Cesar Maia
(Editorial de O Globo, 05) Derretimento da
Venezuela de Maduro corta oxigênio de Daniel Ortega e de Rosario Murillo
O colapso da ditadura
venezuelana tem reflexos diretos na Nicarágua. Sem o fluxo de petrodólares
mantido por Caracas, durante duas décadas, e cercado pelas sanções econômicas
impostas pelos Estados Unidos, o casal Daniel Ortega, presidente, e Rosario
Murillo, vice, esgotou as possibilidades de continuar com seu regime despótico
e, comprovadamente, corrupto.
As punições ao casal de
ditadores foram adotadas como resposta à ferocidade da polícia e de grupos
paramilitares na repressão aos protestos de civis em todo o país, nos últimos
dez meses. Contam-se mortos às centenas, presos aos milhares — muitos
torturados, segundo a Igreja Católica e organizações de direitos humanos. Uma
estudante brasileira foi fuzilada na capital nicaraguense.
Ortega e Murillo perderam não
apenas o rumo, e agora tentam uma saída negociada com a oposição, algo que
vinham rechaçando.
Eles transformaram a
Nicarágua, um dos países mais pobres, em Estado falido. A administração opera
com alto nível de corrupção. O sistema financeiro se deixou contaminar por
suspeitas de lavagem de dinheiro vinculado ao narcotráfico.
Há um déficit fiscal estimado
em 15% do PIB. Desapareceram os suprimentos de petróleo e de dólares chavistas.
Estão bloqueadas as fontes externas de financiamento, inclusive as do Banco
Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Até agora, a família, que
administra o país como se fosse uma de suas fazendas, sustentava o poder — e o
visível enriquecimento — com base na “cooperação financeira” venezuelana.
Receberam um total de R$ 4,9 bilhões nos últimos 11 anos. Foi o preço pago por
Hugo Chávez e seu sucessor Nicolás Maduro pelo alinhamento da Nicarágua, como
coadjuvante, no jogo de influência de Caracas na América Central.
Esses recursos fluíram para os
cofres da Alba de Nicarágua S.A. (Albanisa), empresa binacional de petróleo e
derivados. A fortuna do casal Ortega-Murillo se multiplicou na apropriação de
parte dos lucros da revenda de óleo bruto e de combustíveis no mercado
caribenho.
As sanções à Venezuela
congelaram US$ 11 bilhões em exportações do governo Maduro. Imobilizaram a
PDVSA, a filial americana Citgo e a subsidiária nicaraguense Albanisa. O
castelo de cartas chavista desmorona, arrastando o casal de ditadores
associados Ortega-Murillo.
Título e Texto: Cesar Maia, 7-3-2019
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