambiente e
às pessoas.
- Executivos apadrinhados em
campanhas eleitorais.
- Advogados altamente
“especializados” em trilhar os atalhos pelos quais os culpados escapam do
cárcere e das multas.
- Magistrados “comovidos por
presentes” que emperram os julgamentos com as “vistas de processos” e fornecem
habeas corpus como quem vende sorvete no verão.
Com as sobras das esperanças
que depositamos nas urnas no final de 2018, esperamos que desta vez as frases
exibam novos sinônimos e as ações descritas sejam cumpridas. Que a porteira da
confiança nas novas administrações públicas possa ser escancarada para que o
povo (gado) se liberte das amarras que o mantém como eterna colônia.
Título e Texto: Haroldo P. Barboza, 30-1-2019
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EM 1967
ResponderExcluirNo ano de 1967 houve um grande deslizamento de terras na região da Serra das Araras, soterrando em torno de 1700 pessoas, das quais apenas 300 tiveram seus corpos encontrados.
CONSTRUÇÃO DA VIA DUTRA