Carina Bratt
Minhas amigas, me chama a
atenção, ou melhor, me intriga deveras, a placa em cartolina branca com os
dizeres em letras garrafais desenhadas a mão livre pendurada à entrada de um
estabelecimento comercial aqui perto de onde moro: “COMBO DO DIA. 1 Espresso Médio
+ 1 Esfirra. R$ 12.98”. Diante desta cartolina me embasbaco: Fico me
perguntando: o que é um Combo?
Algum parente distante da
Kombi? Ou primo em segundo ou terceiro grau, ou quem sabe até irmão, tio,
marido ou sobrinho? Possivelmente não, até porque aprendi a ler e a escrever
Kombi com K e até ontem se escrevia com “K”. Este Combo com “C” deve ter
surgido da mente de algum mestre tipo o Professor Pardal ou um outro aloprado
ou cegueta qualquer do português inexistente.
São tantas as palavras estranhas
à nossa língua, que às vezes penso estar vivendo num planeta de Polo Wear.
Antes que vocês respondam, queridas amigas, aqui vai a pergunta que não quer
calar: o que é Wear? O espaço aqui onde estou, no shopping sinaliza que tem Wi
Fi no ar.
O que quer dizer, na nossa
língua mãe, ou na língua que usamos a palavra Wi Fi? E por que não ifi, escrita
simplesmente assim? I Efe i?. Pior é como se pronuncia. A moda mineira: Uai
fai. No meu tempo de menina, a gente chamava os gorduchinhos de bunda larga.
Hoje, além deles, temos a banda larga.
Em dias atuais, chamar o mesmo
gordinho de bunda larga ou banda larga, se constitui em ofensa grave à pessoa,
numa nova modalidade: o bullying. E onde
se meteu o bulin? Vem do meu tempo,
também, a grafia da palavra Quitinete. A quitinete do meu tempo de menina, se
constituía numa moradia pequena, ou seja, uma sala dividida em sala e quarto,
uma cozinha americana, e um banheiro. A Kitinete atual deve ser uma quitinete
antiga que comeu móveis demais e engordou.
Mamãe pagava as compras do
mercadinho com dinheiro vivo. Hoje no lugar do papel moeda temos o PicPay, os
Dotzs e uma série de cartões com as mais diversas bandeiras. As centenas de
lojas dispostas nos centros comerciais chamavam a atenção dos clientes com
nomes comuns, porém, chamativos.
Além de chamativos, elegantes,
como “Luana só calcinhas” “Peças íntimas”, “Flor de Margarida”, “Homem Sério”,
“Bazar de Coisas”, “Loja das Crianças”, “Bugigangas”, “Menina moça”,
“Quinquilharias”, “Usadão dos Móveis”, “Tem tudo”, Noivas e Damas”, “Topa
Tudo”, “Vem que tem”, Troca-Troca...”.
Convivemos, nestes tempos de grandes epidemias,
salpicadas com vinagrete à coronavírus com máscaras cirúrgicas, Aids ao molho
de álcool em gel, gripe asiática com temperos de cheiro verde e hortelã,
diabetes em saquinhos, cânceres enlatados, infartos em embalagens descartáveis,
hipertensão e gripes em comprimidos
com “Woman”, “Lu Bazaar”, “Movie
Theater”, “Imput”, “Exit”, “Man”, “DJ (dijei)”, “Store jeans”, “The best”,
Coffee”, “Snack bar”, “Ice crean shop”, “Television” e um uma dezena de outras
“shit”.
Não somos mais idiotas,
ficamos mais “idiots”. Trazemos no
sangue a “Stupidity”. Não dispensamos uma boa “Selfie”, tampouco deixamos de
comer a largas garfadas de um tal “ifood. Carro era carro, ônibus era ônibus,
café era café, pai era pai, mãe era mãe. Nossa condução cotidiana virou “bus”,
e nossos carros, “car”. Quando eu tinha cinco para seis anos, mamãe me levava
para ver as rãs coaxarem na lagoa. Em dias atuais, as mesmas rãs coaching?!
Por falar em mamãe, a minha
mãe passou a ser “mother” e meu pai, “father”. Essas pequenas coisas simples
viraram bichos de sete cabeças, ou melhor, “animal with seven heads”.
Entenderam? Nem eu! Cá entre nós, minhas queridas amigas leitoras, bota sete
cabeças nesses bichos todos.
Em resumo, entre unhas,
bumbuns, seios e cílios postiços, cuecas com sabor de chocolate e outros “afins
sem fim”, pensem, esses bons tempos do nosso, ou (do meu tempo) ficaram para
trás. Como é que é? “Stayed behind?!
Título e Texto: Carina
Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 16-8-2020
Anteriores:
MB!
ResponderExcluirParabéns pelo texto. Continue assim, a me surpreender.
ResponderExcluirAparecido Raimundo de Souza, de Vila Velha ES.