Eu já comentei por aqui as
entrevistas de Aécio Neves (12-8), Dilma Rousseff (18-08) e Pastor Everaldo (19-08). Agora é a vez de Marina Silva, a entrevistada de hoje,
quarta-feira, 27-8.

Na última pergunta deste tema
Bonner disse: “Não lhe faltou o rigor que a senhora exige dos seus
adversários?”. Ou seja, desde o começo o frame a ser associado à Marina seria
“vazia” (em termo de discurso) e “anti-ética”. Mas após dar sua resposta,
onde ela manteve o discurso, Marina concluiu com: “William, eu não uso de dois
pesos e duas medidas”. Os frames de Bonner foram neutralizados.
J
á eram seis minutos quando
Patricia Poeta entrou em um tema espinhoso: a baixa popularidade de
Marina em 2010 quando terminou em terceiro no Acre, seu estado de origem.
Marina deu vários argumentos, como “Há um provérbio que diz: ‘é muito difícil
ser profeta em sua própria terra’, pois temos que confrontar os os
interesses.Contrariei muitos interesses no Acre ao lado de Chico Mendes, índios
e seringueiros”.
Quando Patricia Poeta insistiu
que isso poderia ser uma rejeição dos acreanos a alguém que conheciam, Marina
respondeu que ela concorreu com duas máquinas para financiar campanhas (PT e PSDB)
enquanto ela própria não tinha nada disso. Com a insistência de Patrícia,
Marina disse que provavelmente a entrevistadora não a conhecia direito. A
candidata concluiu dizendo que não era filha de político tradicional nem de
algum empresário, e que era comum que no estado dela somente pessoas
com esses requisitos se elegessem. Marina também lembrou que não tinha jornal e
TV para apoiá-la, ao contrário dos oponentes.
Patrícia tentou uma cartada:
“É culpa dos acreanos então?”. Marina disse: “Não é culpa dos acreanos, é culpa
das circunstâncias”. Em sequência disse: “Cheguei a ficar quatro anos sem
andar no meu estado. Eu não podia trocar o futuro das futuras gerações pelas
próximas eleições. Preferi pagar o preço de perder os votos”.
Quer dizer, Patrícia tentou
impor à Marina o frame “mal avaliada pelos seus”. Marina neutralizou o frame e
ainda se vendeu como “vítima das circunstâncias, contra os
poderosos”. No Brasil, este frame cala ao coração do povo, com certeza. E ainda
de lambuja ela mostrou-se desinteressada em lutar por votos momentâneos
quando existem objetivos maiores. Em suma, até quando se defendeu, Marina
conseguiu “se vender” bem.
Bonner voltou à tentativa de
questionar a “nova política” de Marina, dizendo que o vice Beto Albuquerque
discorda dela em relação às pesquisas com células tronco e os transgênicos. Em
relação a isso, Marina não apenas se defendeu como reforçou o frame da nova
política.
Veja o que ela disse: “Nós
somos diferentes, mas a nova política sabe trabalhar na diversidade. Há uma
lenda de que eu sou contra os transgênicos, mas eu defendia a coexistência:
áreas com transgênicos e áreas livres de transgênicos. Infelizmente, no
Congresso, não passou a proposta de coexistência e o Beto votou na que
avançou”. Ao final ela apontou convergências entre os dois, para passar a
mensagens de que a associação dela com Beto só envolve pequenas divergências de
ideias, e não alianças com inimigos.
Eu sei que muitos eleitores de
Aécio ou Pastor Everaldo não vão gostar de minha avaliação, mas assim como fiz
com as outras entrevistas, estou usando o mesmo critério: o da análise de
frames.
Marina foi muito mais
consistente do que no debate de ontem (e na minha avaliação ela havia sido a
segunda melhor, praticamente em empate técnico com Aécio) e a melhor das
entrevistadas, pois nenhum dos frames negativos que tentaram impingir a ela
ficaram grudados em sua testa. Ao contrário, todos foram neutralizados e até em
sua defesa ela anexou a si própria novos frames positivos, como “oprimida
lutando contra poderosos”.
Uma outra medida do desempenho
de Marina pode ser obtida a partir da navegação pela BLOSTA. Ninguém está
comemorando ou tripudiando em cima dela, como fizeram após a entrevista de
Aécio em 12/8. Estão calados. Silenciosos. Por que sabem que a Marina foi a
melhor das entrevistadas pelo JN. Disparado.
Eu não quero entrar no mérito
de se as respostas delas são corretas ou não. Este não era o objetivo destas
análises. Eu próprio não gosto de vitimismo, e ela usou esse recurso. Mas o
fato é que ela usou os frames que funcionaram. E se o objetivo é ganhar a
eleição, esse é o caminho.
Dilma e Aécio, podem ficar
ainda mais preocupados.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 28-08-2014
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