domingo, 3 de março de 2019

[As danações de Carina] Carnaval

Carina Bratt

Nas nossas danações de hoje, falaremos não do país do carnaval, o Brasil. O Brasil é o país do carnaval, em todos os sentidos. Quanto a este fato, ponto pacífico. Não entraremos no mérito. Tampouco mencionaremos o primeiro romance de Jorge Amado, “O País do Carnaval” publicado pela primeira vez, em 1931, pela José Olympio. 


Discorreremos sobre o outro carnaval, aquele período de uma semana onde esta festa tida como popular e antiguíssima toma conta das pessoas e o bacanal, a orgia, a devassidão e a baderna correm livres leves e soltas como uma manada de cavalos e uma súcia de mulas desembestadas num vasto pasto de imensidão incalculável.

Como dissemos, o carnaval é um entretenimento popular. Perdura por uma semana e, em alguns lugares, até mais. Um evento que precede a quarta-feira de cinzas. Geralmente, quarenta e sete dias antes da Páscoa. Carnaval se traduz por folia, libertinagem, putaria, farra, lascividade e desordem.

Uma patuscada maluca e generalizada, onde os seres humanos perdem o bom senso e a compostura, além do comedimento, e, em nome de uma loucura interna, meio abrutalhada aprontam, a um só tempo, os sete pecados capitais multiplicados por mil. Na verdade, grosso modo, é a franga libertada de dentro da alma e do coração da raia miúda.

Dito de outra maneira mais abrangente. No carnaval muitos galos e galinhas, galinhas e galos do proletariado saem do armário e afloram como bichas (bichas ou bixas?!) marotas e impudicas, concentradas como defuntos e defuntas frescos e frescas, porém, com aqueles semblantes de cadáveres não dispostos a entenderem que partiram para o andar de cima. 

O carnaval teve a sua origem no Egito (não seria melhor a gente dizer agito?). Legal! Então vamos lá. O carnaval teve a sua origem no agito do Egito. E pasmem amigas! Há mais de dois mil anos A. C. Na Roma antiga, no dia 15 de fevereiro, se realizavam danças em honra de Pã. Pã, mulher do Pão? Negativo! Pã era o deus dos bosques, dos campos e dos rebanhos.

Pã tinha outros dois nomes meio hermafloditados. Um deles, Lupércio e o outro, Lupercos. Ele gostava mais do Lupércio. Os latinos (que se comunicavam, entre si, uivando), também o chamavam de Fauno e Silvano. Vez ou outra, de “Zé Brochado”. E por que “Zé Brochado?!”.

Pã, coitado, apesar de deus sem céu, morava em grutas e vagava durante o dia, de segunda a sexta-feira, pelos vales e montanhas caçando cobras e lagartos, além de lagartos e cobras. Final das noites se metia nos povoados próximos e dançava até tardão com uma alcateia de ninfas.

Amante da boa música, a criatura trazia sempre consigo pendurado no pescoço, um piano de cauda com calda de caramelo. Na mão direita, uma gaiola de passarinho com uma cobra dentro. Dizem os antigos, a mesma serpente que fez a Eva mamar no pé da fruta proibida. 

Pã tinha uns gostos esquisitos. Excessivamente excêntrico e extravagante, além do piano no pescoço e da gaiola com a cobra, gostava de se enfeitar com grandes orelhas, chifres e pernas de bode. Talvez, por esta razão, nunca tenha “comido, ou papado” uma das inúmeras ninfas que nas noites “calientes” o rodeavam. 

Daí, a alcunha braba de “Zé Brochado”. Outro fato interessante despertava a atenção das pessoas para o sarado varão. Pã chamava as ninfas com as quais dançava de “Lupércias” (as Suas “Lupércias”) e os gregos (sem os Troianos) aclamavam a Baco. Baco? Quem é Baco?! Baco, amigas, não outro senão o deus do vinho. Filho do Deus Olimpo e da fogosa e saliente Sêmele.

Primitivamente, os cristãos começavam as festas do carnaval a 25 de dezembro, compreendendo as apregoações do Natal, Ano Bom e o de Reis. Daí as Folias. Nestas regalias, jogos e disfarces os mais incomuns e aberrativos predominavam. Na Gália, para vocês terem uma ideia mais ampla, tais e tamanhos foram os abusos, que Roma proibiu, por longo tempo, o carnaval.

Existiam pessoas que se disfarçavam de Dilma, outras de Lula. Algumas de Raquel Dodge.  Neste pandemônio, até Palocci e Temer entravam na balburdia. Uma minoria mostrava as fuças travestidas de Anthony Garotinho, Pezão, e Dias Toffoli.

Na Idade Média, a algazarra reapareceu com força total em Veneza, Turim e Nice, alucinando com delirante alegria e excitação popular. No começo do cristianismo, a Igreja deu nova orientação a estas exaltações, punindo severamente aos que nela excediam. O Papa da época (na verdade o Mingau) convocava os padrecos pedófilos e aí começava outra sacanagem que só veio à tona agora, coisa de dois ou três meses atrás.

Os bailes de máscaras datam da corte de Carlos VI. Para quem não sabe, Carlos VI veio antes de Carlos VZero. Carlos VI se fez conhecido pela alcunha de “o louco”. Foi chefe da casa de Valois e rei da França, de 1380, até sua morte, quando, aos 54 anos, deixou de existir. Numa destas festas furnicativas, Carlos VI acabou assassinado por motivos políticos.

Dias antes de ser despachado para a terra dos pés juntos, conseguiu uma liminar junto ao ministro Luiz Fux do STJ (naquela época, Luiz Fuxca) para continuar como rei, caso viesse a bater as botas. Não adiantou nada. Bateu. Morreu fantasiado, ou melhor, disfarçado de Waldick Soriano quando cantava a voz solta, em meio de um salão superlotado, “Eu não sou cachorro não”.

O tempo carnavalesco começava com a festa de Santo Estevão, em 26 de dezembro. Afirmam alguns historiadores que em regozijos religiosos, como a da Epifânia... - (Epifânia, nada mais que um rito cristão onde se comemorava e ainda se comemora, o batismo de Cristo e também se celebrava (e até nossos dias se celebra) as bodas de Caná).

Nestas troadas se usavam máscaras escuras. Foi desta época que José Flores de Jesus, o (Zé Keti), bancando o espertalhão, passou a perna em Pereira Matos (seu amigo e parceiro em várias melodias) e registrou a música “Máscara Negra” em seu nome.     

Em Veneza e Florença, no século XVIII, as damas elegantes fizeram delas (as máscaras), instrumento de sedução, depois da calcinha de uma banda só com sabor de chocolate com menta. No Brasil, estas grazinadas são as mais animadas do mundo (principalmente no Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo).

Desde sempre, tem a sua fama carnavalesca, atraído ao nosso querido e amado país, as mais célebres personalidades cinematográficas e centenas de outras, que para aqui vieram (e ainda vem) com a finalidade de assistirem e compartilharem da alegria que contamina, e, sobretudo... sobretudo que contagia e fulmina a todos.
Título e Texto: Carina Bratt, de São Paulo, sábado, 2.3.2019, Cemitério Jardim das Colinas, em São Bernardo do Campo. ABC Paulista. (Funerais do menino Arthur Araújo Lula da Silva, de sete anos, neto de Luiz Inácio Lula da Silva).

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