Retirado do fórum do Jornal Económico, Portugal - 29/06/2011
Lê-se, por vezes, que os Gregos, coitadinhos, são um pobre povo periférico
que está a sofrer as agruras de uma crise internacional aumentada às mãos
da pérfida Merkel.
Já é tempo de sair desta superficialidade, de perceber que os Gregos têm
culpas no cartório, que não foram sérios e que não o estão a ser.
Os Gregos levaram a lógica dos "direitos adquiridos" até à
demência, até à falta de vergonha.
Contam-se fatos inauditos.
Os exemplos desta falta de seriedade são imensos, a saber:
1 - Em 1930, um lago na Grécia secou, mas o Estado Social grego mantem o
Instituto para a Proteção do Lago Kopais, que, embora tenha secado em 1930,
ainda tem, em 2011, dezenas de funcionários dedicados à sua conservação.
2 - Na Grécia, as filhas solteiras dos funcionários públicos têm direito a
uma pensão vitalícia, após a morte da mãe/pai-funcionário público. Recebem 1000 euros mensais - para toda a vida - só pelo facto de serem
filhas de funcionários públicos falecidos.
Há 40 mil mulheres neste registo que custam ao erário público 550 milhões
de euros por ano.
Depois de um ano de caos, o governo grego ainda não acabou com isto
completamente.
O que pretende é dar este subsídio só até fazerem 18 anos...
3 - Num hospital público existe um jardim com quatro (4) arbustos. Ora, para cuidar desses arbustos o hospital contratou quarenta e cinco (45)
jardineiros.
4 - Num ato de gestão muito "social" (para com o fornecedor), os
hospitais gregos compram pace-makers quatrocentas vezes (400) mais caros do
que aqueles que são adquiridos no SNS britânico.
5 - Existem seiscentas (600) profissões que podem pedir a reforma aos 50
anos (mulheres) e aos 55 (homens). Por quê? Porque adquiriram estatuto de
profissões de alto desgaste. Dentro deste rol, temos cabeleireiras, apresentadores de TV, músicos de
instrumentos de sopro...
6 - Pagava-se 15º mês a toda a classe trabalhadora.
7 - As Pensões de Reforma de 4.500 funcionários, no montante de 16 milhões
euros por ano,
continuavam a ser depositadas, mesmo depois dos idosos
falecerem, porque os familiares não davam baixa e não devia haver meios de
se averiguar a inexatidão dessa atribuição.
8 - Chegava-se ao ponto de só se pagarem os prêmios de alguns seguros
quando fosse preciso usufruir deles!
9 - A Grécia é o País da União Europeia que mais gasta, em termos
militares, em relação ao PIB (dados de 2009). O triplo de Portugal!
10 - Há viaturas oficiais da administração do Estado que têm 50 condutores.
Cada novo nomeado para um cargo nomeia três ou quatro condutores da sua
confiança, mas como não são permitidos despedimentos na função pública os
anteriores vão mantendo o salário.
11 – Em 27 de junho, o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentou mais uma
à lista.
Afirmou ele: " Na Grécia, cerca de 90% da terra não tem cadastro."
Agora digo eu: sabem o que significa isso? Significa que os proprietários não pagam impostos.
Eu já tinha ouvido dizer que os gregos não pagavam impostos. Ora, a grande receita do Estado provém dos impostos. Isto quer dizer que o erário publico do Estado grego está vazio, totalmente
vazio.
Quer dizer, os milhões da UE é que serviram, durante todos estes anos, para
manter o nível de vida atingido dos gregos.
Não admira que já tenham estourado 115 mil milhões e agora precisem de mais
108 mil milhões.
As regalias da Grécia
Ana Sofia Fonseca
Quando o primeiro-ministro
Georges Papandreou anunciou a dimensão da dívida soberana e as primeiras
medidas de austeridade, a Grécia era um oásis. Durante anos, os diferentes
governos foram alimentando uma cultura de regalias e privilégios muito acima
das posses do país e da realidade dos outros Estados da zona euro. Até às
reformas impostas pelo governo grego e pela ‘troika', multiplicavam-se
benefícios difíceis de explicar.
No sector público, a
contratação de pessoal e o pagamento de subsídios servia para garantir votos.
Os políticos habituaram-se a usar o emprego como moeda de troca. Razão de sobra
para, nos últimos anos, o número de funcionários públicos ter disparado. Admitidos
sob protecção política, muitos não compareciam sequer ao trabalho. Sempre que
não era possível proceder a aumentos, os governantes recorriam à atribuição de
subsídios.
Desta forma, a Grécia
tornou-se terreno fértil de regalias insólitas. Nos transportes ferroviários,
vários colaboradores recebiam um subsídio para lavarem as mãos. Em 2010, a
empresa somava três milhões de prejuízos por dia. Na companhia de
electricidade, o pessoal da manutenção auferia mais por ter carta de condução.
Cerca de sete mil funcionários públicos recebiam um prémio por carregarem
envelopes. Falar uma língua estrangeira, saber usar o computador ou
simplesmente chegar a horas ao trabalho também podia ser motivo de regalia.
Num país onde 7% do PIB é
usado em despesas de armamento, os militares e as suas famílias gozavam
direitos especiais. Até casarem ou completarem 28 anos, as filhas tinham
direito a um subsídio. Os filhos de sexo masculino estavam arredados do
privilégio. Uma fotógrafa ‘freelancer', que beneficiou da medida até ao limite
de idade, contou ao Diário Económico que usou o montante para comprar um carro.
A Grécia contava 600
profissões de desgaste rápido. Cabeleireiro, músico de instrumento de sopro ou
apresentador de televisão eram algumas das ocupações consideradas de risco e,
por isso, com direito a reforma antecipada. Mas há grupos profissionais com
ainda mais privilégios. Elizabeth Polymerou, advogada, conta que os seus pares
estavam isentos do pagamento de IVA. Outro dos grandes desafios do Governo
grego é acabar com as "profissões fechadas". Farmacêuticos,
advogados, notários, camionistas e taxistas são algumas das classes protegidas
por leis especiais, que apadrinham os interesses da minoria instalada. Ao
colocar entraves à entrada de novos profissionais, mantêm esses sectores livres
de concorrência.
Em meados de Julho, contra a
intenção de acabar com este regime, os taxistas fizeram greve durante uma
semana, tendo chegado a bloquear os acessos ao porto e ao aeroporto. Nas ruas
de Atenas, não se encontrava um único táxi. Quando, através do hotel, tentámos
reservar um serviço para o aeroporto, foi-nos pedido 60 euros. Habitualmente,
são cerca de 20. Nikolaos Diamantopoulos, desempregado, conta que, apesar das
reclamações dos clientes, muitos taxistas usam o carro como se fosse um
autocarro: "A meio da corrida, apanham mais pessoas e cobram como se
continuássemos sozinhos". Não há reforma económica sem reforma de
mentalidades.
(…)
Edição: JP
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