António Ribeiro Ferreira

Bom dia aos que hoje vão ter
imensas dificuldades em chegar aos seus locais de trabalho. Bom dia aos que não
podem trabalhar porque não têm emprego. Bom dia aos que não têm emprego há
bastante tempo e já não têm qualquer apoio do Estado. Bom dia aos que desistiram
de procurar trabalho em Portugal e partiram para outras paragens. Bom dia aos
funcionários públicos com emprego garantido que hoje vão trabalhar. Bom dia a
todos. É evidente que o direito à greve não se discute. Como não se deve
discutir o direito ao trabalho. O que se deve discutir é a forma como uns
tantos tentam impor a sua vontade a uma larga maioria. Sim, porque hoje, 24 de
Novembro, milhões de portugueses vão trabalhar contra ventos e marés. Milhões
de portugueses vão levantar-se mais cedo para conseguir chegar ao trabalho a
tempo e horas. Milhões de portugueses, sem trabalho garantido, sem muitos
direitos, sujeitos à evolução do mercado e à situação financeira das suas
empresas, vão hoje trabalhar sem saberem o que será o seu futuro. Quem hoje não
vai trabalhar por vontade própria tem a sua vida segura nos próximos tempos.
São empregados do Estado protegidos constitucionalmente do desemprego. Com
direitos adquiridos à custa de muitos impostos e muitas cedências de gestores
incompetentes e políticos inábeis e medrosos. A esquerda apoia a greve com
entusiasmo. Os sindicatos fazem desta greve geral a sua prova de vida. Vão
apresentar mais logo números fantásticos de adesão. Escolas fechadas, aviões em
terra, comboios nas estações, metro parado, autocarros a meio gás, tribunais,
com ou sem arguidos detidos, paralisados, hospitais sem consultas e poucas
cirurgias, centros de saúde às moscas, repartições de Finanças fechadas,
ministérios com muita pouca gente. Enfim, o rol já está feito e há muito que
CGTP e UGT têm o roteiro estabelecido. O governo, as administrações das
empresas do Estado e de todos os serviços públicos devem, desta feita, evitar
entrar na habitual guerra de números. Uma guerra estúpida que só alimenta
comentários estúpidos. Seria bom que desta vez o governo desse por antecipação
a taça aos sindicatos. Ganharam, pararam uma parte substancial do Estado,
amanhã pela manhã volta tudo ao normal, como se nada de importante tivesse
acontecido. O que importa, amanhã pela manhã, é que o governo cumpra o que
acordou com a troika e consiga fazer uma verdadeira e profunda reforma do
Estado, de alto a baixo, sem complexos nem pensos rápidos. Hoje, os que merecem
um bom dia estarão nos seus locais de trabalho a fazer pela sua vida, pela vida
das suas empresas e pela vida do seu pobre e falido país. Hoje, os que merecem
um bom dia estão a justificar o seu salário, já reduzido ou em vias de ser
amputado de uma fatia mais ou menos significativa, que, entre outras coisas
fundamentais, serve para pagar os impostos ao Estado e, logicamente, os
salários de muitos que hoje não trabalham para manterem direitos e privilégios
que mais ninguém tem nesta miserável sociedade portuguesa. Bom dia, Portugal.
Bom trabalho para os que ainda podem trabalhar.
António Ribeiro Ferreira, jornal "i", 24-11-2011
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