A Tunísia realizou eleições
ontem. (Domingo, 23 de outubro). O Nahda (Partido do Renascimento Islâmico) deve ser o mais votado, mas
não deve obter a maioria. Disputam as 218 cadeiras do Congresso Constituinte
nada menos de 110 partidos. O Nahda aprendeu a falar a linguagem da moderação.
O modelo assumido pela turma agora é a Turquia do primeiro-ministro Recep
Tayyip Erdogan. A imprensa ocidental costuma exaltar a “democracia turca”.
Então tá. Voltarei ao tema nos próximos dias. Não sei por quais caminhos o
“renascimento islâmico” pode se encontrar com a democracia. Na Turquia, dou uma
palhinha de por onde vou quando voltar ao tema, mais a democracia se islamizou
do que o islamismo se democratizou, entendem? Claro, claro, tudo é uma questão
do ponto de vista do qual se fala: eu falo do ponto de vista de quem vibra com
a expansão da democracia, mas sei que há quem vibre com a expansão do Islã…
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Tunísia: um soldado guarda o
exterior de um colégio eleitoral, foto: EFE/El País
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A Tunísia era o mais
ocidentalizado dos países árabes mesmo durante a ditadura. A lei garante, por
exemplo, a igualdade entre homens e mulheres, o que não é exatamente do agrado
dos religiosos. O Nahda diz que pretende deixar tudo como está. Vamos ver por
onde se dará a islamização pretendida. Há de ser por algum lugar, ou eles
formariam um partido laico, certo? Por ter sido o país que iniciou isso que
chamam “Primavera”, os desdobramentos políticos da Tunísia tem uma importância
simbólica.
Eu tendo a desconfiar da
“Primavera”, como sabem. Uma notícia de ontem no El País sobre o Egito dava o
que pensar. Reproduzo:
Um tribunal egípcio condenou
hoje [ontem] um homem, Ayman Yousef Mansur, a três anos de prisão por insultar
o Islã e promover o sectarismo religioso através de postagens em sua conta no
Facebook. O juiz do Tribunal Penal do bairro cairota de Al Azbekiya, Sharif
Kamel, emitiu a sentença por considerá-lo culpado de “prejudicar
deliberadamente a dignidade do Islã ao zombar dele e desprezá-lo em sua conta
pessoal no Facebook”, conforme noticiou a agência estatal de notícias Mena.
O condenado “se aproveitou da
religião para propagar idéias extremistas com a intenção de criar sectarismo
religioso e prejudicar a unidade nacional”, empregando “expressões vergonhosas
contra o Corão, contra o profeta Maomé e contra os muçulmanos”, enfatizou o
juiz na leitura do parecer.
Em 2007, ainda sob a ditadura do
ex-presidente Hosni Mubarak, outro homem, o famoso blogueiro Karim Amer, foi
condenado a quatro anos de prisão por criticar o Islã e o próprio presidente.
Abdel Karim Suleiman, que escrevia sob o pseudônimo de “Kareem Amer”,
tornou-se, em fevereiro de 2007, quando tinha 22 anos, o primeiro blogueiro
egípcio condenado à prisão. Ele foi libertado em novembro de 2010.
Encerro
O Egito é aquele país onde a
“Primavera” convive com o incêndio de casas e templos dos cristãos.
Eu até posso crer que haja um
jeito democrático de viver a fé islâmica, mas, sinceramente, não acredito que
haja um jeito islâmico de viver a democracia.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo
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