André Abrantes Amaral
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Imagem: Rodrigo Amorim |
Andamos tão preocupados com a
crise da dívida, a possível saída da moeda única da Grécia, da Espanha e de
Portugal que esquecemos o desafio político que podemos enfrentar nos próximos
meses. A diferença da produtividade entre o norte e do sul da Europa, a que se
soma a incapacidade que os países mais pobres tiveram em perceber que a
solidariedade europeia implicava um esforço reformista que não levaram a cabo,
pode tornar-se fatal para o projecto europeu.
Pelos mesmos motivos, as
democracias europeias poderão sofrer transformações ainda hoje impensáveis.
Caso a moeda única acabe, é todo o programa político que está agora a ser
encetado que será posto em causa. Os seus governos perderão credibilidade
política e os partidos que os sustentam, pouco mais terão para dizer aos
eleitores. Caso o euro desapareça, o palco fica montado para outros actores políticos
que não os que estão hoje em cena. PS, PSD e CDS estão de tal forma implicados
no programa da troika que correm o risco de serem ultrapassados pelos
acontecimentos, caso as políticas seguidas até agora para salvar a moeda única
percam sentido.
Mais grave ainda será a
helenização política da Europa. O fim do euro é o fim político de Merkel e da
liderança alemã. Ora, se sem Merkel a Alemanha vai pensar o que quer fazer da
vida, sem Alemanha a Europa volta ser um continente no qual os seus vários estados
só têm em comum a história. E esta já nós conhecemos bem demais.
Título e Texto: André Abrantes
Amaral, jornal “i”,
26-06-2012
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