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José Sócrates e Teixeira dos Santos, foto: Ricardo Oliveira/GPM |
Paulo Lopes Marcelo
Um ano volvido, à beira de um
Verão quente, há balanços que já podem ser feitos. Mas para isso vale a pena
lembrar de onde partimos e onde chegámos.
De uma situação de emergência,
a um passo da bancarrota, é justo reconhecer que o Governo está a conseguir
inverter a trajectória dos últimos anos, reduzindo a despesa pública e o peso
do Estado na economia. Por pressão externa, é verdade, mas com o mérito de
cumprir fielmente uma agenda de reformas estruturais que tem permitido que
Portugal comece a ser visto com outros olhos lá fora. A descida das taxas de
juro aí está para o comprovar, tal como as exportações, que permitiram a
primeira balança comercial positiva desde a II Guerra Mundial.
Pode isto ser feito sem dor?
Alguns dizem que sim, esquecendo porventura o que nos trouxe até aqui. A
memória é curta e as opiniões mudam depressa. Ainda há poucos meses a ladainha
era "vivemos acima das possibilidades", “é preciso mudar de vida”,
mas agora, à medida que o cinto aperta, as mesmas vozes dizem que se está a ir
longe demais. Alguns ventos mudam à medida que é o nosso grupo a sofrer com os
cortes.
Nem poderia ser de outro modo,
o sofrimento é resistência à mudança. Mas o mais curioso é que são aqueles que
nos trouxeram até aqui os primeiros a vacilar. O PS vive um dilema permanente
entre a fidelidade a um programa com a sua assinatura e as críticas
oportunistas à austeridade. Uma posição demagógica porque os socialistas sabem
que teriam de aplicar a mesma receita se fossem governo. Sabem que o problema
não está resolvido, longe disso, e não podemos alargar o cinto ou começar a
distribuir dinheiro, como se fez no passado, com os resultados conhecidos.
Por mais que custe a crise não
acabou. Apesar das reformas feitas (arrendamento, mercado laboral,
licenciamento industrial...), continuamos com um problema da competitividade,
com reflexos graves nos desemprego, a justiça lenta, o Estado gordo, os
impostos excessivos. Mas é justo reconhecer que o Governo tem lutado pela
sustentabilidade. Prova disso são as reacções generalizadas, desde médicos,
militares, professores, acabando nos pilotos da TAP. O que mostra coragem em
enfrentar algumas vacas sagradas. Ou alguém acredita que o ministro da saúde tem
uma especial embirração pelos médicos? Ou que se levanta de manhã a pensar qual
o serviço de urgência vai encerrar nesse dia?
A maior parte destas reacções
são legítimas, mas o que é preciso ver é se o interesse colectivo - em especial
das novas gerações escravizadas pela dívida - deve prevalecer sobre os
interesses particulares, por mais poderosos que sejam ou com mais acesso à
comunicação social. Ou será que os maquinistas da CP têm um direito acrescido a
horas extraordinárias só porque conseguem parar os comboios durante meses? Se
não mudamos o nosso futuro será tão curto como a nossa memória.
Título e Texto: Paulo Marcelo, Jurista, Diário Económico, 24-7-2012
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