Albino Castro
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Diogo Cão e o padrão no
estuário do Zaire
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Uma valiosa mostra, que se
encerra no próximo domingo, 26 de abril, expôs no Museu do Oriente, em Lisboa,
200 exuberantes joias, em ouro e prata, dos áureos tempos da Carreira da Índia,
as caravelas que, anualmente, entre os séculos XVI e meados de XIX, faziam a
rota Lisboa-Goa-Lisboa – a transportar ricas especiarias e também preciosas
peças elaboradas pelos ourives da Índia e da China. Prova de que a pimenta de
Cochim, na Índia, a canela do Ceilão (atual Sri Lanka) ou o cravinho das
Molucas (arquipélago integrado hoje à Indonésia) não eram os únicos tesouros
cobiçados pelos portugueses na Ásia – como ressalta o texto do guia da
exposição, inaugurada dia 13 de novembro de 2014, nos amplos salões do Museu do
Oriente, à Avenida Brasília, na antiga Doca Norte de Alcântara, próxima ao
bairro de Belém.
Eram igualmente cobiçadas
pelos exploradores lusitanos da Carreira da Índia as preciosas peças de
ourivesaria exibidas à mostra. Como, por exemplo, o cofre com as armas de
Álvaro de Castro, filho do Vice-Rei da Índia, João de Castro (1550 – 1548),
que, segundo o Museu do Oriente, foi exibido pela primeira vez ao público. Eram
objetos disputados em toda a Europa. Mas, sobretudo, na Península Ibérica, na
metrópole Lisboa e na capital da região espanhola da Catalunha, a mercantilista
Barcelona, debruçada sobre o Mediterrâneo Ocidental.
A Coroa de Lisboa, ao navegar
o planeta com as suas caravelas da Carreira da Índia, deixou, como legado, em
troca das especiarias e as delicadas joias orientais, o próprio idioma, falado
em todos os continentes, a Fé Católica, testemunho ainda hoje da presença
lusitana, e os esplendidos padrões dos descobrimentos – esculpidos em pedra
portuguesa ou fundidos em ferro com o histórico brasão das cinco quinas.
Padrões que foram erguidos ao longo de quase toda a costa africana, do
Atlântico ao Oceano Índico, como este que aparece ilustrando a coluna, fincado
por Diogo Cão (1440 – 1486), na Foz do Rio Zaire, no Congo, ou por Bartolomeu
Dias (1450 – 1500) e Vasco da Gama (1460 – 1524), bem como na Ásia,
principalmente nos territórios da Índia. Presentes também no Brasil.
Existem, aqui, dois valiosos padrões. O mais antigo é o de Natal, capital do Rio Grande do Norte, fincado em 1501, numa expedição portuguesa da qual fez parte o célebre navegador florentino Amerigo Vespucci (1454 – 1512), que conhecemos por Américo Vespúcio – e dá nome ao continente. O padrão da capital potiguar, em pedra lioz, esteve durante séculos na Praia de Touros, a 145 quilômetros ao Norte de Natal, mas, desde 1976, encontra-se protegido no interior do monumental Forte dos Reis Magos [foto ao lado]. Possui 1,62 de altura e 32,5 centímetros de largura. Muitos potiguares acreditam que o padrão trazido por Vespucci é uma pedra santa capaz de fazer milagres. São organizadas, anualmente, peregrinações de fieis ao Forte dos Reis Magos – como se de uma virgem milagrosa se tratasse.
O segundo padrão em território
brasileiro é o de Porto Seguro, ao Sul da Bahia, onde desembarcou, em 1500,
Pedro Álvares Cabral, porém, o marco só seria colocado três anos mais tarde.
Mas o erudito historiador baiano, Pedro Calmon (1902 – 1985), julgava que o
padrão só teria sido fixado na costa baiana em 1535 – quando do início da
colonização portuguesa do Brasil.

Vasco da Gama também plantou
padrões em Moçambique – no Melinde e na própria Ilha de Moçambique, onde seria
erguida a primeira grande fortaleza lusitana na costa Índica. Três dos padrões
de Diogo Cão e um de Bartolomeu Dias foram recuperados no século passado por
pesquisadores da Sociedade de Geografia de Lisboa. Mas os de Vasco da Gama
continuam perdidos.
Certamente, por ter resistido
por quase 500 anos às intempéries da Praia do Touro, o padrão português
preservado agora no forte natalense dos Reis Magos é considerado milagroso para
tantos potiguares. Uma joia preciosíssima que desafiou os séculos de maresia.
Tão valioso, historicamente, quanto o cofre do Governador João de
Castro,Vice-Rei do Império Português do Oriente. Autênticas joias da Carreira
da Índia.
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