domingo, 10 de fevereiro de 2019

[As danações de Carina] O deus da terra e os nossos bolsos furados

Carina Bratt

O dinheiro não lhe faz feliz. Torna você uma besta humana ambulante desumanamente imbecil e entediada”.
Arthur Hailey, em seu livro “The Money Changers”. (Em português, ‘O Dinheiro’).

Minhas amigas, vocês que são empregadas, dão um duro danado o mês inteiro. Enfrentam ônibus lotados, trânsitos intensos e violentos (tanto na ida quanto na volta), vão e retornam em pé para seus lares. Sem contar que são assediadas, dividem o mesmo cheiro das axilas mal lavadas. Espirram com odores de perfumes baratos em baixo de sovacos apodrecidos de suores. Tudo para no final de trinta dias receberem a sua graninha mirrada.

As amigas leitoras saberiam dizer o que é o dinheiro? Desde quando existe e qual o nome que ele recebe dependendo da profissão escolhida para ganhar a vida? Vamos tentar explicar, sem complicar. Dinheiro é a mesma coisa que moeda corrente. Só que sem corrente. Talvez, por isto, não pare em nossas mãos. Quem sabe, se fosse acorrentado, ou usasse tornozeleira eletrônica, saberíamos onde achá-lo quando dele precisássemos com certa urgência.

O governo fala que o dinheiro traz riqueza. Com certeza, trás mesmo. E muita. Para os bolsos dele e seus familiares. Alguém já viu um político sem dinheiro na carteira? Com certeza somente o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, o único que é pobre. Coitado! Tentou comprar um apartamento na praia, em Guarujá e um sitio, em Atibaia, em suaves prestações. Tudo financiado pela Caixa Econômica Federal. Tomou doze anos nas costas pelo tríplex e mais doze no rabo, pelo Sítio. 

Acabou perdendo até as ceroulas, sem falar na moral, na dignidade e na vergonha. Dinheiro traz soberba, ganância, olho grande, amigos, bens materiais, e uma infinidade de outras comodidades. Entre elas, a falta de respeito por si mesmo. Por isto, todo mundo se vira para consegui-lo. Uns matam, outros esfolam, outros afanam na cara dura. Outros lavam, passam, dobram, despacham os consanguíneos para verem Papai do céu mais cedo...

A origem do deus da terra, o dinheiro, se perde no contexto dos alfarrábios. Os povos antigos (do período em que se pegava mosca com tapas e sopapos, gonorreia ao invés da AIDS, sapinho no lugar de herpes, e se morria de velhice e não de balas perdidas). Por esta razão, comum achar nestes idos, moedas em túmulos de faraós, além de outros objetos de valores mutuários correspondentes à idade de cem anos A.C.

Por falar N’Ele, em seu tempo, circulava na Palestina, o Siclo. Que negócio é este?  Siclo, nada mais que uma peça redonda fundida em prata, que pesava cerca de 14,5 gramas. O “merréis” oficial dos judeus. Um deles, amigo de Rodrigo Rocha Loures, teve a cachimônia de vender o Salvador por 30 moedas. Na antiguidade, os soldados romanos recebiam seus vencimentos em pedras de sal. Por isto fediam mal. Não podiam ver água. O sal se dissolvia.

É provável que, em face disto, a palavra “salário” tenha se originado. Posteriormente, na Roma dos Césares adotaram o Sestércio que se constituía numa pequena moeda (também de prata) com a cara de Dercy Gonçalves no anverso. Da outra, ou no reverso, a Hebe Camargo vestida de Carmem Miranda. Os historiadores batem na tecla e perseveram que Augusto (não aquele vivido por Marco Nanini em “Deus Salve o Rei”). Faço referência ao que fundou o império romano e recebeu por testamento de seus amigos, entre eles Gilmarzinho Mendes, 14 milhões de Sestércios.

A carga pesava tanto, mas tanto, que precisaram contratar 513 jumentos da câmara dos comuns e 81 cães do senado para levarem o tal fardo ao palácio do Imperador. Até bem pouco tempo, em certas regiões da África, onde dificilmente se manuseava o vil metal, mercadorias como sementes, cacau, coco, gado e até ovos de gafanhotos e urubus em estado vegetativo, exerciam a função de moeda, servindo como medidas de trocas.

