Luciano Henrique
O debate de ontem na Record foi deprimente. Mesmo que Dilma tenha
ganho por pouco (embora tenha perdido de Aécio por goleada no debate do SBT, e
por pouco no da Band), foi o mais fraco de todos os debates. Especialmente
pelos ataques repetitivos (embora menos agressivos do que antes) de Dilma e
pela tranquilidade excessiva de Aécio Neves.

Pelo segundo debate consecutivo, Dilma
Rousseff e Aécio Neves emboscaram a audiência. Quem se pendurou na tevê, na web
e no rádio à procura de ideias desperdiçou tempo. No confronto eleitoral mais desqualificado desde a sucessão de 1989, os
presidenciáveis exibiram apenas os punhos. Ninguém esperava por uma troca de
perguntas florais. Mas se porrada resolvesse os problemas da nação, Anderson
Silva seria um candidato bem mais competitivo.
O desempenho da economia é medíocre, a
inflação é alta, os juros são elevados, o déficit externo bate recorde, a
deterioração fiscal é alarmante, a dívida pública cresce e os investimentos
definham. Sobre isso não se falou com a profundidade desejável. Mas ficou-se
sabendo que Dilma, embriagada pelo marketing, acha que Aécio fugiu do bafômetro
em 2011 porque estava bêbado. E Aécio revelou à nação que Dilma terceirizou o
nepotismo, empregando o irmão na prefeitura companheira de Fernando Pimentel,
em Belo Horizonte.
O presidencialismo de cooptação produziu
na Petrobras uma roubalheira sem precedentes. Quando os depoimentos prestados
em regime de delação puderem soar em público, o mensalão parecerá um desses
casos que transitam pelos juizados de pequenas causas. Cutucada por Aécio,
Dilma respondeu que sabe o que o PSDB fez no verão passado. E o tucano: por
que, em 12 anos, não mandaram investigar?
Nesse lero-lero, nenhum dos dois abordou
o essencial: o modelo político adotado por PT e PSDB faliu. O fisiologismo
deixou de ser parte do sistema. Passou a ser o próprio sistema. Está tão
integrado ao cenário brasiliense quanto as curvas da arquitetura de Niemeyer. O
empate nas pesquisas e o nanismo dos debates impedem a antecipação do nome do
próximo inquilino do Planalto. Mas já se pode assegurar, sem margem de erro: o
PMDB e seus vícios serão os esteios da governabilidade.
As duas grandes encrencas nacionais —os
desajustes econômicos e a hecatombe da delação— já fizeram de 2015 um ano
miserável. Em relação à economia, Aécio faz o diagnóstico sem esmiuçar a
terapia. E Dilma finge não enxergar nem a doença. Quanto à breca do sistema
político, não se ouviu uma mísera palavra nos dois debates já realizados no
segundo turno.
Já está claro que o atual modelo de
debates precisa ser reformulado. O caso é de menos marketing e mais sobriedade.
Se havia alguma dúvida sobre a decadência da fórmula, foi eliminada na noite
desta quinta-feira, nos estúdios do SBT. Mas não há o que fazer nos dez dias
que faltam para a eleição. Estão programados mais dois debates. De duas, uma:
ou Dilma e Aécio levam meio quilo de ideias à bancada ou os telespectadores
mais antigos terão saudades das baixarias encenadas por Fernando Collor em
1989.
É lamentável essa postura. É
especialmente uma pena por que Josias estava fazendo um bom trabalho até o
momento nessas eleições.
Até agora vivíamos um momento
em que o PT batia sozinho. Não víamos do lado dele uma indignação tão grande
quanto como agora, em que o candidato Aécio resolveu revidar os ataques na
mesma moeda. Este é o apaziguador, o pior papel existente na política.
O que havia de “baixo nível”
na atitude de Aécio, Sr. Josias? Se não há “baixo nível” na atitude de Aécio,
então não temos uma “campanha de lado a lado de baixo nível”. Esse texto parece
até discurso do amiguinho do bully, revoltado quando a vítima do bullying
reage.
Então eu vou dizer isto aqui
de forma tão clara quanto possível: todos os jornalistas que reclamam da
“agressividade dos dois lados” dizendo que isso é “lamentável para a campanha”
estão sendo intelectualmente desonestos. A mim não enganam!
O resultado é que
ontem Aécio esmoreceu, enquanto Dilma continuou com suas baixarias. Mas se
o PSDB tivesse atacado o PT desde o começo, lá no início do primeiro turno, aí
sim o PT poderia estar mais contido, pois o verdadeiro respeito mútuo só
existe quando os dois lados passam a temer o ataque do outro. O problema é
que o PT ficou 90% desta campanha com o monopólio dos ataques. E os usou de
forma plena.
Não é a reação de Aécio no fim
do primeiro turno e agora que está criando uma “campanha agressiva”, mas a passividade
da oposição durante grande parte da eleição. Também não deixa de ser
verdade que a passividade de um lado atrai a agressividade do outro.
Os jornalistas que hoje estão
lamentando “a agressividade dos dois lados” são corresponsáveis por sua omissão
cínica quando apenas o PT tinha o monopólio dos ataques.
Parte da responsabilidade pela
baixaria existente hoje (apenas de um dos lados) é destes apaziguadores, que
sempre se escondem quando apenas o lado deles está atacando, mas aparecem
quando o outro lado começa a reagir.
Que Aécio mande às favas esses
apaziguadores indecentes e venha com “sangue nos olhos” para o debate da Globo. Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 21-10-2014
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