Olhem como a Esquerda reporta
as manifestações que não são como ela quer, nem pode manipular ou infiltrar-se, ou que são contra ela.
Impressionante a semelhança entre as manifestações na Argentina, na
quinta-feira, e as de sábado, em Portugal. Aqui, foi lindo o insulto grosseiro
(nem uma palavra de censura), na Argentina foi “extremamente agressivo”; aqui
as televisões estavam em direto, inclusive as privadas SIC e TVi, muito lindas,
na Argentina são do grupo Clarín, antagonista do atual governo; aqui, a classe
média está empobrecendo e saíu às ruas, na Argentina é uma classe média
furiosamente inconformada com tudo (‘não nos deixam comprar dólares, não nos
deixam poupar, não nos deixam viajar, não nos deixam nada, o que é isso, outra
ditadura?’). Mais nada direi em respeito ao meu único leitor, que é mais
inteligente e perspicaz do que eu.
Um abraço./-
Argentina: um protesto mais raivoso que ruidoso
Um ponto que impressionou na
manifestação de quinta à noite é revelador da índole da mesma. Nas palavras de
ordem ouvia-se frases extremamente agressivas, gritadas a todo pulmão. Algumas
ressoavam pelos alto-falantes dos carros de som. “Morra, sua égua”, “Cai fora,
sua puta ladra e terrorista” ou “Vai para Cuba, sua putona” são as mais suaves
e publicáveis. Esse ódio de classe contra os peronistas, não é nenhuma novidade
no país, e especialmente em Buenos Aires. Poucas vezes, porém, foi tão
ferozmente exibido em público.
O artigo é de Eric Nepomuceno.
Buenos Aires - Na verdade,
desta vez foi diferente, bem diferente: não eram apenas algumas centenas de
granfinóides protestando em esquinas elegantes de Buenos Aires. Não: na
manifestação de quinta à noite havia, em Buenos Aires, vários milhares de
pessoas, que se concentraram em diferentes pontos da capital mas principalmente
na Plaza de Mayo, diante da Casa Rosada, a sede da presidência. Também houve
manifestações em Córdoba, Rosário, Mar del Plata, Mendoza, as cidades mais
importantes do país. É algo a ser levado em consideração, sem dúvida. Mostra um
grau de polarização que começa a se tornar cada vez mais nítido, e do
endurecimento das classes médias e altas.
Outra diferença notável, se
comparada aos panelaços portenhos de maio e junho: foi uma mobilização muito
bem organizada, convocada ao longo de mais de uma semana pelas redes sociais,
que na Argentina são muito utilizadas. E outra: assim que as pessoas começaram
a se concentrar na Plaza de Mayo, o canal TN, do grupo Clarin, passou a
transmitir tudo ao vivo. Os comentaristas se esmeravam em destacar o caráter
multitudinário da manifestação, ressaltando que “o mal estar finalmente chegou
às ruas”, título, aliás, do editorial do jornal impresso que circulou no dia
seguinte.
Lendo o jornal, tem-se a
impressão que o povo decidiu sair às ruas para manifestar sua discordância
implacável com um governo de absurdos. Inevitável, surgiu na emissora do grupo
Clarín a comparação com as gigantescas mobilizações populares que, em dezembro
de 2001, culminaram com a renúncia de Fernando de la Rúa, um presidente amorfo,
inepto, sem apoio popular algum, que acabou indo embora de helicóptero pelo
telhado da Casa Rosada. Tão forçada e sem base era a comparação, que foi
deixada de lado.
Aliás, vendo as imagens
transmitidas pelo canal aberto do mesmo grupo que detém, e quer manter, o
monopólio da informação no país, saltava aos olhos uma contradição: a
esmagadora maioria dos manifestantes distava milhas náuticas do que normalmente
é chamado de popular. Eram senhoras e senhores bem vestidos, jovens em roupas
de estirpe, moçoilas maquiadas como se fossem para algum lugar da moda.
