domingo, 4 de agosto de 2019

[Pensando alto] Acre versus Texas e a Cavalaria Grapiúna

Pedro Frederico Caldas

Uma nação forte nada tem a temer da antipatia dos estrangeiros; uma nação fraca nada deve esperar da simpatia deles.
Max Nordau

Itabunenses chamam ilheuenses de papa-siri; ilheuenses chamam os itabunenses de papa-jaca. Nesse contexto de divertida e emulativa disputa, os grapiúnas (povo do entorno de Itabuna) teriam como símbolo uma jaca.

Fui doutrinado no ginásio por gente que eu achava culta e que sabia das coisas, oriunda da esquerda estudantil. Ensinavam que os Estados Unidos eram imperialistas e tinham roubado o Texas do México. Dentre outras bobagens, essa era minha convicção, insuflada por alguns colegas mais velhos, mais adiantados e “cultos”, gente que bem retratei em um dos primeiros textos que aqui escrevi, intitulado “Travessia”, em que procuro demonstrar o processo de captação, do ginásio à faculdade, de mentes jovens por esquerdistas mais velhos. Uma vez doutrinados, passamos a doutrinadores e... la barca va. Vale a pena dar uma lida, é bem pedagógico. Voltarei ao tema, mais adiante.

A nossa infância foi embalada por orgulho patriótico retratado nos versos de Olavo Bilac: “Ama, com fé e orgulho, a terra em que nascestes! Criança! não verás nenhum país como este!” Era um orgulho danado da imensidão continental do Brasil. Tudo indicava um futuro radiante, logo ali na frente, à espera de todos nós. Nossos conquistadores, os bandeirantes e, antes e depois deles, todos que contribuíram para aumentar e garantir o território nacional eram considerados heróis e assim eram venerados.

Tempus fugit, como diziam os romanos, e assim o tempo daquela ingênua certeza se foi sucedido por tempos de incertezas. Como no paradoxo retratado na disputa entre Aquiles e a tartaruga, parece termos acelerado, parece irmos em velocidade superior à do alvo perseguido, mas nunca chegamos lá, sempre deixamos de fazer a coisa certa ou a fazemos pela metade. Os estranhos dias ora vividos provam isso. Resiste-se às reformas indispensáveis para o povo esquálido, já vergado, continuar carregado um Estado de obesidade mórbida nas costas.

Há, meus amigos, nos tempos que correm, uma tentativa de revisionismo da história. Há muita gente com dedo em riste julgando os homens que fizeram do Brasil um verdadeiro continente.

Crie um ONG, xingue o passado, esculhambe nossos heróis e não precisará trabalhar. Viverá de enxovalhar a história. O Brasil não nasceu com o tamanho de hoje. Tratei disso em texto intitulado “Fatos Históricos, o Brasil Colossal, a Esquerda Caviar e D. Sebastião”.  Esse texto pode ser lido dentre os que já foram publicados. Acredito valer a pena dar uma olhada.

Esses julgadores não passam de pessoas de lencinhos perfumados, embalados por whisky on the rocks, em papos de mesa de bar ou convescotes elegantes em petit comité. Conseguem encher o saco, mas não mudarão a História. Esta permanecerá indelével. Vez por outra, conseguem criar, por exemplo, índios de araque para ocupar terras já desbravadas e devidamente lavradas. Esse tipo de índio, que nunca pisou ou pisará uma floresta, se torna uma espécie de funcionário público, passa a viver à tripa forra do imposto pago pelos chamados “brancos invasores”. O Sul da Bahia, a exemplo de várias partes do País, é uma espécie de museu a céu aberto desse vigarismo político-antropológico.

A anexação do Acre ao território brasileiro é fato histórico bem conhecido de todos nós. Gente do Brasil, principalmente seringueiros, ocupou vasto e inexplorado território da Bolívia. Esse tipo de ocupação, traduzida em colonização de áreas de um país por gente vinda de país diferente, gerou, ao longo da História, fatos consumados, rotulados pelo direito romano de uti possidetis, verdadeiro fato jurídico circunstanciado em posse bruta, mas passível de ser transformado em direito de posse (ita possidetis).

Formada e radicada tal população, normalmente em número bem maior do que a população autóctone, cria-se a base para movimentos separatistas. Houve mais de uma tentativa, no Acre, repelidas por tropas bolivianas, até que o militar gaúcho José Plácido de Castro, no comando de homens destemidos, inicia, em 1902, a revolução acreana, toma todo o território reivindicado e proclama a República do Acre.

Pelo Tratado de Petrópolis de 1903, liderado pelo grande Barão do Rio Branco, o Brasil indeniza a Bolívia em dois milhões de libras esterlinas e se compromete a construir a ferrovia Madeira Mamoré. Por honestidade histórica, devo sublinhar que a ocupação do Acre por brasileiros se deu não em cima de uma colônia espanhola, em terras pertencentes à Espanha, pois a Bolívia já era independente desde 1825.

Dito isto, agora vou fazer uma inconfidência. Revelo a vocês que o Brasil já tem gente infiltrada para uma nova conquista territorial, como veremos ao final. Mas advirto que isso é verdadeiro segredo de Estado, não passem adiante.

