Com este Presidente e com
estes partidos não se fazem reformas a sério. Só a fingir
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Presidente da República
durante as honras militares
Manuel de Almeida/Lusa
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A política indígena tem andado
muito entretida com os conflitos entre o Presidente da República e o governo.
Dizem que Cavaco Silva recusa um Estado mínimo e anda de cabelos em pé com as
ideias liberais ou social-liberais de Pedro Passos Coelho. Sinceramente não há
pachorra para esta paróquia e para os paroquianos, uns mais beatos que outros,
que andam a descobrir o óbvio, uma tarefa meritória mas perfeitamente inútil
para a pátria, para os mercados e para os juros da dívida soberana nacional.
É evidente que o Presidente da
República nem quer ouvir falar em reformas do Estado, Um criador nunca gosta de
ver destruída a sua obra. Defende-a até ao fim, contra tudo e contra todos,
mesmo que essa posição signifique mais miséria para os que alimentam a
criatura. Não importa. O primeiro-ministro de Portugal que criou o monstro não
admite que o reduzam, que lhe façam umas lipoaspirações valentes e que a
sociedade civil, pessoas e empresas, não viva sufocada com o seu peso. Mas,
verdade seja dita, Cavaco Silva sabe que não existem grandes motivos de
preocupação em matéria de reformas e de um ataque eficaz ao monstruoso Estado
português.
No fundo, a democracia
portuguesa e os seus pilares não existem sem Estado. Os partidos nascidos do 25
de Abril não conseguem sobreviver sem a coisa pública, sem os empregos
públicos, os dinheiros públicos, os negócios públicos, as prebendas e as
mordomias públicas. Dito isto, está tudo dito. Não é só Cavaco Silva que não
deixa tocar na sua obra, no seu monstro.
Os partidos políticos do
chamado arco governamental, PSD, PS e CDS, com o inestimável apoio da esquerda,
BE e PCP, odeiam reformas, mudanças e quando são obrigados por alguma entidade
externa, como agora, ensaiam uns filmes estranhos, às vezes de horror, para
português e estrangeiro verem com o objectivo supremo de deixarem tudo na mesma
ou ainda pior. Basta ver a reforma do sistema político, da lei eleitoral,
promessas repetidas com a mão no peito e que, à vez, um ou outro dos dois
grandes partidos acaba por vetar muito oportunamente. É por estas e por outras
que não deixa de ser coerente o horror nacional à perda de soberania,
nomeadamente orçamental, e o coro de indignação sempre que o pagador de serviço
de países relapsos, como Portugal e a Grécia, fala em mandar um comissário ou
um governador vigiar de perto os irresponsáveis de serviço. A gritaria nada tem
a ver com patriotismos, nacionalismos ou um amor eterno à soberania. O barulho
é uma forma desesperada de evitar o fim da farra, dos desmandos e dos buracos
de quem manifestamente gasta o que não tem e ainda tem o supremo desaforo de
exigir mais dinheiro para continuar a festa. Os gregos andam agora a falar de
ocupação alemã porque receberam 110 mil milhões de euros em 2010, não tocaram
na balbúrdia do Estado, não conseguem cobrar impostos, mantêm um Estado obsceno
e agora precisam de mais 130 mil milhões para sobreviver. Os portugueses olham
para o seu vizinho grego e tentam pôr trancas à porta. Mas pelo andar da
carruagem o melhor é chegar o alemão. Rapidamente e em força salvar a pátria, a
democracia e esta miserável economia.
Título e Texto: António
Ribeiro Ferreira, jornal “i”, 31-01-2012
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