Na esteira da Reforma
protestante, a fé em si basta para estreitar-nos e comunicar-nos com Deus. As
boas obras são os frutos dessa fé. Teólogos modernos ensejam uma virada
teológica mais liberal contrapondo-se à tradição cristã do culto a um Deus
eminentemente transcendente. Estaria a Igreja do Papa Francisco sinalizando
para esta nova tendência teológica?
O “sola fides” (só pela fé) é
o que fundamentaria essa virada teológica. Os teólogos Karl Barth e Rudolf
Bultmann, por exemplo, se colocam nessa linha... Outro teólogo, Dietrich
Bonhoeffer, amplia ainda mais essa teologia, opondo-se ao sectarismo religioso
donde se originam muitos conflitos. Neste sentido, a hegemonia da fé unificaria
todas as religiões em uma só Igreja confidente.
Assim, nessa perspectiva,
nasce uma nova teologia que está angariando adeptos e se afirmando na
modernidade. Grosso modo, essa nova teologia dispensa as religiões. Portanto, a
fé não necessariamente está atrelada a uma religião; isto é, a religião não é
condição para a fé, ela está acima de qualquer religião.
Afirmam os novos teólogos que
o homem moderno saiu da menoridade em que se encontrava, sentindo-se protegido
e acompanhado pelo zelo doutrinário de autoridades que, supostamente, detinham
verdades religiosas pela interpretação das Sagradas Escrituras. Não mais,
afirmam; o homem moderno tornou-se adulto e é sua própria autoridade no que diz
respeito à fé em Deus, e como relacionar-se com ele. Sua razão lhe diz que a fé
não se pauta em transcendentalismo incompreensível e intangível, mas foca-se no
centro do homem e do seu mundo.
É na existência que sua fé vê
Deus no mundo com o qual se relaciona. Deus não opera do mundo transcendental,
não se coloca no sobrenatural, ele pertence ao mundo natural onde acontece a
existência humana.
Deus é considerado como vontade
de viver imanente à vida neste mundo. Deus e mundo são inseparáveis, perfazem
uma única realidade. Cristo representa essa realidade única. Realizar Cristo
pela fé é unir a realidade de Deus e a do mundo. Significa realizar
autenticamente nossa existência.
O natural da vida – a unidade
Deus/mundo – não supõe que o homem deva praticar inconteste algum tipo de
religião com vistas a vislumbrar um mundo sobrenatural, mas simplesmente ver-se
às voltas com este mundo natural. O que deve incentivar o ser humano a levar
uma existência autêntica é saber que Deus está metido neste burburinho da vida
junto com ele e o convida a exercer o amor.
O amor é o fundamento
existencial do homem. Jesus é considerado o protótipo de homem que realizou
Deus neste mundo porque sua vida foi só amor – ser-para-o-outro. Jesus
experimentou a existência humana despojando-se de sua divindade para
conquistá-la como homem. Daí poder-se
dizer não Deus-Jesus, mas Jesus-Deus.
A tradição cristã ficou presa
na idolatria de um Deus transcendente sem um vínculo imanente com o mundo. Por
isso o enunciado de Nietzsche “Deus morreu” tem o sentido, para a teologia
moderna, de abolir o transcendentalismo mitológico e adotar a postura teológica
de trazer Deus para centro do homem e no seu mundo. Ver a desmitologização de
Bultmann...
Portanto, Deus no mundo,
atuando entre os homens é a nova perspectiva teológica. Deus e o homem são
sócios na empresa EXISTÊNCIA. A vivência, o trabalho e o sofrimento são
compartilhados entre Deus e o homem conjuntamente. Portanto, a história do
homem se faz neste mundo com Deus ao seu lado. E é pela fé nesse Deus telúrico,
alicerçada no amor, que nasce a esperança de um futuro de “Reinado de Paz” onde
imperará a igualdade racial, a paz entre as nações e haverá pão para todos.
Esta é a nova teologia apregoada por muitos teólogos modernos... Uma utopia?
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 19-8-2019
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É "sola fide" ou "sola fides"?
ResponderExcluirHABITZ excelente argumentação apenas será impossível.
ResponderExcluirJustamente pela diferente interpretação de "Sola Fide" que há entre protestantes e católicos.
"fé produz justificação e boas obras" protestante
"fé e boas obras rendem justificação" católica
"Ser declarado justo" ou "ser feito justo", é a justificação que os diferencia.
Pensando como um cidadão que coloca como centro político um presidente ou um ditador, ambos honestos, coisa difícil, creio que declarar obras justas ou fazê-las justas são diferentes.
O ladrão de 9 dedos declarou grandes obras justificadas, mas não as fez ou não as implantou. Outros fizeram obras não justificadas.
Creio que é melhor olharmos sempre pelo lado justo do diário oficial dos governantes e dos religiosos.
O justificável e feito é mais importante do que as palavras.
fui...