Isto posto e feito o tour pelo Acre, que tal agora dar um passeio no Texas?

Vamos lá?

A independência do México foi obtida em longa e duradoura luta, travada de 1810 a 1821, contra a Espanha. Em 1820, a coroa espanhola concedeu a Moses Austin, homem de negócios americano, direitos para colonizar vasta extensão territorial onde hoje é o Texas. Com sua morte, ocorrida no mesmo ano em que o México finalmente consolidou a independência, os direitos passaram para seu filho Stephen Austin.

 Por volta de 1830, Austin, capitalista sempre cordato com as autoridades mexicanas, já tinha assentado mais de cinco mil colonos americanos, os cowboys das nossas velhas matinées. Nessa época e nessa área, já havia uma população de trinta mil pessoas, três quartos das quais eram americanos, pessoas libertárias, acostumadas a governo livre e democrático de um país estável, embaladas pelo sonho de grandeza americano. Era mais que natural se sentirem americanos porque americanos efetivamente eram. Não vou retratar para vocês aquilo que vocês já viram em inúmeros filmes sobre o tema. 

Contrastando com a estabilidade americana, o México era um sismo político, uma só instabilidade. Dentro dessa tradição de instabilidade, eis que assoma o governo mexicano (1829) um general caudilho chamado Santa Anna, bem ao estilo latino-americano.

Ditador no México, ditador, por extensão, nas terras dominados pelos cowboys americanos, gente de vida livre e indômita. Tenta impor sua vontade ditatorial através de impostos e restrições de toda ordem aos libertários americanos, que se insurgem, liderados por Sam Houston e proclamam a República do Texas em dezembro de 1835.

O general Santa Anna lidera um exército de cinco mil homens e começa a invasão da área insurgente em fevereiro de 1836. A guerra de independência do Texas foi breve. As tropas de San Huston derrotam o exército mexicano e capturaram o próprio Santa Anna. A independência do Texas foi aceita, de fato, pelo conformado México. A República do Texas perdurou por dez anos como país independente, adotando na sua bandeira uma estrela solitária, símbolo que ficou conhecido como The Lone Star.

Acontece que, passados dez anos, o Texas, uma república de americanos, foi, como destino natural e por vontade de ambas as partes, incorporado aos Estados Unidos.

O México, que aceitava o fato da existência da República do Texas, não aceitou a incorporação do novo país pelos Estados Unidos. Veio a guerra entre os dois países. Ao cabo dessa guerra, o México, vencido, fixou as atuais fronteiras com os Estados Unidos, recebeu quinze milhões de dólares de compensação, além da assunção, pelos Estados Unidos, de uma dívida do México para com americanos de mais de três milhões de dólares

A esquerda brasileira, boneco de ventríloquo da esquerda internacional, continua malhando, em sua guerrilha ideológica, as conquistas históricas dos Estados Unidos, como se fosse possível reverter a história e seus acontecimentos para entregar ao México o rico estado do Texas. Sob a conquista do Acre, silêncio obsequioso. O Brasil não é considerado país adversário. Por esses mesmos críticos, o Acre é inelutavelmente território brasileiro, fato pronto e acabado, ratificado em tratado entre o Brasil e a Bolívia, e não se fala mais nisso. Atitude certíssima.

Aqueles que movem essa guerrilha ideológica contra as conquistas territoriais americanas nada falam de como os russos conquistaram seu imenso território; não falam que sessenta por cento do território chinês pertence a outros povos. Não, jamais farão isso, ainda se sentem, de uma forma ou de outra, órfãos desses países. Os Estados Unidos continuarão a ser o judas a ser malhado e o Brasil, também conquistador, alvo de benevolência. Mas, como observa Max Nordau, assim como os americanos não serão atingidos pela antipatia dessa turma, o Brasil nada deve esperar da simpatia deles. 

Desta forma, acho e proponho que os brasileiros devem aproveitar essa simpatia dos mesmíssimos que atacam os Estados Unidos para empreender novas conquistas territoriais, cujo objeto já tenho em mente e de cuja conspirata em andamento estou bem informado.

Há algumas décadas, grandes contingentes de valorosos grapiúnas, em sua maioria oriundos de Itabuna, apossaram-se, gradativamente, de boa parte do Texas, especialmente o entorno de Dalas e Houston, capitaneados pelo meu amigo Albérico Da Costa Brito. Soube que estão conspirando para decretar a independência de uma grande área, a ser batizada com o nome de República Grapiúna do Texas, sob o comando, lógico, de Albérico, nosso redivivo San Huston grapiúna infiltrado. Consolidada a nova república, será um fato natural, após a expulsão dos mexicanos remanescentes, incorporá-la mais tarde ao Brasil. Como os grapiúnas somos conhecidos como “papa jaca” e como a história pode-se repetir, segundo Marx, como comédia, a bandeira, proponho, adotará uma jaca, símbolo que será conhecido como The Lone Jaca.

Avante grapiúnas, conquistemos o Texas!

Um bom domingo para todos.
Título e Texto: Pedro Frederico Caldas, 5 de maio de 2017

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