Amity Shlaes

A democracia está em jogo,
sustentou Krugman em sua coluna de 11 de dezembro e a Europa, social e
economicamente, se inclinará ao fascismo, se não deixar de buscar uma
"austeridade cada vez mais rigorosa, sem esforço de contrabalanço para
promover o crescimento".
São suposições importantes e
previsões assustadoras. Krugman, no entanto, sente-se à vontade em fazê-las
porque diz ter evidências. Sua evidência de que a democracia europeia cambaleia
em favor de uma repressão é o caso da Hungria, membro da União Europeia (UE),
mas que ainda tem sua própria moeda, o florim. No país, o partido governista
Fidesz defende políticas que suprimem a liberdade de expressão, a independência
judicial e a mídia jornalística.
Quanto à teoria de que a
austeridade desacelera o crescimento, Krugman evoca a Grande Depressão. Fazê-lo
traz autoridade por si só, já que a Grande Depressão é misteriosa e sua força
na imaginação pública é forte.
O colunista, frequentemente,
faz referências ao relato em três estágios. No fim dos anos 20 ou início dos
30, o presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover, cometeu um erro fatal e
impôs medidas de austeridade, na forma de aumentos de impostos e cortes
orçamentários. A economia dos EUA faliu. O presidente Franklin Roosevelt veio,
gastou e começamos a nos recuperar. Depois de 1936, Roosevelt hesitou e apertou
o cinto governamental - de novo, a austeridade. Caímos em depressão econômica.
A economia não voltou às taxas de crescimento de 1929 até o aumento de gastos
da Segunda Guerra Mundial.
Nem todos entre nós concordam
com os detalhes desse roteiro. Hoover, por exemplo, aumentou os gastos.
Argumentar, no entanto, que a austeridade, caso tivesse sido promovida em grau
suficiente, teria promovido o crescimento e a recuperação nos anos 30 é embarcar
em uma aventura condicional vulnerável.
Há evidências de que a
austeridade promoveu o crescimento no passado e não o fascismo. Esses exemplos
podem ser menos conhecidos, mas sugerem que a austeridade pode trazer a
recuperação com mais velocidade do que quando se gasta.
Um forte exemplo na história
dos EUA é a recessão no início dos anos 20. O governo reagiu à desaceleração
sem gastar; cortou-se pela metade. A recuperação foi tão rápida que poucas
pessoas se lembram dessa recessão.
Para seguir o modelo de
Krugman de selecionar um único país, podemos observar a Austrália dos anos 30.
No início da década, a Austrália, assim como os EUA, sofria de deflação e
desemprego acentuado. A renda nacional havia encolhido em todos os anos entre
1925 e 1932. Nesse ano, o índice de desemprego chegou a 19,7%. O governo
considerou substituir o padrão-ouro com um "padrão-mercadorias",
atrelado às commodities.
Os australianos se perguntavam
se os gastos poderiam trazer a recuperação. O poderoso premiê de Nova Gales do
Sul, J.T. Lang, procurou focar seus eleitores em um projeto de obras públicas,
a grande ponte Sydney Harbour Bridge, que foi completada em 1932. Muitas
autoridades imaginaram que ainda mais liquidez seria a resposta para os
problemas da Austrália.
Como a escritora Anne
Henderson destaca na nova biografia de Joseph Lyons, o primeiro-ministro do
país na época, o governo federal australiano afastou-se da política de gastos e
optou pela austeridade. A partir de 1932, Lyons liderou o país em meio a uma
campanha de corte de orçamento para reduzir em 20% todos os gastos
desvinculados, que o governo pode usar livremente, o que incluiu os salários do
setor público. Lyons e outros líderes se comprometeram a pagar dívidas
australianas, no que ficou conhecido como o "plano dos premiês".
"A Austrália converteu
empréstimos imensos em Londres" e recomprou dívidas "para assegurar,
aos que emprestavam dinheiro, a solidez da política da Austrália",
contou-me Henderson, por e-mail. Os impostos foram elevados em uma campanha
total para transformar o déficit federal em superávit. A Austrália permitiu-se
apenas um ano de déficit.
De início, as pessoas disseram
que Lang, e não Lyons, estava certo. De 1933 em diante, no entanto, a Austrália
começou a recuperar-se. Em 1936, o desemprego havia recuado para cerca de 11%.
E continuou em queda. A Austrália recuperou-se com muito mais velocidade que os
EUA.
Em 1935, um Lyons triunfante
navegou aos EUA, no cruzeiro italiano Renault, para relatar o sucesso de seu
governo: "Tivemos de cortar salários e aposentadorias cruelmente durante o
auge da Depressão", disse Lyons a repórteres no píer, em Nova York.
Naquele momento, contudo, já estava recuperando as aposentadorias. Ao cortar, a
Austrália deu à sua economia a chance de crescer e, à sua moeda a crucial
credibilidade. Lyon pode ter elogiado Mussolini, mas a Austrália não virou
fascista.
Outros contam a história da
Austrália de forma diferente. Enfatizam a depreciação da libra australiana e a
resultante melhora das relações de troca. Ou argumentam que a Austrália,
pequena, e os EUA, um país poderoso, não são comparáveis.
A questão é, contudo, que
esses tipos de dados, da Hungria à Austrália, precisam ser examinados
cuidadosamente. Os roteiros normalmente conhecidos nem sempre são os certos.
E nem sempre são análogos ao
presente. O experimento de austeridade de David Cameron, primeiro-ministro do
Reino Unido, é recente demais para ser declarado como um fracasso. A
recuperação pode ser lenta, como foi a da Austrália. O Reino Unido, no entanto,
verá os benefícios a sua competitividade relativa criados pelos cortes mais
cedo do que tarde. O dinheiro que evita a incerta área do euro fluirá para o
Reino Unido.
Em resumo, só porque alguém
evoca a Grande Depressão não significa que uma nova era fascista esteja sobre
nós. Ou que é hora de uma "suspensão da descrença".
Texto: Amity Shlaes, jornal “Valor
Económico”, 16-12-2011. Tradução: Sabino Ahumada
Colaboração: Gracialavida
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-