domingo, 16 de agosto de 2020

[As danações de Carina] Triangulação passiva

Carina Bratt

Minhas amigas, me chama a atenção, ou melhor, me intriga deveras, a placa em cartolina branca com os dizeres em letras garrafais desenhadas a mão livre pendurada à entrada de um estabelecimento comercial aqui perto de onde moro: “COMBO DO DIA. 1 Espresso Médio + 1 Esfirra. R$ 12.98”. Diante desta cartolina me embasbaco: Fico me perguntando: o que é um Combo?


Algum parente distante da Kombi? Ou primo em segundo ou terceiro grau, ou quem sabe até irmão, tio, marido ou sobrinho? Possivelmente não, até porque aprendi a ler e a escrever Kombi com K e até ontem se escrevia com “K”. Este Combo com “C” deve ter surgido da mente de algum mestre tipo o Professor Pardal ou um outro aloprado ou cegueta qualquer do português inexistente.

São tantas as palavras estranhas à nossa língua, que às vezes penso estar vivendo num planeta de Polo Wear. Antes que vocês respondam, queridas amigas, aqui vai a pergunta que não quer calar: o que é Wear? O espaço aqui onde estou, no shopping sinaliza que tem Wi Fi no ar.


O que quer dizer, na nossa língua mãe, ou na língua que usamos a palavra Wi Fi? E por que não ifi, escrita simplesmente assim? I Efe i?. Pior é como se pronuncia. A moda mineira: Uai fai. No meu tempo de menina, a gente chamava os gorduchinhos de bunda larga. Hoje, além deles, temos a banda larga.

Em dias atuais, chamar o mesmo gordinho de bunda larga ou banda larga, se constitui em ofensa grave à pessoa, numa nova modalidade: o bullying.  E onde se meteu o bulin?  Vem do meu tempo, também, a grafia da palavra Quitinete. A quitinete do meu tempo de menina, se constituía numa moradia pequena, ou seja, uma sala dividida em sala e quarto, uma cozinha americana, e um banheiro. A Kitinete atual deve ser uma quitinete antiga que comeu móveis demais e engordou. 

Mamãe pagava as compras do mercadinho com dinheiro vivo. Hoje no lugar do papel moeda temos o PicPay, os Dotzs e uma série de cartões com as mais diversas bandeiras. As centenas de lojas dispostas nos centros comerciais chamavam a atenção dos clientes com nomes comuns, porém, chamativos.

Além de chamativos, elegantes, como “Luana só calcinhas” “Peças íntimas”, “Flor de Margarida”, “Homem Sério”, “Bazar de Coisas”, “Loja das Crianças”, “Bugigangas”, “Menina moça”, “Quinquilharias”, “Usadão dos Móveis”, “Tem tudo”, Noivas e Damas”, “Topa Tudo”, “Vem que tem”, Troca-Troca...”.

Convivemos,  nestes tempos de grandes epidemias, salpicadas com vinagrete à coronavírus com máscaras cirúrgicas, Aids ao molho de álcool em gel, gripe asiática com temperos de cheiro verde e hortelã, diabetes em saquinhos, cânceres enlatados, infartos em embalagens descartáveis, hipertensão e gripes em comprimidos  com  “Woman”, “Lu Bazaar”, “Movie Theater”, “Imput”, “Exit”, “Man”, “DJ (dijei)”, “Store jeans”, “The best”, Coffee”, “Snack bar”, “Ice crean shop”, “Television” e um uma dezena de outras “shit”. 

Não somos mais idiotas, ficamos mais “idiots”.  Trazemos no sangue a “Stupidity”. Não dispensamos uma boa “Selfie”, tampouco deixamos de comer a largas garfadas de um tal “ifood. Carro era carro, ônibus era ônibus, café era café, pai era pai, mãe era mãe. Nossa condução cotidiana virou “bus”, e nossos carros, “car”. Quando eu tinha cinco para seis anos, mamãe me levava para ver as rãs coaxarem na lagoa. Em dias atuais, as mesmas rãs coaching?!  

Por falar em mamãe, a minha mãe passou a ser “mother” e meu pai, “father”. Essas pequenas coisas simples viraram bichos de sete cabeças, ou melhor, “animal with seven heads”. Entenderam? Nem eu! Cá entre nós, minhas queridas amigas leitoras, bota sete cabeças nesses bichos todos.

Em resumo, entre unhas, bumbuns, seios e cílios postiços, cuecas com sabor de chocolate e outros “afins sem fim”, pensem, esses bons tempos do nosso, ou (do meu tempo) ficaram para trás. Como é que é? “Stayed behind?!    

Título e Texto: Carina Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 16-8-2020

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