Existe em geopolítica aquilo
que os entendidos chamam de “áreas de influência” que os países fortes tentam
justificar como áreas onde podem ser criadas condições consideradas ameaçadoras
à sua segurança nacional.
A falta de qualquer
impedimento significativo à invasão russa da Geórgia em 2008 e a consequente
anexação de duas províncias desse país ao território russo, a Abkasia e a
Ossétia do Sul, e agora a invasão militar e anexação política da península da
Criméia tomada da Ucrânia pela Rússia de Putim, representa um desafio enorme ao
Ocidente, tanto quanto a expansão do novo império russo, como também pela
fraqueza demonstrada pelos EUA em fazer o mesmo dentro da sua própria “área de
influência”, principalmente no continente americano.
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Teatro de operações da invasão
russa da Geórgia em 2008 e anexação de duas províncias georgianas ao território
russo, um dos maiores do mundo.
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Diriam os críticos brasileiros
que “uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”...
Mas eu digo que os EUA, depois
de consolidado o território que têm hoje em dia, graças a Deus e por sorte do
resto do mundo, nunca tiveram a intenção ou vontade política de conquistar e
anexar qualquer outro país ao seu já extenso território, mesmo dentro de sua
assim chamada “esfera de influência”. Muito pelo contrário, países que foram
ajudados ativamente pelos americanos a se libertar das garras do socialismo
nazista, fascista, soviético, e etc., foram tremendamente fortalecidos por
planos de recuperação econômica, como o Plano Marshall, que tornaram esses
países destroçados pela guerra a retornarem à mesa dos países ricos e aliados,
mas não anexados, ou seja, que mantêm hoje incólumes a sua soberania nacional.
Não se pode dizer isso da
Rússia, que tenta, decaradadamente, reconstruir o antigo império soviético
existente antes da queda do muro de Berlim. Moscou não se satisfez em
simplesmente mudar, na Ucrânia e na Geórgia, regimes semidemocráticos,
nacionalistas o suficiente para não se deixarem conduzir pelas decisões do
Kremlin. Foi mais adiante e invadiu com suas tropas e começou a anexar
territórios de seus infaustos vizinhos ao seu próprio.
Caso se limitasse a apenas
fomentar a mudança de regime nesses vizinhos, a ação russa, mesmo que
condenável e imperialista, não seria tão indefensável quanto a invasão armada e
anexação pura e simples de territórios, ignorando a soberania nacional de seus
vizinhos sob o argumento de que a maioria da população, de origem russa, assim
o desejava.
Isso tem o poder de abrir um
precedente internacional altamente preocupante, qual seja agora a
possibilidade, com base na mesma doutrina de “áreas de influência” das
superpotências, intervir nos países que compõem essa “área” e que não precisam
ser seus vizinhos diretos, mas que tenham governos hostis a elas.
Mesmo que seja moralmente
inaceitável e geopoliticamente talvez uma necessidade, o desrespeito direto
pela soberania nacional por parte das superpotências, à guisa do que está a
fazer a Rússia com seus vizinhos, abre precedente que não só justificará novas
invasões e anexações por parte de Moscou em direção aos países eslavos, aos
países bálticos, à Hungria, a Polônia, além de outros, nessa tentativa até
agora permitida pelo Ocidente de remontagem do antigo Império Soviético, mesmo
que não volte a ser soviético.
Por outro lado, isso também
poderá ensejar os EUA, por exemplo, a invadir militarmente Cuba, Venezuela,
Equador, Brasil, Argentina e outros países de sua “área de influência” que têm
governos amplamente hostis a Washington, mesmo que a intenção seja apenas de
remoção dos respectivos regimes e o subsequente estímulo ao fortalecimento da
democracia e do capitalismo privado nesses países.
Para a nossa sorte, não tem
sido do feitio norte-americano anexar e colonizar países que podem facilmente
conquistar militarmente, mesmo que sua população possa eventualmente desejar
isso, como o Canadá, o México, a maioria dos países da América Central e alguns
da América do Sul. E ninguém poderia dizer nada, da mesma forma como,
praticamente, não estão a dizer nada para condenar a ação russa na Eurásia.
Daí, por outro exemplo, para a China retomar Taiwan é um pulinho à toa, assim
como anexar toda a Península Coreana.
A fraqueza norte-americana de
fazer valer os seus interesses regionais já vem se manifestando desde o fim da
era Reagan e durante o fiasco que foi o governo Bush. A última “intervenção”
significativa foi no Chile, com a derrubada do comunista Allende e o Chile se
beneficiou tanto disso que hoje é o país mais adiantado da América do Sul,
mesmo tendo algumas administrações da social-democrata Michele Bachelet, uma
médica pediatra.
A pergunta que vem à mente de
qualquer observador atento ao cenário mundial, neste planeta “globalizado”, é:
“Será que os norteamericanos terão a
força, a determinação, a decisão de Putin para, mesmo sem anexar, pelo menos
destituir os regimes socialistas que estão sendo implantados dentro de sua
‘área de influência’ e arrasando as economias de seus países, como a Venezuela,
a Argentina e o Brasil, por mais que um contingente expressivo das suas
populações assim o deseje”?
Título e Texto: Francisco Vianna, 19-03-2014
Impressionante a covardia da Direita perante a Esquerda. Sempre foi assim, tenho que convir!
ResponderExcluirImagine se fosse o Bush a acabar com a zona na Venezuela. Eu disse, acabar com a ZONA, não disse OCUPAR e ANEXAR.
Os desocupados, os militantes profissionais e os pendurados nas tetas do estado social europeu, estariam nas frentes das representações diplomáticas norte-americanas gritando um ror de bobagens e insultos!!
Ou não?