Cesar Maia
1. A divulgação de pesquisa
onde o presidente Piñera aparece com apenas 31% de aprovação contra 60% de
desaprovação despertou o debate sobre as razões. A coincidência de protestos
massivos estudantis com a divulgação da pesquisa levou a conclusões simplistas.
É evidente que colocar em campo uma pesquisa num momento em que as imagens são
fortes - polícia X estudantes - e que o jovem tende a ter a simpatia da
população, produz impacto na taxa de desaprovação.
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Santiago, Chile, 29-06-2011, foto: AFP/JB |
2. Mas independente disso, é
verdade que o governo vinha sofrendo uma perda de popularidade. Talvez um fato
- de repercussão internacional - tenha ocultado essa tendência: o resgate dos
mineiros quando Piñera subiu em sua popularidade. Mas os fatos fortes - quando
são pontuais - se diluem, e as correntes permanentes voltam a aflorar.
3. Em 2010, a economia chilena
cresceu 5,2%, e em 2011 está crescendo e crescerá 6%, talvez a taxa mais alta
da América Latina. Alguns dirão que o fator econômico deveria ter produzido um
desdobramento favorável ao governo. Em geral é assim. Mas sempre que o
crescimento se descola da sensação de melhoria e conforto por parte da
população, esse impacto é muito menor. É o caso do Peru, por exemplo.
4. Piñera - no discurso de
posse dos novos oito ministros - onde substituiu o titular da pasta da Educação
como resposta aos estudantes - sublinhou, como razão, o poder de mobilização
impulsionado pelas redes sociais, usando as recentes mobilizações dos
"indignados" como referência. Pode ser, mas lembre-se que as redes
sociais atuam em vários sentidos e que se foi assim, os partidos de sustentação
do governo, RN (do presidente) e UDI, perderam a batalha da comunicação. Claro,
por enquanto. E se o presidente deu esse destaque é porque tratará de melhorar
sua política de comunicação.
5. Mas há duas razões que
parecem muito mais relevantes que as anteriores. A primeira foram os
megaterremotos que abalaram o Chile no início de 2010, quando Piñera assumia.
Isso gerou um ajuste na política fiscal, com multiplicação dos gastos de
reconstrução. Dada a disciplina fiscal e monetária chilenas, essa concentração
de gasto em obras públicas, absolutamente necessárias, retardou as políticas
sociais defendidas por Piñera. O PIB não é afetado. Ao contrário, pois o gasto
público ajudou a impulsioná-lo. Mas o foco social o é, gerando, por um tempo,
um desconforto na população.
Fotografia oficial do Presidente Sebastián Piñera
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6. O segundo é político.
Depois de várias eleições em que a centro-direita apresentou dois candidatos no
primeiro turno, convergindo no segundo, em 2009 a RN de Piñera e a UDI vieram
juntas desde o primeiro turno. A UDI vem tendo, através dos anos, maioria
simples parlamentar, e agora passou a ser coadjuvante. Com poucos meses de
governo, líderes da UDI reclamavam dos rumos do governo. Alegavam que a origem
democrata-cristã dos Piñera estava deixando de lado a afirmação dos
compromissos liberais da coalizão dos dois partidos.
7. Esse processo foi afetando
as correntes de comunicação, já que a vocalização da UDI não era a mesma que a
RN, pelo menos nas bases. Isso ficou claro agora na reforma ministerial, pois
Piñera convocou dois senadores sêniores e de grande prestígio, líderes da sua
bancada, para participar de seu ministério. O peso da UDI aumentou muito. Com
isso, imagina-se que -mesmo que de forma não declarada - as políticas do
governo Piñera sofrerão ajustes.
8. Agora é acompanhar se essas
mudanças virão mesmo, e quais serão elas e que feitos terão. E que,
ultrapassados os desdobramentos da reconstrução, o ajuste das políticas sociais
evitará que o Chile seja atingido pela síndrome de Peru.
Ex-Blog do Cesar Maia,
22-07-2011
Edição: JP
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