João Luiz Mauad

Com a eleição do senhor Tsipras, pode-se dizer que
o bolivarianismo desembarcou na Grécia. Tenho pena dos gregos, cujo
futuro se mostra bastante nebuloso, para não dizer doloroso.
Se Milton Friedman já nos
havia alertado sobre o mito do almoço grátis, recentemente Paulo Rabello de
Castro muito bem descreveu o ‘Mito do Governo Grátis’ (não deixem de adquirir, pois vale cada centavo do preço).
Segundo o autor, “O Mito do Governo Grátis é um fenômeno político que
promete distribuir vantagens e ganhos para todos, sem custos para
ninguém”. Tudo indica que foi justamente por acreditar na existência de governos
grátis que os gregos elegeram o partido Syriza.
O que até pouco tempo era tido
como uma grande virtude econômica, a austeridade, de uma hora para outra,
transformou-se no maior dos vícios, pelo menos para a maioria dos gregos – só
para lembrar, as políticas de austeridade, contra as quais os gregos votaram no
domingo, significavam apenas que o governo deveria limitar seus gastos àquilo
que arrecada, sem aumentar sua dívida e sem emitir dinheiro para financiar seus
gastos. Não tenho dúvida de que os gregos estão trocando a dor de uma recessão
agora pelo pesadelo de algo muito pior um pouco mais adiante.
A Grécia é hoje um retrato
cruel da decadência do estado de bem estar social europeu. Ninguém admite
nem sequer a possibilidade de perder algum “direito adquirido”.
Aposentados, pensionistas, funcionários públicos, estudantes, todos querem
manter seus “direitos”, pagos régia e religiosamente pelo governo, claro. Pouco
importa quem vai pagar a conta, no presente ou no futuro. Acreditam que o
Estado é uma fonte inesgotável de recursos, bastando aquilo que os demagogos
convencionaram chamar de “vontade política” para que recursos abundantes se
materializem nas contas do governo. Por outro lado, ninguém admite
aumentar a carga de trabalho nem tampouco pagar impostos – não por acaso, na
Grécia, a sonegação fiscal é uma das maiores do mundo.
Nesse sentido, é realmente
exemplar o resultado da eleição, que colocará no poder um partido de extrema
esquerda – algo praticamente inédito na Europa desde a queda do Muro de Berlim
-, pois mostra, em cores vivas, o que pode acontecer quando um país inteiro
vira as costas para a realidade e resolve que pode viver acima de suas
possibilidades, sem se importar com a conta. Ou pior: achando que
terceiros (no caso, principalmente os credores) estariam obrigados a pagá-la.
Os gregos (ou pelo menos a maior parte deles) estão embriagados pela
fantasia do “governo grátis” e seus políticos possuídos pelo devaneio de prover
a felicidade geral sem custos, ou melhor, à custa dos outros. Não tem
como dar certo.
A própria permanência na União
Européia é hoje vista com desconfiança, principalmente porque a união monetária
que oficializou o Euro como moeda única tornou-se um grande entrave para os
governos perdulários. Se antes as crises financeiras eram “enfrentadas”
com medidas populistas irresponsáveis, como emissão de moeda (leia-se:
inflação) e manipulação das taxas de juros e câmbio, na Grécia de hoje isso não
é possível, já que o governo não tem ingerência sobre o BC europeu.
Por isso, dificilmente o novo
governo grego manterá o país atrelado ao Euro. A curto prazo, será um
alívio, mas lá na frente a recessão e a inflação, a exemplo do que ocorre hoje
com a Argentina, virão cobrar a conta.
João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ,
profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora
e Gazeta do Povo.
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