sábado, 12 de setembro de 2020

A liberdade e as urnas em 2020

A China enriqueceu distorcendo o comércio e roubando tecnologia da mesma forma que lida com epidemias e dissidentes. Quem está enfrentando a ditadura comunista?


Ana Paula Henkel

Victor Davis Hanson, membro sênior do Hoover Institution em Stanford, Califórnia, historiador e autor do best-seller The Case for Trump, disse recentemente em uma palestra no Hillsdale College que o presidente Donald Trump não é um isolacionista, mas um realista. E completou: “Como um isolacionista permitiria que 170 mil soldados fossem enviados para o exterior? Essa é a maior força expedicionária estrangeira de qualquer país importante nos últimos 75 anos”, disse Hanson sobre Trump.

A política externa de Trump envolve mais do que tuítes malcriados que causam um verdadeiro furor na imprensa norte-americana e mundial e que deixam jornalistas de cabelo em pé. De acordo com Hanson, os Estados Unidos têm atualmente 30 mil funcionários diplomáticos espalhados em todo o mundo e, ironicamente, uma das políticas mais “isolacionistas” de Trump — sua ameaça de se retirar da Otan — resultou em aproximadamente US$ 100 milhões para a organização.

Como explica um dos maiores historiadores vivos, conquistas como essa não eram possíveis sob a política internacional fofa da era Obama, que, com sua voz mansa e carisma, enchia de orgulho os olhos de democratas de miolo mole em Hollywood assim como os inimigos da América no mundo. Trump, há quase quatro anos, decidiu o oposto: tomou as medidas adequadas — e nada populares para os pagadores de pedágio ideológico dos balcões progressistas em Bruxelas — ao reprimir os países que não estavam contribuindo com a verdadeira ajuda e alianças militares no mundo para a proteção à liberdade.

A revolução tecnológica chinesa não é apenas uma tela industrial supervisionada por uma ditadura orwelliana

Trump não tem o carisma nem os amigos na imprensa de Obama, não mede as palavras, tem a delicadeza de um elefante numa loja de cristais e peca pelo excesso, sempre. Você não precisa gostar dele para admitir que é verdadeiro e incisivo. Victor Davis Hanson continua: “Por que esses países não pagam sua parte justa? A União Europeia, à qual todos pertencem, tem cerca de 90% do PIB dos Estados Unidos. Não pagam porque não querem. E eles presumiram que ninguém jamais questionaria a Otan, a ONU ou a OMS”. Mas o bufão laranja sem papas na língua o fez. E o mundo desabou.

Mas Trump não parou por aí. Ele nunca para. O mesmo comportamento foi aplicado nas relações com a China, antes e depois do coronavírus. Trump vem mostrando desde 2016 — e é constantemente acusado de ser conspiracionista — que a agenda do Partido Comunista Chinês é a hegemonia mundial em 20 anos, declaração que os próprios chineses anunciaram no congresso do partido em 2017. E o inquilino da Casa Branca nada presidenciável anunciou: “Vamos colocar mais tarifas”. E o mundo, mais uma vez, ficou chocado. Apesar da descrença de que Trump pudesse afetar a mudança das atuais engrenagens no mundo por meio de tarifas, o professor Hanson disse acreditar que a China estava prestes a fechar um acordo com os Estados Unidos quando a covid-19 paralisou o país e o mundo.

E a verdade é incômoda. Goste você ou não de Donald Trump, o governo comunista chinês representa cada vez mais uma ameaça não apenas para seu 1,4 bilhão de cidadãos, mas para o mundo em geral. A China está atualmente em estado perigosamente caótico, camuflado por pós-verdades e mentiras absolutas de um governo ditatorial. Não dá para fecharmos os olhos quando uma sociedade autoritária pré-moderna salta descontroladamente para o admirável mundo novo da ciência de alta tecnologia em uma única geração. E meio mundo passa a ser dependente de sua cadeia de produção em quase absolutamente tudo.

E essa revolução tecnológica chinesa não é apenas uma tela industrial supervisionada por uma ditadura orwelliana. Para tornar a China instantaneamente rica e moderna, a hierarquia comunista — o mesmo governo que já causou a morte de cerca de 60 milhões de inocentes sob o governo de Mao Tsé-Tung — ignora os direitos de propriedade, esmaga a liberdade individual e tenta tirar de cena qualquer um que se interponha em seu caminho. E Donald Trump sabe disso.

