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Foi divulgada ontem uma carta de apoio à carta dos bispos petistas contra o
presidente da república. Apesar de que se tenha publicado que havia mais de mil
padres signatários, a verdade é que houve 879 padres, 6
irmãos, 114 freis (dos quais não sabemos quantos são
ordenados) e 59 diáconos (dos quais não sabemos quantos são
permanentes).
Mesmo que o número possa
impressionar num primeiro momento, a verdade é que, num universo de 27 mil
padres, o número representa apenas 3,9% do clero brasileiro,
de modo que há ainda 96,1% dos padres que não coadunam
formalmente com esta radicalização e divisão. Ademais, a carta não revela
a idade média dos signatários, que, desconfiamos, será
bastante alta.
Em todo caso, o fator mais
importante para a análise do fenômeno não são os dados meramente estatísticos,
neste caso muito baixos e inexpressivos, mas são outros quesitos, que pensamos
serem mais determinantes:
Verdade objetiva.
Não podemos jamais equivaler a
ideologia com a realidade. As filosofias que enfatizam demais a narrativa ou
apenas as articulações dos discursos pressupõem a inexistência da verdade,
coisa que é flagrantemente mentirosa. A verdade não apenas existe, como ela é a
maior força que move o mundo. Esses padres podem protestar o quanto quiserem,
mas os seus protestos não terão o sufrágio do povo fiel exatamente por irem contra
os fatos, por serem incoerentes.
Tendência do processo histórico e o momento atual.
Um movimento popular que seja
contrário ao processo histórico em andamento não pode ter sucesso se não
estiver identificado com os sentimentos em voga na própria população. O petismo
e todos os movimentos que lhe são solidários recaíram sob a hostilidade do povo
como um todo. A própria CNBB recaiu sob a mesma hostilidade e está numa crise
de credibilidade na sociedade brasileira, depois de terem apoiado de modo tão
acrítico os movimentos de esquerda. Se esse processo não for revertido, a
Igreja perderá toda a sua credibilidade.
Adesão da opinião pública e índices de crescimento religioso.
Não existe no Brasil nenhuma
localidade em que exista um índice de crescimento da Igreja
Católica, enquanto os índices de crescimento das comunidades pentecostais,
intrinsecamente conservadoras do ponto de vista moral, não param de crescer.
Essa defasagem católica, causada pela teologia da libertação, não
poderá ser resolvida com mais teologia da libertação. Além disso,
essa defasagem, ainda mais representada por número tão pouco representativo do
clero, é maximamente pouco incisiva sobre a opinião pública.
Desmoralização intelectual da teologia da libertação.
Quando aconteceu o assalto da
Teologia da Libertação na década de 70, o povo católico não estava minimamente
preparado, ninguém sabia do que se tratava. Hoje, está todo mundo muito
advertido, inclusive pelo próprio Magistério da Igreja, de modo que a sua
tentativa de ação contra o laicato provocará uma reação proporcional do próprio
laicato, com o sepultamento definitivo desta ideologia, sepultamento que
lamentavelmente não aconteceu até hoje. O discurso da TL está desgastado, os
partidos de esquerda estão desmoralizados, não lhes resta senão o uso do jus
sperniandi. É justamente o que eles fazem com essas notas e cartas.
Efeitos colaterais.
Manifestações como essas não
são isentas de um efeito colateral importante, que é a localização de onde
estão os elementos de esquerda mais radicais no clero. O povo agora pode saber
quem são, onde estão e como atuam. Desta forma, a neutralização desses agentes
comunistas dentro da Igreja pode ser mais facilmente realizada pelo laicato,
não necessariamente de modo belicoso.
Divisão na Igreja.
Se a Igreja já está num
processo social de enfraquecimento, quanto mais se ela se dividir por questões
políticas tão ideológicas. A aposta do clero libertador é usar este momento
atual como ponto de ignição de um processo revolucionário
que detone a revolta na parte esquerdista do clero. Dentro dos
grupos libertadores, agora o debate é “como tirar os neutros de cima de muro” e
acirrar ainda mais o debate. Se os bispos morderem a isca,
começarão um processo de desgaste eclesial interno ainda maior que, somado aos desgastes
da epidemia, do abandono dos fiéis, das dificuldades pastorais presentes, será
insuportável e não poderá ter uma longa sobrevida. O corpo eclesial sofrerá
demais com o agravamento dessa divisão.
Uma análise calma e atenta nos
mostrará que, embora os inimigos históricos da Igreja estejam comemorando de
modo tão efusivo essas manifestações de racha e contenda, na verdade, o caminho
mais sábio e mais prudente não é este. A Igreja não está em condições para
enfrentar uma oposição generalizada, por dentro e por fora; ela já não goza
mais do prestígio que gozava justamente por embrulhar com suas bandeiras essas
máfias políticas; e, sobretudo, não podemos perder os fiéis que ainda nos
restam e que são amorosos, devotos, piedosos e sinceros.
