Isabel Stilwell
Ainda nem tomámos plena
consciência de como mais pobres vamos todos ficar. Crescemos a ouvir falar de
crise, e o nosso cérebro, por uma questão de saúde mental, habituou-se a
descartar os constantes avisos alarmistas, do estilo “o país está de tanga”. Durante
muito tempo, demasiado, acreditámos que esta crise era como as outras, mas
agora entendemos que a realidade à nossa volta vai mudar para sempre.
É um processo doloroso, que
exige um enorme esfoço de adaptação, e suponho que é natural que as pessoas procurem
à sua volta bodes expiatórios para a desilusão e medo que sentem, e se agarrem
à ideia de que há por aí uns tipos que, bem apertados, podem ainda desembolsar
umas massas para nos salvar.
Mas alguns parecem encontrar
uma grande consolação na ideia de que, se vão ao fundo, hão-de levar toda a
gente atrás. Simplesmente, se o luto por aquilo que tivémos ou sonhámos ter,
explica episódios de raiva, já a inveja não leva a lado nenhum.
Não leva a lado nenhum, mas
está a ser o prato forte de muitos meios de comunicação social. Multiplicam-se
as “reportagens”, que se gabam de ter encontrado os verdadeiros salários, os
rendimentos escondidos, as alcavalas recebidas por estes e por aqueles. Os
políticos, então, têm estado na ordem do dia, ou não fossem o target mais
apetecível, qual bonecas de vudu onde se espetam alfinetes na esperança de
vingança. Confesso que acho abjecta esta perseguição. Há maus políticos,
certamente que há, e compete-nos não votar neles. Há políticos corruptos? Que
sejam denunciados, julgados e condenados.
Mas ser político, ocupar um
cargo público, é prestar um serviço à Nação. Têm todo o direito ao respeito, a
um bom ordenado (sujeito, obviamente, aos mesmos cortes do que os nossos), e de
após o seu mandato, continuarem com a sua vida. Se não aceitarmos que assim é,
então é melhor fecharmos a porta da democracia.
Título e Texto: Isabel
Stilwell, Destak, 20-10-2011
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A inveja, conforme Sebastián
de Covarrubias, gravura século 16.
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