Aparecido Raimundo de Souza
EM LONDRES, na Inglaterra, um
casal de lésbicas coreanas que desejava ter um filho, encontrou um pai para a
criança. O sujeito é um brasileiro da cidade de Itú, interior de São Paulo. Seu
nome, Beringelângelo Hortaliça. Alto, bonito, charmoso, moreno, olhos verdes,
veste camisas da Red Summer, cuequinhas da Zorba e calças da Hangar. Sapatos?
Não, só tênis sem meias. Fuma charutos legítimos cubanos diretamente importados
da ilha de Fidel Castro. Usa um brinquinho na orelha esquerda um pilsing na
língua, e, na pica, o desenho tatuado de um cavalo alado atacando um dragão sem
o São Jorge montado em seus costados. Frequenta academia todos os dias, faz
faculdade de direito em Bragança Paulista, bebe suco de laranja com gelo e
limão, aprecia quiches folheados e se concentra em seções açucaradas com
cheesecakes, brownies e trotinhas diet.
Mantém uma programação cultural bastante
interessante, com exposições de quadros, rodas de leituras, recitais,
lançamentos de livros e saraus. Reserva sempre um dos cantos de seu apartamento
confortável e espaçoso, para uma estante com pérolas literárias que vão de
Jorge Amado à Clarice Lispector passando por Saramago e Zé Lins do Rego. Ouve
como músicas de fundo, repertórios clássicos de origens francesas. De gosto
apurado, seu pequeno “habitat” foi decorado com o objetivo de fazer qualquer
fêmea esquecer o que se passa do lado de fora das suas quatro paredes. Louco
por cortinas, Beringelângelo sustenta que em qualquer ambiente essas peças são
acessórios indispensáveis para um bom relacionamento, principalmente com as
janelas. Esse cara, com todas essas manias requintadas e que ainda por cima
escova os dentes habitualmente antes e após as refeições, foi achado através de
um catálogo de vendedores de sêmens disponíveis na Internet. Simples, não é
verdade?
Se levarmos em conta, hoje em dia, percebam que
se comercializa qualquer tipo de bugigangas pelos sites das redes socias:
carros, casas, lofts, vinhos importados e nacionais, mulheres e homens
infláveis (existem no mercado – meninos e meninas para pedófilos com pintos,
cus e bocetas perfeitas), maconhas, pedras de crack, deputados, senadores,
aparelhos para desenhos, brinquedos coloridos ou em preto e branco, trombone
com ou sem vara, pratarias, CDs, gravadores e até ministros do STF. Enfim
existe uma série de cagalhões listados com mais de um milhão de itens para
todos os gostos. Basta o interessado dispor de um computadorzinho barato, uma
linha telefônica, cartão de crédito (de preferência com...) e endereço para
recebimento das tranqueiras desejadas.
Assim, nesse rastro, voltando às lésbicas, ou
melhor, as donzelas, uma médica e a outra, uma professora de piano, moradoras
da maviosa e aconchegante Winchester, capital do condado de Hampshire (sudeste
da Inglaterra) sem querer descobrimos que as beldades pagaram o equivalente a
quase cinquenta mil reais pelo líquido seminal do tal macho espadaúdo de trinta
anos incompletos oferecido na “homepage” de uma empresa especializada em
produção assistida. Ambas receberam a amostragem pelo correio. O responsável
pela felicidade dessas criaturas é a “New Life”, com sede na Califórnia. Nada
em comum com a nossa “Blu Life”. Mas observem: elas adquiriram apenas a prova
material, ou seja, a porra.
O varapau, que fez a pior parte (desde o ato de se
concentrar até o descascar da banana na frente de uma gostosa nua em pelo), não
foi enviado, até porque os patenteadores da ideia chegaram à conclusão que “se
fosse empacotado o homem, junto, certamente os clientes optariam em ficar com
ele. Seria, pois, um ‘mau’ negócio para a Agência. Ademais, despachando só o
gozo, o mesmo garanhão servirá para engravidar futuras necessitadas e carentes
em todo o planeta’”.
De posse da substância produtora, a mais nova da
dupla, de 25 anos (a outra passa dos 28), recebeu a ejaculação adormecida por
inseminação artificial. Identificadas somente por Pabla e Samantha, elas
contaram ao “Daily Telegraph” que “tentaram, sem sucessos, durante três anos e
somente no Natal de 2017 obtiveram êxito”. O fato é que os ginecologistas e
obstretas consultados, não deram no coro nem no couro. Um chegou a cogitar que
as Trompas de Falópio ou os tubos contráteis da Pabla tinham o colo ou a
cavidade do útero virado para o orifício anal. Em vista disso, o bebê poderia
nascer com cara de bunda. Apesar do disse-me-disse, a cria (por sinal do sexo
feminino), abriu os olhos para o mundo nove meses depois e, segundo os
especialistas que cuidam do caso, a criança “coroou” perfeita e passa bem.
Para aqueles que viram o “Fantástico”, da Rede
Globo ou o “Domingo Legal”, do SBT, sabem que não estamos contando mentiras.
