Carlos  Alberto Di Franco - O Estado de S.Paulo, 23-08-10
Autor e personagem de um vídeo que  tomou conta da internet, em que é chamado de "otário" e "sacana" pelo governador  Sérgio Cabral, além de ouvir do presidente Lula que tênis é "esporte da  burguesia", o estudante Leandro dos Santos, morador de um barraco na Favela  Nelson Mandela, no Rio de Janeiro, não tinha ideia da repercussão da gravação. O  episódio foi reproduzido por Italo Nogueira, repórter do jornal Folha de S.Paulo  e pode ser conferido pelo amigo leitor aqui. O jovem, xingado por Cabral e ironizado por Lula, desnudou as duas caras dos  homens públicos: o rosto amável e as palavras medidas diante das câmeras e o  desprezo debochado na vida real.
Segundo Nogueira, o estudante  abordou o governador e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do ano  passado, após a inauguração de obras do Programa de Aceleração do Crescimento  (PAC) em Manguinhos. Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de  tênis no local e Lula diz que isso é "esporte da burguesia". O presidente,  então, pergunta por que ele "não treina natação". Ao ouvir que a piscina fica  fechada, Lula dirige-se a Cabral: "O dia que a imprensa vier aí e vir isso  fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas  aí." O comentário de Lula é revelador. O que interessa não é o bem-estar dos  pobres, mas o eventual arranhão na sua imagem.
Otário, sacana e burguês - três  carimbadas no rosto de um jovem favelado que teve a coragem de exercer a  cidadania e de questionar governantes carregados de arrogância e armados de  ironia cruel, mas que diante dos holofotes da mídia se apresentam como paladinos  da luta contra qualquer tipo de discriminação. Uma imagem grita mais que mil  palavras. O vídeo está bombando na internet e causa irado  constrangimento.
Nós, jornalistas, devemos refletir a  respeito desse episódio. Ele revelou o que nossas pautas não costumam contar.  Mostrou a face verdadeira, o rosto sem maquiagens, a alma desprovida do botox do  marketing. E é exatamente isso que devemos fazer.
Campanhas milionárias, promessas  surrealistas e imagens produzidas fazem parte da estratégia de alguns  candidatos. O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade,  pode ser transformado em instrumento de mistificação. Estamos assistindo à morte  da política e ao advento da era da inconsistência. Os programas eleitorais  vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das  ideias. Nós, jornalistas, somos (ou deveríamos ser) o contraponto a essa  tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e desnudar os candidatos. Só  nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos de um espetáculo  audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma  democracia verdadeira e amadurecida.
Por  isso, uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É  preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a  agenda do cidadão. É preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia a  dia das pessoas. É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas  estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de  governo.
O  nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas  carências e cobrar soluções dos candidatos. Não se pode permitir que as  assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto.  O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o  político. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil  oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País  real.
Dilma Rousseff, por exemplo, diz que  vai fazer o trem-bala. Baita declaração. Mas é viável? Como vai contornar a  muralha da Serra das Araras? E as infinitas desapropriações? Ninguém fala disso.  O que fica é o efeito: "Vou fazer o trem-bala." Ou: "Sou contra o aborto", mas  considero o aborto "um problema de saúde pública." Afinal, é a favor ou é  contra? Quer ampliar os casos previstos na legislação ou deixar como está? "Sou  contra a censura." Beleza. Então, como explicar sua assinatura no 3.º Plano  Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)? Como explicar as sucessivas maquiagens  nos seus planos de governo? "Sou contra qualquer ditadura." Ótimo. Mas como  explicar as declarações de apoio de Hugo Chávez à "amiga Dilma"? E José Serra, é  a favor ou contra a independência do Banco Central?
Nosso papel, embora com civilidade e  respeito, não é registrar, mas questionar. Willian Bonner, âncora do Jornal  Nacional, fez a sua parte com notável profissionalismo. O PT errou quando  insultava Sarney, Collor e Renan Calheiros ou errou depois ao se aliar a eles?  "Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo", respondeu Dilma. A  candidata, sem a blindagem imediata do marketing, mostrou sua concepção de  política: um jogo pragmático e sem nenhum tipo de baliza ética. Para ela, ser  "maduro" é juntar-se ao que há de pior. Cobrada sobre o resultado fraco no  crescimento econômico se comparado com outros emergentes, culpou a "herança  maldita" do governo Fernando Henrique. Ainda não passou pela cabeça da candidata  culpar Pedro Álvares Cabral pelo gargalo na infraestrutura. Mas chegaremos lá. O  telespectador, sem contrabando opinativo, tira suas  conclusões.
O  jornalismo de qualidade, firme e independente, é rastreador da verdade. Não é  nosso papel embalar candidatos, mas mostrar suas contradições. É preciso  incomodar. Jornalismo cor-de-rosa não faz bem à democracia.
Colaboração: Cristina Freitas
Este vídeo é um tanto suspeito não acham?Leandro não é nenhum menino como andam dizendo por ai...Digam, que presidente e que governador dão atenção que estão dando a um rapaz pobre, negro que não está na frente das câmeras. Leandro foi um tanto quanto pretensioso com Cabral. Eu no lugar de Cabral teria chamado seguranças para tirarem o rapaz dali, que só queria fazer o trabalho dele de pau mandado de algum adversário para sujar Cabral com o Presidente. Mas imaginem se isso tivesse acontecido, teriam feito um escarcéu ainda maior néh? Lula e Cabral conversam com o rapaz numa boa e com gírias cariocas. Cabral quando percebeu qual era a de Leandro se irritou com toda razão. Quem gostaria de ouvir tais coisas na frente do Cara maior que é lula? Façam esta reflexão. Ainda tem mais, no outro vídeo de Ricardo Gama o rapaz não parece ser o mesmo, quase não fala, só concorda com o que é afirmado por Ricardo. Suspeito?? Vai ver que não deu tempo de decorar nenhum texto né.
ResponderExcluirTem razão, Anônimo. Na frente do "cara maior" só cabe a genuflexão!
ResponderExcluirgabeiracombr
ResponderExcluirQuem deve desculpas a quem? Veja a propaganda que vai ao ar às 20h30 na TV -
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