Título e Texto: FratresInUnum,
31-7-2020
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“Trata-se de vocês”. Um leitor desabafa.
ResponderExcluirComentário enviado pelo leitor André.
Se eu pudesse falar a esses bispos brasileiros que assinaram esse protesto, se tivesse onde escrever para que eles lessem, eu diria o seguinte:
Senhores bispos,
Vocês serão marcados como a geração eclesiástica em cujo exercício a Igreja Católica afundou no Brasil.
Não se trata apenas de uma crise mundial na Igreja, onde vocês são mais alguns dentre todos os bispos do mundo vivendo em uma crise contemporânea, porque em inúmeros países onde o secularismo avançou mais que aqui, a queda não foi tão drástica (países em todos os níveis de desenvolvimento).
Não se trata de culpar o êxodo rural, a favelização, porque nesses novos ambientes as igrejas pentecostais tem construídos impérios.
Não se trata de culpar pontificados que não aprovaram suas ações ou não aprovaram as mudanças que você queriam, porque conflitos entre Roma e bispados locais aconteceram também como um fenômeno mundial.
Não se trata de um povo que mudou drasticamente e abandonou a fé e religiosidade, porque o povo brasileiro entrou pras seitas, algumas extremamente absurdas.
Não se trata apenas de um povo que saiu porque queria modernidades e não suportou a rigidez católica, porque muitas dessas seitas são extremamente rígidas.
Também não se trata de um povo que saiu porque queria mais rigidez, porque o espiritualismo sem o conceito de pecado também engordou com ex-católicos.
Trata-se de vocês, da opção de vocês. Para a Igreja e para os católicos de nada serviram seus mestrados e doutorados em Roma, seus programas de comunicação caríssimos que só se comunicam internamente.
Não é apenas uma disputa de progressistas e conservadores, onde vocês (que se dizem majoritariamente progressistas) acusam os conservadores por todos os fracassos; é a escolha de vocês em colocar a política como missão de vida. O catolicismo de vocês (progressista, conservador, ou o que for) era a segunda opção e só poderia existir em um mundo moldado pela visão política de vocês.
Resultado, o ideal político de vocês não triunfou, e o povo mudou de religião. Não lhes sobrou nada! E vocês são tão fanáticos em sua utopia que só lamentam a derrota política, mas para o escandaloso fracasso religioso vocês dão uma desculpa entre os dentes de vez em quando.
Por que seus sociólogos não estudaram a sociedade brasileira quando a religião católica começou a definhar? Por que seus comunicadores sociais não desenvolveram algo para chegar a essa população? Por que seus “projetólogos” futurologistas não montaram cenários do que iria acontecer?
Vocês reclamam do crescente “extremismo” católico nas redes sociais. Sabem porque esses grupos crescem? Sem entrar em questões de fé, é porque esses grupos ficaram longe da ação de vocês, é porque o catolicismo desses grupos é extremamente devocional, marcado sim por teologias antigas (e cadê a moderna?). Tem seus problemas? Certamente que sim. Mas ficaram longe de vocês, e por isso conseguiram sobreviver. Saibam o seguinte, vão ser esses grupos o que vai restar da Igreja Católica no Brasil, serão sobreviventes à sua geração.
ExcluirVocês têm idade, eu sou um homem relativamente jovem que por motivos de trabalho já pesquisou muitos jornais das décadas de 50, 60, 70 e 80. Ali aparece a relevância do que foi a Igreja Católica em um Brasil mais ou menos recente, mesmo sem ser uma religião oficial, mesmo com a urbanização já intensa, mesmo com liberdade religiosa (as desculpas de vocês para a queda). Praticamente em todos os jornais, de todos os direcionamentos políticos, havia matérias de capa sobre a Igreja Católica (e pasmem, não era falando mal!), em todas as capitais. Não falo isso por um saudosismo de algo que não vivi, falo porque isso é uma constatação, um retrato do que era o catolicismo no Brasil. As outras religiões (à época minoritárias) tinham algum respeito pela Igreja. Quarenta anos depois, mais da metade dos que se diziam católicos não são mais, e os que sobraram não ligam para o que vocês dizem, ou por ser um catolicismo bem cultural ou porque são daquele grupo que vocês detestam e chamam de extremista. Vocês são apenas um grupo de burocratas que tem o controle sobre os bens de uma Igreja que um dia foi forte e majoritária, e é só por isso que as análises de conjuntura de vocês ainda são reportadas em algum lugar.
Vocês são a cara do fracasso. E podem chamar isso de mensagem extremista ou de ódio, porque eu tenho consciência que não é, eu estou escrevendo calmamente, apenas com alguma tristeza porque é uma realidade muito triste. Aliás, não precisa nem ser católico para lamentar esse cenário deprimente.
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