segunda-feira, 25 de março de 2019

A trágica farsa dos intelectuais de esquerda

Franz-Olivier Giesbert

Pequena adivinha: quem é vermelho por fora, branco por dentro, sempre perto de uma boquinha e que sempre se engana? Um intelectual de esquerda, claro!

Mais ele se engana, mais ele persiste: o intelectual de esquerda não aprende. Aliás, é o sinal que o distingue. Depois dos erros defendendo os regimes mortíferos da União Soviética, da China popular, do Camboja, ele continua, nos tempos atuais, a cair em todas as arapucas, do islamismo ao antirracismo identitário importado das universidades americanas.

Enquanto desmoronam a olhos vistos dois países afetados por essas ideologias de palha, a Argélia e a Venezuela, como não relembrar que os nossos caros intelectuais apresentavam esses países, não faz muito tempo, como modelos? Tal a maldição de aqueles que pretendem conduzir as nossas consciências e nos mostrar o (bom) caminho: eles estão sempre completamente equivocados, em relação à França, ao mundo.

Um pequeno lembrete, de passagem, para todos aqueles que, como Thomas Piketty e os seus discípulos, nos repisam que todo o mal, neste mundo, vem do capitalismo, do liberalismo, da globalização. Se não tivessem alucinações, eles reconheceriam que a economia de mercado, apesar de todos os defeitos, causou menos mortes e miséria social que o socialismo que eles tanto aclamam.

Escutando os pensadores da nova esquerda, a França é um país totalitário, nas mãos de uma oligarquia financeira que afoga as manifestações populares num banho de sangue. Um discurso repetido pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma organização muito parcial, contestada pelos Estados Unidos, que pede explicações à França sobre as violências policiais durante a crise dos coletes amarelos. Mas repare bem como ele é cuidadoso com as palavras quando se trata das exações do regime tirânico da Venezuela.

Michelle Bachelet, foto: Jean-Marc Ferre/ONU
A grande infelicidade da Venezuela, é a de ter caído um dia sob o jugo de um dandy1 “de esquerda”, ex-putschista, o comandante Chávez, perante o qual todos os terceiro-mundistas mundanos de França desmaiavam de emoção.

Depois que o seu “socialismo” deu certo – uma proeza! – em arruinar este país que dispõe das maiores reservas petrolíferas do mundo, o seu herdeiro Maduro, bufão carnavalesco, continua o trabalho, com os “sucessos” que conhecemos, enchendo os seus bolsos e os dos seus sicários.

Apesar da situação não ser tão catastrófica, a Argélia tampouco teve sorte. Sentada, ela também, sobre um tesouro (de gás e de petróleo), ela foi governada por loucos e corruptos que afundaram o país. De esquerda, estes também, foram, durante muito tempo, incensados pelos nossos intelectuais.

Neste desfile de nulidades, Boudiaf, rapidamente assassinado, foi uma primeira exceção. Bouteflika foi outra, que salvou, não esqueçamos, a Argélia da guerra civil e esconjurou o perigo islamita, o que não é pouco. Mas não soube reformar de cima a baixo a burocracia cripto-soviética instalada por Ben Bella, Boumediene e consortes. Hoje, passou o seu tempo e, aparentemente, ele acatou as consequências ao anunciar o seu afastamento.

A roda gira, a História passa, mas, jamais os pedantes da intelligentsia extraem lições dos seus desvarios. É por isso que a leitura do livro de Roger Scruton “L’erreur et l’orgueil”, (‘Tolos, impostores e incendiários’, edição portuguesa; ‘Tolos, fraudes e militantes’, edição brasileira), é tão animadora, e causa intenso prazer.

Grande filósofo da Estética e figura incontornável da arena das ideias na Grã-Bretanha, ele foi alvo de uma cabala depois da publicação, em 1985, de um ensaio sarcástico contra os pensadores da nova esquerda. Eis que ele reaparece com a mesma verve.

“Tolos, fraudes e militantes” é um festival de bofetadas e tapas na bunda em todos os ídolos das universidades ocidentais.


Nesta empreitada de desconstrução, Roger Scruton, desmonta os Sartre, Badiou, Hobsbawm, Althusser, Zizek, etc. Ele tritura a sua (deles) novilíngua, os disparates do tipo de Diafoirus [imagem, abaixo], que lhes permite esconder a futilidade, a estupidez mesmo, dos seus trabalhos. Passando por uma desvalorização da realidade, a teologia deles “expressa uma necessidade religiosa”, que “resistirá a todas as provas que a refutem”.


A queda do comunismo em 1989 não parou a engrenagem do nonsense que, depois de andar por algum tempo em ponto morto, reparte em velocidade: “a verdadeira revolução” ainda está por vir, ao que parece. Que importa a verdade de hoje, já que somente quando a ordem social for derrubada, ela aparecerá realmente.

O objetivo destes sinistros farsantes é, segundo Roger Scruton, o de “livrar o mundo da discussão racional em todas as áreas”. Meu Deus, mas está claríssimo!, a realidade sendo uma ilusão, como diria Zizek, você não existe!
Título e Texto: Franz-Olivier Giesbert, Editorial, Le Point, nº 2428, 14 de março de 2019
Tradução e Digitação: JP, 25-3-2019

1 No original “mirliflore” (No Larousse: jeune élégant satisfait de sa personne.).

Um comentário:

  1. Alguns imaginam um islã moderno, laico e preocupado em viver em boa comunidade com outras religiões. Assim, portanto, o que ele é incapaz de fazer nos países islâmicos, ele seria capaz de realizá-lo na Europa. Quanta ingenuidade!

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