Um rebanho de vacas leiteiras, de cabras, uma tropa de mulas, de mendigos, de noiados e putas aposentadas por invalidez das partes baixas, bem como um determinado número de camelos e dinossauros, serviam, por exemplo, para um cidadão comprar uma noiva. Com direito a igreja, celebrante testemunhas e etc. O dinheiro, propriamente dito, com este nome, ‘denáriu’, se constituía numa idosa moeda romana que valia dez asses.

Foi também o nome de uma moeda portuguesa de cobre, cujo valor primitivo, não se sabe ao certo, no tempo de Afonso V, valia a terça parte de um Ceitil ou duas medalhas com um barbantinho numa das pontas para se carregar no pescoço. Se tivesse til, valia mais. Ceitil, menos. A grana, conforme a finalidade com que é paga sofre designações científicas. Vejamos agora algumas delas. Como pagamento de autores por suas obras, DIREITOS AUTORAIS. De acionistas de uma empresa, DIVIDENDOS.  De capelães e chapelões, CÔNGRUAS, de comerciantes, LUCROS.  As domésticas e os garçons, além do fixo compactuado com seus patrões, GORGETAS.

Do empregado comum, o boçal, o caraminguado, o Zé Povinho, a Maria Catarrenta, ORDENADO ou SALÁRIO. Ao estado, pagamos IMPOSTOS, ou TRIBUTOS e outras infinidades de TAXAS e COEFICIENTES. Aos herdeiros, HERANÇAS. Aos intermediários de negócios, escusos ou não, COMISSÕES. Aos médicos, aos engenheiros e advogados, entre outros de uma lista do tamanho da burrice paquidermiana de Michel Temer, HONORÁRIOS. Aos militares, SOLDOS. Aos cartórios para reconhecimentos de firmas, segunda via de documentos, casamentos, nascimentos, óbitos, EMOLUMENTOS.

Aos mendigos, damos ESMOLAS. Aos noivos, nossos pais dançam na corda bamba com os DOTES. Aos parlamentares e demais ladrões em Brasília, SUBSÍDIOS. Aos juízes e promotores, REMUNERAÇÕES. Aos pensionistas do INSS, PENSÕES, assim como aos proprietários de padarias casa de massagens, hotéis, motéis, açougues, farmácias e supermercados, RENDAS. Sem calcinhas recheadas com duas ou três mulheres dentro.

Aos prejudicados em catástrofes, como a queda de aviões, desastres em rodovias federais envolvendo automóveis ou ônibus, derrubadas de pontes e edifícios suntuosos que vem à baixo entre um rol de infortúnios imensuráveis como os que vimos nas cidades de Mariana e Brumadinho, BANANAS, perdão, INDENIZAÇÕES.

Aos soberanos, reis, rainhas, príncipes e princesas que hoje são escassos, se conta usando os dedos dos pés, LISTAS CIVÍS. Aos padrecos e pedófilos da Santa Madre Igreja Católica estes clérigos recebiam ESPÁTULAS, quero dizer, ESPÓRTULAS. Diferente dos bispos, apóstolos, pastores e pastoras, diáconos e reverendos, que dão um duro dos diabos (trabalham com afinco e perseverança para enganar os trouxas e os cândidos de espíritos abertos e desarmados) em troca dos surrados DÍZIMOS.

Nos Estados Unidos, não sei se vocês se lembram, em mil novecentos e lá vai pedrada nas ventas, inventaram um aparelho ultrassônico de nome (JVS) que limpava e desinfetava cédulas, principalmente as oriundas de paraísos fiscais, de corrupções passivas ou apreendidas com pessoas honestas e sem máculas. A geringonça JVS tinha por finalidade maior, remover sujeiras, gorduras e germes (ou micróbios) das moedas.

O aparelho se livrava, igualmente, de matérias estranhas ou de indícios que pudessem condenar, por exemplo, um inocente a passar um bom tempo na cadeia vendo o sol nascer retangular através de uma janela oval.  Em média, a engenhoca devolvia 5 mil moedas em cada 12 minutos, que saiam literalmente impecáveis e higienizadas. Para corroborar a veracidade, cada uma destas moedas vinha com um certificado de autenticação de lavagem (ISO 1950) com a assinatura do médico sanitarista e ex-prefeito de Ribeirão Preto, Antônio Palocci. 

