Uma abordagem policial mostra que, além do
vírus chinês, a epidemia de coronavírus espalhou também o vírus do
autoritarismo
Branca Nunes
“Saiam daqui”, ordena o policial a clientes sentados nas mesas da calçada de um restaurante em Paris, na França. Visivelmente desconcertados, homens e mulheres olham atônitos sem saber como agir. Um deles tenta argumentar que está bebendo e por isso não usa a máscara de proteção, guardada em seu bolso.
Para o grupo seguinte, manda que se afastem e mantenham o distanciamento social. Os gestos de truculência ostensiva passam a ser alternados com palavras como “monsieur” (senhor), o “s’il vous plaît” (por favor) e “merci” (obrigado), ditas sempre de forma ríspida. Uma voz feminina solitária esboça um protesto: “totalitarismo”.
Os clientes se levantam. Alguns entram no estabelecimento, outros vão embora. As imagens finais mostram copos ainda cheios sobre mesas vazias. E os policiais, vestidos como se fossem para a guerra, marchando rumo à próxima abordagem.
Está cada vez mais evidente que, tão terrível quanto o vírus chinês, a epidemia de coronavírus espalhou também o vírus do autoritarismo.
PARIS - Intervention de la BRAVM pour évacuer une terrasse pour « non respect des distanciations sociales »
— Clément Lanot (@ClementLanot) October 24, 2020
Les clients partent sans avoir pu payer.
(en marge d’une manifestation anti couvre-feu) #COVID19 pic.twitter.com/Ao5H577XBn
Título e Texto: Branca Nunes, revista Oeste, 29-10-2020, 19h59
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