Mais de 1 milhão de pessoas mantidas em “campos de reeducacão”, como fizeram Mao Tsé-Tung, Stalin e Hitler

O mundo está aprendendo que a China não apenas move montanhas para construir — ou destruir — o que precisa para abrir e manter seus obscuros caminhos. O mundo hoje sabe que a China também escondeu o surto e as origens misteriosas do novo coronavírus mortal de seu próprio povo e do resto do planeta. Milhares de portadores desconhecidos espalharam a praga viral enquanto o governo encobria suas proporções epidêmicas.

O mais assustador é que a China não parece apenas confiante de que em breve dominará o mundo, dada sua enorme população, enormes superávits comerciais, vastas reservas de dinheiro e indústrias que produzem bilhões em dispositivos eletrônicos, produtos farmacêuticos e bens de consumo para todo o globo. A ditadura chinesa demonstra bizarra confiança de que o Ocidente não questionará seus “campos de reeducação” com mais de 1 milhão de muçulmanos uigures, realocados da mesma maneira que Mao, Stalin e Hitler uma vez realocaram populações “indesejáveis”.

Durante um ano, o governo chinês enfrentou grandes manifestações de rua pela democracia em Hong Kong. Astros da NBA ou famosos de Hollywood que entoam 24 horas por dia que vidas negras importam até hoje não se manifestaram a favor da defesa dos direitos humanos de toda aquela gente. E Pequim, cínica — parece que acertadamente —, assume que as nações ocidentais não vão se importar. Também por isso, Donald Trump virou uma pedra no sapato.

Fala e tuíta demais sobre essa coisa chata chamada liberdade e democracia. Quem abandonará a lucratividade de seus investimentos na China para abrir a boca contra a ditadura comunista? Quem abandonará a comodidade de seus altos salários, jatos particulares, iates e festas de produções cinematográficas bancados com dinheiro chinês para se atracar na defesa de… de que mesmo? Ah, é. Direitos humanos. Details.

Tudo isso deveria lembrar ao mundo que a China enriqueceu distorcendo o comércio e roubando tecnologia da mesma forma que lida com epidemias e dissidentes, simplesmente ignorando as críticas legítimas e esmagando qualquer um em seu caminho. Se o regime comunista chinês está disposto a colocar milhões de seus cidadãos em risco de infecção e morte, por que se importaria com direitos humanos, ética ou a quebra de regras no comércio internacional?

A verdade sobre a decisão do presidente Trump de chamar a China para prestar conta de seu abuso sistemático das normas de comércio internacional ou da transparência em relação ao vírus chinês que causou uma pandemia histórica, não é que a política de Trump seja imprudente. O problema é que pessoas não estão dispostas a ignorar quem ele é como pessoa, seus tuítes malcriados ou o fato de que ele definitivamente não é um diplomata típico.

É preciso separar a figura Trump de suas políticas e de sua abordagem peculiar nas relações internacionais. Se você ficar preso em seus tuítes e não olhar para o que ele está realmente fazendo, fica difícil dizer que você concorda com ele. Entender que há muito mais em jogo nessa eleição do que apenas uma guerra entre democratas e republicanos é vital, e isso não significa um endosso a tudo o que ele posta ou fala em entrevistas. É preciso olhar para a política que ele está realmente adotando, que sua administração põe em prática. A liberdade está na berlinda, e não estou falando da chinesa.

Tente encarar mais ou menos como a fábula de Esopo sobre o gato que comia todos os ratos. Um dia os ratos se reúnem e dizem: “Alguém tem de colocar um sino nesse gato! Assim, toda vez que ele vier nos comer, poderemos ouvi-lo e nos esconder!”. Mas então eles percebem que aquele que colocará o sino no gato vai ser devorado, e então desistem da ideia: “Ah! Deixa pra lá. Não queremos fazer isso mesmo…”.

Em outras palavras, alguém teve de botar o sino em todas essas políticas externas falaciosas, hipócritas e desajustadas, seja nos desmandos da Otan, da ONU, da OMS, ou no obscurantismo ditatorial chinês que está engolindo o Ocidente silenciosamente. Um de nós está sendo devorado desde 2016, mas o gato, finalmente, está com o sino. De que lado você está?

Título e Texto: Ana Paula Henkel, revista Oeste, nº 25, 11-9-2020

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