Sem falar no melhor: a gronga despistava a turminha do leão do imposto de renda e a galera tartarugueana da Polícia Federal. Depois entrava em cena outra solução com bafejos de talco puro e a aspersão de perfumes franceses vindos da zona franca de Manaus. 

Níqueis muito desgastados dançavam como galinhas em churrasqueiras para cachorros de rua, numa lavadura em regra, ou seja, num asseio mais profundo e esmerado. Restavam jogadas, minutos depois, num imenso tanque de metal encheado até a borda e submersiadas numa solução detergentiva onde se aplicavam vibrações que variavam de 5, 8, 10 ou até 20.000 ciclos por segundos.

O dinheiro, a “bufunfa”, a reserva, o tutu, o básico essencial (ou qualquer outro apelido pelo qual seja conhecida a “baba nossa de cada dia”, não importa), é para a humanidade de pobretões e desprovidos da graça graciosa da sorte, uma fonte eterna de INSEGURANÇA. Para os gananciosos espertalhões e safados, a satisfação e o CONTENTAMENTO. Para os nossos representantes na Capital (capital?!) federal, a ininterrupta e contínua SEGURANÇA.

Ao mesmo tempo, em fluxo paradoxal, costuma dar origem aos tormentos, às tragédias, aos flagelos, aos danos, as fístulas, as derrotas e fracassos. Em torno dele, o “FAZ ME RIR”, gira em sucessoras cambalhotas os atrativos e interesses do mundo. Todos os engodos e escrúpulos do planeta. O bicho homem foi, é e sempre será seu cativo, seu prisioneiro, seu ESCRAVO.

Entretanto amigas atentem para alguns detalhes importantes: com elas, as cédulas, se adquire tudo o que se deseja. Compramos a comida, o alimento, mas não o apetite. De modo igual, remédios, não a saúde. Travesseiros, lençóis, camas, fronhas, amantes, namorados, ficantes, tico-tico no fubá, sem Zequinha de Abreu, jamais um proveitoso e reconfortante sono reparador. Distrações, viagens, parques com um leque de brinquedos de arrepiar até os cabelos das churreias.  Contudo, em tempo algum, a consciência das aspirações completamente preenchidas.

Alcançamos o brilho, o estrelato, a fama, a gloria, o inalcançável. Porém o aconchego... o carinho, Kikikikikiki estes passarão à léguas e léguas de distância. Resumindo nossas danações. Compramos, adquirimos, angariamos, captamos, abarcamos todas as bonanças e ventos calmos, abraçamos todas as venturas. O mais importante, o essencial, o primordial. A paz, amigas leitoras. O que, de fato conta. O que faz toda a diferença. A paz da alma. A PAZ na sua verdadeira acepção. Esta, euzinha... esta PAZ SINCERAMENTE DUVIDO!
Título e Texto: Carina Bratt, de São Paulo Capital. 10-2-2019

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4 comentários:

  1. Carina, minha linda, algum problema com a sua "Gorgeta?" Acaso ela está entre aspas?!
    Aparecido Raimundo de Souza, São Paulo, Capital.

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    1. DINHEIRO ABARCA FELICIDADES, SAÚDE, CURA DEPRESSÃO, ESTRESSE E DÁ PAZ INTERIOR, EU DUVIDO APENAS DA PAZ EXTERIOR.
      ACONCHEGO E CARINHO A TEMPO NOS AJUDA A ENCONTRAR.

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    2. Obrigada Roccha por ter lido meu texto. Agradeço de coração.
      PAZ!
      Carina
      Ca
      ão Paulo, Capital

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  2. Engraçadinho. A 'gorgeta' é minha. A gor'j'eta do meu texto deveria ser com 'j' mas, na hora passou um jumentinho e me distraiu. Jumentinho?! Acho que foi um gatinho que me atrapalhou 'miando'.
    Com todas as gorjetas e gor'g'etas, o que vale é a intenção de deixar o garçom feliz. Fica em paz!
    Carina Bratt
    Ca
    de Vila Velha, no Espírito Santo ES

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