quinta-feira, 18 de junho de 2020

Análise de conjuntura: o que fazer diante da presente ameaça do STF à democracia?

Cristian Derosa

Estamos em meio a uma guerra por mais uma Independência do Brasil. A independência de movimentos externos que, no momento, se apresentam em duas frentes: o Foro de São Paulo e a elite internacional globalista.

O Foro de São Paulo tem como seu agente atuante o STF, na pessoa de Alexandre de Moraes, que serve aos dois blocos conjuntamente, através da estratégia dialética baseada na:

Foto: Agência Brasil
1) neutralização das vozes conservadoras, base popular de apoio a Jair Bolsonaro através da perseguição de jornalistas e estrangulamento da liberdade das redes sociais, e
2) ao mesmo tempo, empurrar o presidente para uma ação que seria interpretada como golpe, símbolo narrativo que ativaria a radicalização da esquerda, justificando exatamente um golpe do establishment.

Este é um dilema do presidente, mas também indica um dilema aos seus eleitores e apoiadores, o que demanda conhecimento e muita perspicácia para ponderar o que esperar, o que fazer, onde e quando agir.

A natureza contraditória e excludente das duas ações promovidas pela esquerda, cria uma tensão que, em muitos sentidos, paralisa a ação conservadora, dividindo-a em dois lados, cada um apoiando a resolução prioritária de um dos dois problemas, o que significa aceitar as consequências do outro. Esse é um terceiro problema, oculto entre as duas ações simultâneas promovidas pela esquerda.

À maneira das análises de conjuntura marxistas, a identificação dos agentes principais e das suas possibilidades, tem como função identificar os caminhos e potências dentro de um cenário político específico, tendo em vista a conjuntura histórica e política. Vendo as duas ações simultâneas do inimigo, concluímos logicamente que o ataque a um dos dois problemas resultará em benefício do agente, por melhor que seja feito. Mas essa conclusão pertence ao campo teórico, não sendo possível prever na realidade o resultado. Isso é o que justifica uma visão dialética das possibilidades.

A opinião pública é um lugar de disputa, um campo no qual ocorre uma luta diária pelo controle. Na tese da Teoria do Agendamento, que estuda a transferência de agendas ou preocupações e atenções na sociedade, há a agenda midiática, as agendas políticas e, concorrendo com elas, a agenda governamental. Essas três esferas lutam pelo controle e determinação do que vem a ser a opinião pública ou agenda pública, conjunto do que é importante, com seus conceitos e legitimação de usos. Fora disso tudo, à parte de tudo, esteve sempre o povo, a sociedade concreta, que é em grande parte determinada pelo estágio e teor dessa luta incessante. Essa sociedade concreta só se manifesta historicamente quando há um intermediário que a represente, um discurso que ela identifica e que se identifica com ela.

Pelo controle da opinião pública, no Brasil atual, lutam as forças globalistas, que controlam hoje as agendas político-ideológicas (PT, PSDB, centrão + mídia) com amplo poder de financiamento para uso de ONGs, movimentos sociais e fornecedores de conteúdo narrativo e poder de publicidade, influência política etc.

De outro, temos a agenda do Governo Bolsonaro, eleito pela primeira vez por um movimento espontâneo vindo de uma revolta legítima da própria sociedade em defesa de seus valores e que se vê profundamente representado. Desde o início deste governo, porém, faltou a ele uma agenda política, no sentido de instrumentos políticos de concorrência na opinião pública, restando às redes sociais esse papel.

Desde as eleições, muitos acreditaram que as redes sociais eram suficientes para intermediar essa voz externa e a favor do governo. Dela vieram os sites de mídia independentes, que buscavam ser esse intermediário. A pouca força que alcançaram foi suficiente, apenas, para que se tornassem alvo de CPMI e inquéritos persecutórios. Justamente por saberem o poder contido neste tipo de intermediação midiática, os representantes do sistema empenham grande esforço contra esses sites e vozes de suporte ao governo.

