terça-feira, 29 de setembro de 2020

Ações têm consequências, seus mimizentos!

Rodrigo Constantino 

Eis um razoável resumo da mentalidade "progressista": o indivíduo pode fazer o que der na telha, mas ninguém pode nunca o julgar por seus atos, pois isso seria "preconceito". É uma espécie de visão autoritária que pretende controlar até o que os outros pensam a seu respeito, ignorando que você é livre para dar vazão aos seus instintos mais destrutivos, mas os outros também são livres para te julgar por isso. 

O caso mais recente é espantoso. Um francês que se transformou numa espécie de réptil por meio de infindáveis tatuagens resolveu bancar a vítima porque perdeu seu emprego. Qual era esse emprego? Bem, ele era professor de uma creche! Mas achava que não havia qualquer problema virar o monstro das imaginações das crianças.

Onde já se viu julgar pelas aparências, não é mesmo? Essa turma esquece que não temos tempo para conhecer a fundo cada um, e que a aparência é uma "carta de apresentação", um estilo que sinaliza parte da essência. Na era do não-julgamento, o sujeito quer impedir esse tipo de filtro mais automático, que do ponto de vista evolutivo sempre fez sentido.

Mas o francês alegou que fazer tatuagens é sua "paixão", e que os outros é que devem mudar por ele. Sobre os pupilos, ele espera que ao se tornarem adultos possam ser menos "racistas e homofóbicos" e com a mente mais "aberta". O pior é que não faltam "libertários" para apoiar esses "progressistas", como se a liberdade de seguir suas paixões fosse mais importante do que a liberdade dos outros de julgá-las! 

Isso me remete a outro caso parecido que comentei no meu livro Confissões de um ex-libertário. Usei o episódio para explicar parte da minha conversão a um liberalismo mais conservador: 

Chegando perto dos 40 anos, com uma filha que em breve já estaria se aproximando da adolescência (fui pai jovem, aos 25 anos), comecei a pesar certas coisas, a analisar com uma ótica diferente o mundo real, sem me iludir tanto com fantasias. E, sendo pai de uma menina, fiquei mais atento ao que rolava na juventude da geração dela. 

O que vi me assustou. O relativismo estético e moral tinha tomado conta de tudo. A era do “não julgamento” tinha chegado, e só por criticar uma moça claramente perturbada que foi capa da Folha de S.Paulo e tinha tatuado “demônio” em sua testa, implantado um soco-inglês de silicone em seu punho e pintado o branco dos olhos de vermelho, eu atraí inúmeros ataques de libertários. 

Eu não poderia mais me dizer um libertário ou mesmo liberal se ficava julgando tanto o comportamento dos outros, diziam. O mais engraçado é que eles invadiam meu blog, ou seja, minha propriedade particular, para emitir um julgamento acerca da minha opinião e meu comportamento, mas eu não era mais um liberal porque emitia a minha opinião no meu próprio blog sobre o comportamento de uma pessoa certamente doente. Passei a me dar conta de que esses libertários tinham perdido o juízo ao nem notar a incoerência. 

Impossível observar esse mimimi de quem mutila o corpo e depois banca a vítima e não sentir uma leve atração pelo conservadorismo. Essa turma quer banalizar tudo em nome de uma pseudoliberdade. E depois quer, no pior estilo autoritário, controlar o que os outros pensam sobre esses amalucados. 

Ora, se você quiser contratar o réptil como babá do seu filho, "be my guest". Mas não venha reclamar dos pais que, com toda razão, consideram bastante inadequado o perfil do professor, para dizer o mínimo... 

Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 29-9-2020, 11h25

Um comentário:

  1. Sim. Sem margem de dúvida, estamos vivenciando uma época em que somos obrigados a conviver e aceitar pessoas insanas como normais no nosso meio para não sermos criticados e julgados.

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