É lamentável – e triste, que
novamente me sinta com necessidade de abordar o assunto “Poder Judiciário”,
depois de tê-lo feito há apenas um mês.
Mas a desnecessária celeuma em
torno da atividade do Conselho Nacional de Justiça de tal forma denegriu esse
Poder que cabem, aliás, impõem-se comentários adicionais.
Não sou um leigo absoluto,
como explico a seguir:
Durante seis anos (1992-1998)
atuei como Juiz Classista do Trabalho no TRT-RJ; durante 13 meses fí-lo como
Juiz do Tribunal, convocado; o restante do período em Junta de Conciliação e
Julgamento (o governo jamais deveria ter extinto as JCJs); os desvios de
conduta de Juízes Classistas deveriam ser corrigidos ao invés disso. Eliminar
as Juntas equivaleu ao ato de tirar o sofá da sala...
Digo-o com a maior
tranqüilidade, já que os juízes classistas, com o conhecimento real das
condições de trabalho, tinham preparo adequado para auxiliar os (as) juizes (as)
presidentes.
Por várias circunstâncias,
entre elas a proliferação de sindicatos absolutamente inexpressivos, uns
tantos, ou muitos classistas julgaram que sua função era a de estar presentes
às sessões.
Vários dos juízes titulares,
que eram contra a instituição, simplesmente ignoravam seus classistas durante
as audiências ou, melhor dizendo, faziam de conta que os classistas sequer
existiam.
É claro que, sem ouvir
adequadamente os dois lados, o governo FHC decretou o fim dos juízes classistas,
à medida que seus mandatos fossem terminando. No caso dos juízes de 2ª
instância, aconteceu o mesmo.
Muitos classistas se
aposentaram após 5 anos de mandato. Como não optei por esse caminho, não fui
aposentado pelo Tribunal; continuo vendo minha aposentadoria do INSS sendo
corroída pela inflação. Quando de minha aposentadoria pela previdência social,
recebi o equivalente a 10,91 salários mínimos; com o último reajuste decretado
pelo governo, passarei a receber o equivalente a 4,53 mínimos!
Mas, quero me referir ao CNJ e
aos juízes em geral, que estão combatendo com uma virulência brutal, a ação
desse órgão.
![]() |
Ministra Eliana Calmon, foto: Veja |
A Ministra Eliana Calmon não
está fazendo nem mais nem menos o que cabe ao Conselho fazer: um acompanhamento
virtualmente externo dos Tribunais (não entrando, em nenhum momento, na
qualidade ou no respeito à lei nas sentenças). Dedica-se, exclusivamente, às
questões administrativas.
E digo virtualmente externo
porque o CNJ não integra nenhum dos Tribunais; é independente, e não poderia
ser de outra maneira.
Sabe o Brasil inteiro que há
muita coisa errada nos tribunais, vale dizer, no Poder Judiciário como um todo.
E as coisas erradas têm que
ser apuradas, corrigidas e, se for o caso, os responsáveis pelas
irregularidades punidos. Como a justiça faz (ou deveria fazer) com qualquer
cidadão.
A lei que criou o CNJ foi
muito bem pensada e aprovada. Não cabe criticá-la agora como, igualmente, não
devem/podem ser criticados os que estão aplicando a lei com rigor.
Os juízes, e qualquer juiz,
têm que entender que é um cidadão como qualquer outro e, como tal, não deve ser
tratado diferentemente do tratamento dispensado a qualquer outro cidadão.
Ninguém é dispensado de, a
cada ano, apresentar sua declaração de renda; nem o(a) Presidente da República
tem esse direito.
Todos têm a obrigação de
cumprir as leis seja elas quais forem. Exceções são odiosas, especialmente para
os que não são abrangidos por elas...
Foi patética a aparição na
televisão de três juízes, Presidentes de três associações de magistrados,
protestando contra o fato de o CNJ ter solicitado à Controladoria Geral a
relação dos membros do Judiciário que haviam efetuado operações financeiras
atípicas.
Não só patética como ridícula.
E acusando falsamente a corregedora do CNJ de haver violado o sigilo bancário
dos juízes, o que não aconteceu.
Vale a pergunta: por que três associações?
Enfim, agora entendi por que
houve aquela tremenda campanha contra o controle externo do judiciário. Apesar
de juízes como o famoso Lalau e de alguns outros terem sido afastados
(continuam recebendo seus proventos; que beleza! Ócio remunerado!), devem
exisitir uns tantos outros por aí que querem continuar no bem bom!
Peter Wilm Rosenfeld, Porto
Alegre (RS), 18 de janeiro de 2012
ET: Pensando no título do
presente, que é a designação da Justiça como consta da Constituição; temos
também o Poder Executivo e o Poder Legislativo.
Mas, veio-me o pensamento de
que, com uma pequena troca na seqüência das letras que formam a palavra
“poder”, podemos escrever “podre”. E teríamos “Podre Judiciário”.
Interessante, não?
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