Carina Bratt
A poesia (só a poesia) usada nas minhas
“Danações” de hoje, bem como a música (gravada por Roberta Miranda), são de
autoria de João Dias, nosso amigo de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
Para Aparecido
e senhor João Dias, com carinho.
“Entre as
nuvens e as estrelas
percebi
que era você.
De
repente foi embora,
a razão
não sei por que”.
A nostalgia de fato bateu. “A razão não sei por que”. Bateu,
investiu forte, entre nuvens e estrelas, a ponto de flagelar meu corpo. Meu
rosto não tinha esses olhos melancólicos, de visão estreita, de lágrimas
desbotando minha pele. Percebo que não estava preparada para recepcioná-la. Acho
que ninguém está. Nostalgia nunca vem sozinha. Sofri, chorei, caí num ermo
isolado, longínquo, deserto e árido. Um
degredo inconsistente, pesado, denso e febril me envolveu. Sozinha, me vi
vazia, oca, relegada a um exílio despovoado. Sem ninguém, sem chão, tipo barco
à deriva desbussolado num mar imenso e revolto. “A razão não sei por que”.
“Cada um tem um destino
às vezes
até descontrolado
o
importante é ser feliz
mesmo que
não esteja do meu lado”
E, de fato, você não estava. Deixei de ser feliz. Destino?
Talvez! Quando você se fazia aqui, a nostalgia se mostrava presente. Carente, envolvente
e baldada. Era, porém, um anseio gostoso, caliente e meigo. Um leve pesar afável,
moderado, de pouca intensidade, que se dissipava toda vez que você chegava. Não
havia aquela outra variação pujante, denodada, robusta e potente. Inexistia a
alteração, a mutação ingrata e medonha. Não
havia, porque você saía de manhã e volvia à tarde, se reembolsava para meus
carinhos como quem se restaura para o trabalho dia seguinte e fim de noite retorna.
“A saudade é um segredo
que fica
marcada no meu coração
se um dia
você aparecer
vou
explodir de paixão”
Agora não é mais um segredo. Tudo mudou. Houve uma
reviravolta medonha, enfadonha, tristonha e infame. Uma saudade que se
agigantou. Ficou marcada no meu coração. Cresceu enraizada em meus destroços e
aos percalços da minha alma frangalhada. Meu céu interior se desprendeu do
espaço que o retinha e caiu mastigando o avesso de uma geometria invulgar, que,
de igual forma, também se espatifou com a ausência que ficou como o vazio que
engrandeceu e como a tristeza que se quadruplicou à minha volta. Apesar desse
contratempo, acredite, “vou explodir de paixão”. A nostalgia não vai me vencer.
Não vai. E você vai aparecer...
“A
solidão vai embora
não deixa
minha vida vazia
traz pra
mim bem depressa
quem eu
amei noite e dia”.
Quem eu amei noite e dia, dia e noite, se transformou em um vendaval
surgido do nada. Percebi em meio a tudo isso, que ventos fortes sopraram,
destruindo meus sonhos, meus devaneios, meus segredos que só você conhecia. Não
passo, agora, de uma construção abandonada, capenga, esqueletada, ossificada de
quimeras construídas sobre areia movediça. Sou ruína. Virei devastação,
imensidão, escuridão, desilusão. Fiquei assim: confusão de desencontros no cais
do meu próprio eu entorpecido.
“A
solidão vai embora
não deixa
minha vida vazia
traz pra
mim bem depressa
Quem eu
amei noite e dia”.
Cada um tem seu destino, eu sei. O meu foi amar. Amar você
em segredo, em demasia ilimitada. Amar num esboço de degredo que se mensurou. Mas
espere! Existe a esperança. Ela nunca morre. Se um dia você aparecer, voltar,
eu reagirei. Claro que reagirei! Sairei do poço escuro, onde me acho
mergulhada. Voltarei a ser aquela massa integra plena e serena. Feliz,
cicatrizarei feridas em erupção. Estancarei o sangue que escorre, me cobrirei de
venturas e de paz interna. Felicidade incontrolável que na inteireza do meu gostar,
fará, de novo, o nosso passado junto com a nossa história transbordarem de pura
paixão.
“A
solidão vai embora
Não deixa
minha vida vazia
Traz pra
mim bem depressa
Quem eu
amei... amei, amei, amei noite e dia”.
E aí está, ou melhor, aqui está o milagre. A solidão foi
embora. A devastação idem. De vez, espero! Não importa. Vale o agora. Você
chegou. Por certo, inquestionavelmente explodirei. Você chegou. Se faz
presente. Você é o meu “aqui pulsante”, o meu hoje, o meu amanhã. Vou me explodir,
aliás, VAMOS NOS detonar, nos espocar, nos estrondar de PAIXÃO. Sem mais
delongas, me abrace. “Não deixa minha vida vazia”. Se entregue. Me toque me
pegue, me consuma. Continuo como antes... sendo seu rio de águas claras, seu
rio que se alaga, que avança que cresce que se funda, que se entrelaça, que se
abisma, que se atarraca, que se embrulha e atordoa QUANDO TRANSBORDAMOS...
“Entre as
nuvens e as estrelas...”.
Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha Espírito Santo, 26-5-2019
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