Os gritos de reivindicação
também chamaram a atenção, porque normalmente na Argentina – um país
extremamente politizado – as mobilizações populares são bastante precisas em
suas reivindicações. Desta vez, não: protestava-se contra um pouco de tudo. A
questão da segurança pública, a suposta reforma constitucional que permita que
Cristina Kirchner se candidate à presidência pela terceira vez, o controle
sobre o câmbio, que impede aos mais abastados que continuem poupando e
especulando com o dólar, a censura à imprensa (que tanto não existe que tudo
isso saiu nos jornais do dia seguinte), os impostos, a inflação (que
efetivamente é altíssima no país, enquanto o governo teima em difundir índices
nos quais ninguém, nem no próprio governo, acredita), o desemprego (que há
décadas não é tão baixo), a intromissão do Estado nos currículos escolares, e
contra várias coisas mais.
O próprio governo confessou
não ter conseguido saber contra o quê, exatamente, protestavam aqueles senhores
circunspectos e aquelas senhoras bem vestidas. Nenhum líder político da
oposição apareceu, embora vários deles deitassem falação nos dias seguintes,
advertindo sobre a falta de diálogo com um governo que ignora os anseios
populares. A propósito: na mesma quinta-feira a presidente havia anunciado um
aumento de 26% no valor da bolsa família local.
Um ponto que impressionou, e
muito, é revelador da índole da manifestação. Nas palavras de ordem ouvia-se
frases extremamente agressivas, gritadas a todo pulmão. Algumas ressoavam pelos
alto-falantes dos carros de som. “Morra, sua égua”, “Cai fora, sua puta ladra e
terrorista” ou “Vai para Cuba, sua putona” são as mais suaves e publicáveis.(Ó coitados!)
Essa espécie de furor
descabelado, esse ódio de classe contra os peronistas, não é nenhuma novidade
no país, e especialmente em Buenos Aires. Poucas vezes, porém, foi tão
ferozmente exibido em público.
O antagonismo definitivamente
explícito entre governo e o maior grupo de comunicação do país, o Clarín,
também chegou ao nível máximo de exacerbação. Cristina Kirchner não tem limites
ou pudores na hora de criticar o grupo, que por sua vez não tem o mais tênue
verniz de escrúpulos na hora de distorcer, de forma quase bizarra, seu
noticiário.
Esse enfrentamento vai além,
bastante além, das descargas elétricas entre governo e um monopólio de
comunicação. Por trás do grupo Clarín há interesses de todos os calibres e
parâmetros. Chego a pensar que não seria por acaso que aconteçam, daqui para a
frente, panelaços como o de quinta-feira. E que suas dimensões e repercussões,
embora suficientes para dar ao governo o quê pensar, serão infinitamente
infladas pelos grandes meios de comunicação, para gáudio de uma classe média
furiosamente inconformada com tudo (‘não nos deixam comprar dólares, não nos
deixam poupar, não nos deixam viajar, não nos deixam nada, o que é isso, outra
ditadura?’, esbravejava na televisão uma senhora elegante, que já teve dias
melhores mas não perdeu a pompa e a soberba). Afinal, convém não esquecer que,
em dezembro, entra em vigor a nova lei de meios de comunicação no país, e que,
se aplicada, será o golpe mortal no maior conglomerado da Argentina –
exatamente o grupo Clarín.
Título: Eric Nepomuceno, Carta Maior, 17-9-2012
Algumas fotos que acabo de "colher" na internet, tem muito piores, mas estou sem saco de continuar procurando...
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Eis indícios fortes de vigarice intelectual:
ResponderExcluir"ódio de classe"
"granfinóides"
"endurecimento das classes médias e altas."
"monopólio da informação"
O vigarista é tão cara de pau, que, após debochar das críticas à censura, trata de confirmá-la em sua última sentença.