quinta-feira, 22 de outubro de 2020

[Diário de uma caminhada] A defesa moral e racional de Matteo Salvini: nacionalismo e democracia são absolutamente compatíveis (I)

As consequências do antinacionalismo, sinónimo de globalismo antifronteiras, são crescentemente ameaçadoras para os povos, em particular na Europa Ocidental.

Gabriel Mithá Ribeiro 

Para explicar o fenómeno é prudente começar pela família. Esta instituição garante os laços afetivos mais sólidos que a nossa espécie alguma vez gerou, laços que sustentam o fundamental do equilíbrio mental dos indivíduos e que transitam de geração em geração. Família é sinónimo de veículo essencial de transmissão e partilha de valores, princípios, crenças, tradições, património entre indivíduos, daí resultando a mais nuclear identidade social (ou coletiva), a mais estável no tempo, a mais sólida. 

Entre povos e sociedades, os bem-sucedidos são os que possuem famílias bem-sucedidas e os problemáticos são os que possuem famílias disfuncionais. Por todas as razões, nenhuma solução do que quer que seja reside na destruição das famílias, apenas na preservação e reforço dessa instituição, e na correção das disfuncionalidades onde e quando se manifestam. 

Acontece que sem a apropriação de um espaço próprio exclusivo por cada família, o lar, a mesma tem dificuldades em se consolidar. Portanto, a consolidação dos laços afetivos depende diretamente da sua ancoragem num espaço singular, único, o lar familiar. 

Dado não existirem descontinuidades entre o indivíduo e o coletivo – indivíduo, família, sociedade, mundo –, no estádio seguinte ao da família situam-se os laços afetivos nacionais, o nacionalismo. Na substância, este consiste no alargamento e complexificação, no tempo e no espaço, daquela. 

Mesmo quando surgem formas de agregação humana mais abrangentes do que as nacionais, como as supranacionais (o caso da União Europeia) ou mundiais (o caso da ONU), precisamente por isso, estas últimas formas de agregação jamais dispensam os laços afetivos preexistentes. Se o nacionalismo historicamente não se instituiu contra, mas suportado no que antes existia, na família, pela mesma razão os laços supranacionais ou mundiais dependem da preservação dos laços nacionais. 

Família, nacionalismo, supranacionalismo ou mundialismo são humanamente dignos e funcionais na medida em que constituam fórmulas complementares progressivas de autorresponsabilidade coletiva, formando uma cadeia contínua de laços humanos e afetivos agregados e agregadores que vão da porta de casa de cada família (que para existir pode, e deve, fechá-la para se demarcar da rua), das fronteiras de cada país (idem na relação com os outros países), à porta do gabinete da Presidente da Comissão Europeia (idem em relação a outros continentes). Talvez apenas o gabinete do Secretário-Geral da ONU não necessite de portas fechadas se todas as anteriores estiverem garantidas. 

Tal como a família, os laços nacionalistas sustentam-se porque estão diretamente filiados a um espaço, o território ancestral dos ascendentes, o que confere às fronteiras territoriais nacionais um significado histórico e social fundamental. Desvalorizá-las ou, pior, romper com elas representa uma tentação etnocida, portanto uma grave regressão civilizacional. É por isso que ser antinacionalista, isto é, desprezar ou atentar contra as fronteiras territoriais nacionais e o que elas significam revela uma fortíssima carga de imoralidade etnocida alimentadora de genocídios, paranoia que assumiu expressão mundial. Pelo menos neste caso, o politicamente correto não é mera opção política, é perturbação mental. 

Sejamos claros: os fluxos migratórios transfronteiriços, sobretudo os oriundos de uma matriz civilizacional distinta da matriz da identidade nacional acolhedora (racial, religiosa, histórica, cultural, espacial), por exemplo as minorias islâmicas ou africanas que chegam à Europa, constituem corpos identitários estranhos às identidades nacionais originárias. Daí que estas possuam a mais absoluta legitimidade para regular a imigração, no sentido de suavizarem ou dosearem os seus impactos na sociedade acolhedora. 

Logo, o controlo apertado da imigração nada tem de imoral ou irracional. Não só é o inverso, como ainda é esse controlo das fronteiras que garante uma integração supranacional (União Europeia, por exemplo) e mundial (ONU) bem mais equilibrada porque bem mais coletivamente autorresponsável. Esta evidência tem sido subvertida na atual loucura dos tempos. Cito um caso particularmente elucidativo. Matteo Salvini está a ser perseguido política e judicialmente por hordas imorais e irracionais, o que inclui santos e doutos, justamente por representar o oposto, a defesa moral e racional das fronteiras territoriais da sua identidade nacional italiana. 

Sublinho que o nacionalismo, isto é, um povo assumir que tem de tomar conta do seu próprio destino (como fazem os indivíduos mentalmente equilibrados) não tem concorrentes minimamente equiparáveis enquanto suporte viável da mais ampla fórmula de autorresponsabilidade coletiva, a delimitada pelas fronteiras territoriais nacionais. Mesmo quando estas são flexibilizadas em contextos onde os povos partilham um fundo civilizacional comum, o que se pode traduzir num projeto partilhado entre Estados, a sobreposição do supranacional (como a União Europeia) ao nacional (aos nacionalismos como o italiano ou o português) em nada diminui a autorresponsabilidade dos governos nacionais definida pelas anteriores fronteiras territoriais, em especial quando estas resultam de uma longa tradição histórica e identitária. 

Ou seja, quanto mais autorresponsáveis forem os nacionalismos europeus, o português e outros, mais contribuirão para a viabilidade do projeto europeu comum, coisa que uma cabeça patológica nunca entende. 

Para concluir, percebe-se melhor a razão do globalismo esquerdista ser disfuncional. A sua razão de existir é a pretensão de esvaziar os nacionalismos, o que equivale a uma mãe ambicionar perpetuar a sua geração devorando os filhos, uma vez que o globalismo se alimenta do ódio e da negação do único suporte que pode garantir a sua viabilidade, o nacionalismo precedente. Desse modo, ao ser antinacionalista o globalismo não é uma escolha humana concebível, resumindo-se a uma distopia maléfica que tem de ser combatida por ser desumana, por ser uma paranoia potenciadora de etnocídios. 

[Continua no próximo artigo] 

Título e Texto: Gabriel Mithá Ribeiro, 22-10-2020

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