Trouxemos à baila esse caso, a título de ilustração, com a finalidade única de
fazer com que as senhoras e os senhores entendam que não podemos permanecer
estáticos. Em dias atuais, se faz obrigatório metermos nossos bedelhos em
constantes processos de reciclagens acompanhando as evoluções que surgem a cada
novo minuto. Não está longe, o dia em que ocuparemos as redes da Internet vinte
e quatro horas ininterruptamente. A partir de então, viveremos do acordar ao
voltar a dormir, como bonecos monitorados por controles remotos. Todavia,
apesar dos pesares, procuremos encarar a nova coisa tecnológica pelo lado bom e
prático. Já imaginaram quanta beleza e comodidade não precisarmos sair às ruas
em épocas eleitorais?
Escolheríamos confortavelmente sentados em nossos
sofás, tomando aquele cafezinho esperto ou entornando uma cervejinha
estupidamente gelada, os vereadores, os prefeitos, os deputados, os
governadores, os síndicos dos prédios, e até os presidentes da nação. Por que
não?! Uma das muitas vantagens seria a de que não correríamos o risco de
prisões em flagrante por estarmos ingerindo uns traguinhos nos botecos das
praças e esquinas. Por conseguinte, não seríamos assediados por um bando de
chatos de galochas com santinhos às portas das zonas pedindo por tudo quanto é
mais sagrado que se votasse nesse ou naquele cafajeste. As ruas não ficariam
cheias de papéis amontoados e os lixeiros teriam menos trabalho na recolha dos
entulhos.
Pensemos mais à frente um bocadinho: vejam a
praticidade dos milhares e milhões de aposentados que também sairiam ganhando.
Ganhando e lucrando. Esses coitados não mais necessitariam acordar cedo para
enfrentarem e agarrarem os melhores lugares nas filas quilométricas dos bancos
para receberem seus salários. Bastaria a esses filhos de Deus, acomodarem o
traseiro na frente de uma telinha, apertar meia dúzia de teclas e pronto. O
dinheiro viria para a conta bancária e dela (através de um motoboy registrado e
carimbado pela instituição financeira), num passe de mágica, para as mãos dos
respectivos pensionistas. Isso sem precisarmos mencionar que uma enormidade de
criaturas não passaria pelo vexame da discriminalidade (na hora de ingressarem
nos bancos, se esquivariam das portas giratórias sisudas, disfarçadas de
seguranças amedrontados) que as pessoas dizem não existir, mas estamos carecas
de saber, a coisa nesse país não funciona nem com e nem por reza forte.
Com a saúde pública não seria dissonante:
acabaríamos, com a desgraça do SUS (Sistema Único Sucateado), e, de roldão, com
o inoperante cabide de empregos, o INSS, ou (Instituto Nacional dos Salafrários
e Sacripantas). Os doentes não mais se submeteriam aos corredores frios dos
hospitais, aos bancos dos ambulatórios, as enfermeiras desatenciosas e outros
inconvenientes de um sistema que sabemos falido e sucateado. Os pacientes
enviariam um e-mail com seus problemas mais prementes para seus médicos e eles,
do outro lado da cidade, ou nos quintos do inferno aviariam as receitas sem
precisarem levantar as bundinhas de suas confortáveis cadeiras.
Tudo sem complicações. Por certo, seria bem
diferente do quadro que comumente estamos acostumados a presenciar nos grandes
centros de triagem, onde os especialistas geralmente nem olham para os rostos
das criaturas. Eles vão escrevendo a receita, muito a contragosto, de má
vontade e tchau! Para terminarmos,
pensem em quão interessante viria a ser a Internet na hora de se ter cometido um
crime bem hediondo. Tipo o Feminicídio ou o Bucetonicídio. Depois de consumado
o fato, poderia ser contratado um advogado sem sair do quarto ou da sala. O
delegado e o escrivão presidiriam o inquérito sem arredarem os pés da
chefatura. E o melhor, sem pedir propina. Tudo muito cômodo. Na esfera
judicial, o mesmo procedimento perante o juiz e o promotor. Se, por azar
houvesse uma condenação para o criminoso e o “capinha preta” expedisse uma
ordem de prisão imediata, mandando um oficial de justiça, juntamente com a
polícia bater às portas do infeliz...
Ah, um detalhe de suma importância: se o advogado
fosse um filho da puta corrupto, bem como o magistrado, o promotor, e o
delegado e, nesse interregno de tempo, “armassem” uma arapuca para prenderem o
réu ou a ré, e hipoteticamente tocassem a campainha em suas casas, antes do
tempo previsto, sem chances de uma fuga, a alternativa seria disfarçar o
criminoso ou a criminosa de Temer ou Raquel Dodge. Se sapatona vestiriam nela
as máscaras de Dilma ou Carmem Lucia, ou na falta de uma dessas merdas, de
algum parlamentarzinho da câmara ou do senado. Bufões e girofales não faltam no
puteiro. Com certeza o acusado ou a acusada (seriam levados ou conduzidos) com
toda pompa e majestade para uma cidadezinha conhecida nos meios jurídicos como
“LUGAR INCERTO E NÃO SABIDO”. E o resto... o resto, caros amados, que se
“fudesse...”.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Paraty, no Rio de Janeiro.
21-5-2019
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