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Foto: Sérgio Lima/Folhapress |
Estado de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff
chamou ao Palácio do Planalto 28 dos maiores empresários do País para
pedir-lhes mais investimentos - como se algum deles precisasse de um apelo
presidencial para investir na ampliação de seus negócios e para ganhar mais
dinheiro e mais espaço em seus respectivos mercados. Quanto a esse ponto, pelo
menos, dificilmente haverá diferença entre esses líderes da indústria, do
comércio e do setor financeiro e a maioria dos dirigentes de empresas pequenas
e médias. Os chamados espíritos animais estão bem vivos no empresariado
brasileiro, apesar de todas as dificuldades para investir, produzir e vender,
especialmente para o mercado externo. A presidente não deveria preocupar-se com
isso. Mas os dirigentes de companhias de todos os tamanhos têm motivos para se
preocupar com a pouca disposição do governo de adotar as políticas necessárias
ao fortalecimento do setor produtivo e ao crescimento seguro da economia
brasileira.
Como era previsível, a reunião
serviu para a presidente encenar alguma iniciativa, num momento de muita
dificuldade com a base governamental e de vexaminosas derrotas no Congresso.
Além disso, converteu-se, como era também previsível, em mais uma oportunidade
para os empresários desfiarem o novelo de suas queixas e reivindicações, todas
bem conhecidas e diariamente citadas pela imprensa.
Os convidados falaram de
câmbio, carga tributária, encargos trabalhistas, custo do dinheiro, problemas
de infraestrutura e escassez de mão de obra qualificada. Trataram também, é
claro, de uma aberração inventada por alguns governadores, a guerra dos portos,
gravemente prejudicial à indústria brasileira: produtos importados com
incentivos fiscais, por meio de um protecionismo às avessas, são vendidos com
grande vantagem de preço em outros Estados, impondo uma concorrência
absurdamente desleal ao produtor nacional.
As falas da presidente e do
ministro da Fazenda, Guido Mantega, foram igualmente sem novidades, apesar da
abundância de palavras. As autoridades prometeram, mais uma vez, um grande
plano de redução de custos fiscais e financeiros. O corte de encargos
trabalhistas, iniciado em 2011, será estendido a novos setores, haverá
diminuição de impostos federais e crédito mais barato será oferecido aos
empresários. Além disso, o governo investirá em obras de infraestrutura e
tentará baixar o custo da energia. Todas essas promessas eram conhecidas.
Não valeria a pena os
empresários irem a Brasília para repetir suas queixas e para ouvir de novo as
declarações de bons propósitos do governo, exceto, talvez, por um detalhe: pelo
interesse de participar, ao lado de figuras muito importantes do setor privado,
de um encontro com a chefe do governo. No caso da presidente Dilma Rousseff,
muito menos propensa do que seu antecessor a reuniões desse tipo, a raridade do
evento também pode ter sido um atrativo.
Mas a presidente foi além das
promessas e da cobrança de mais investimentos. Ela pediu uma atuação mais forte
dos empresários a favor da Resolução 72/2011 do Senado, sujeita a forte
resistência de várias bancadas estaduais. Se essa Resolução for aprovada, a
redução das alíquotas interestaduais tornará muito mais difícil a guerra dos
portos.
Mas vários empresários
importantes e sindicalistas já estiveram no Congresso, nos últimos dias,
participando de sessões especiais sobre o assunto e já deram seu recado. A
presidente deve saber disso. Muito mais que um esforço de argumentação e de
esclarecimento, ela pediu, portanto, um trabalho para a conquista de votos.
Recorreu aos empresários, em suma, na esperança de terem êxito onde ela
fracassou. Nesse, como em vários outros casos importantes, o Executivo tem sido
incapaz de unir a base governamental em torno de um projeto considerado de alto
interesse para o País.
A maior parte do encontro foi
mera encenação de uma reunião produtiva entre a presidente e um grande grupo de
pesos pesados da economia. O resto foi uma demonstração explícita dos problemas
de um governo forçado a comprar e a recomprar, num comércio sem fim, a
fidelidade de sua base no Congresso.
Título e Texto: Editorial, Estado de S. Paulo,
24-03-2012
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por cá se demoniza a banca e os "patrões"...
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