O governo não pode, democraticamente, agir em linha direta na opinião pública. Isso caracterizaria uma ditadura. Mesmo em regimes totalitários, governos se utilizam de instrumentos que falseiam uma “voz independente” ou externa ao regime. Na democracia, embora seja o governo do povo, a sociedade necessita de instrumentos de influência na opinião pública. Isso demanda sites, jornais, entidades e personalidades que a representem. As redes sociais geraram a mídia independente. Mas ela nunca foi fortalecida o suficiente e, agora, vem sendo perseguida pelo pouco que conquistou em defesa do governo.

A solução neste momento, portanto, diante da ausência de um meio legítimo de influência na opinião pública em favor da agenda popular que foi eleita com este governo, parece ser a ação do próprio governo, o que resultaria na conclusão lógica de uma ditadura. Ora, não tendo os meios de agir indiretamente, por meio da própria população que o elegeu, cabe apenas ao presidente agir, criando condições para a narrativa de uma ditadura, de um golpe autocrático.

Não podendo agir concreta e claramente, porém, uma outra solução se mostra possível: a ambiguidade para dividir o poder simbolicamente. Esta é a tática por trás das ações do inimigo neste momento e usá-la em resposta pode ser a única solução.

O Supremo Tribunal Federal vem agindo contra diversas medidas do presidente, o que significa que as considera ilegítimas, o que pode ser ambiguamente estendido à autoridade do próprio presidente e do governo. Como vem lembrando o filósofo Olavo de Carvalho, se o STF considera ilegítimo o presidente da República, a legitimação deste àquela autoridade usurpada só pode resultar em uma aceitação de guerra assimétrica e um suicídio, bem como abandono voluntário do cargo de facto.

Ao deslegitimar os usurpadores (STF), por meio de ações pequenas, mas legalmente válidas e simbolicamente efetivas, o governo concede a seus apoiadores o poder de obedecer somente a ele, dividindo o país em uma autoridade ilegítima contra uma legítima.

Quando a China caiu nas mãos dos comunistas, os nacionalistas que lutavam pela retomada do país tiveram que fugir para a Ilha de Taiwan, declarando-se como a República da China, em repúdio ao regime que se declarava “República Popular da China”, governo por eles não reconhecido até hoje.

Se algumas ações do governo sinalizarem a deslegitimação do poder do Supremo, isso daria aos seus apoiadores que se veem perseguidos, um poder narrativo e por extensão político, não para criar um governo paralelo (o que caberia ao governo e dependeria de outras ações), mas uma opinião pública paralela e coesa em torno do verdadeiro país que está sendo usurpado.

Todas as esquerdas fazem precisamente isso e não é por outro motivo que tomam o poder e oprimem seus adversários. Acreditam-se proprietários do país que usurpam e falam em nome de um povo imaginário, representado por seus militantes. A verdadeira sociedade, porém, dificilmente detém os meios para fazer isso. Com as redes sociais, a consciência de valores universalmente válidos, como o cristianismo, os conservadores podem sonhar suplantar e vencer o próprio globalismo.

E toda a política precisa ser pensada assim. Afinal, o quanto vale aquilo que acreditamos?
Título e Texto: Cristian Derosa, Estudos Nacionais, 17-6-2020

Um comentário:

  1. Ato falho: Folha admite que inquérito é contra bolsonaristas, não fake News

    Sem nunca ter apresentado uma única mísera notícia falsa dos investigados, Folha já admite que o maior crime a ser punido no Brasil é votar no Bolsonaro

    A Folha de S. Paulo publicou ontem, 17, um artigo sobre a reunião da Suprema Corte para legalizar o inquérito das fake news do ministro Alexandre de Moraes.

    Ao tentar explicar a sessão do STF, o jornal entregou, no titulo, a real intenção do inquérito: a perseguição a apoiadores de Bolsonaro, e não a quem propaga fake news:

    STF forma maioria pela legalidade do controverso inquérito das fake news que mira bolsonaristas”, diz o título da matéria escrita por Talita Fernandes.

    Oliver, Senso Incomum, 18-6-2020

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