Após o regresso da primeira
viagem a Siracusa e depois da funesta experiência com Dionísio, o Velho, Platão
voltou a Atenas, onde fundou um centro de ensino e formação para os seus
discípulos, pelos vistos graças ao dinheiro que lhe foi entregue por Anicérides
de Cirene, que o libertara da escravatura em Egina. A escola designou-se como
“Academia” (nome com que desde então nos referimos a um centro formativo), pela
localização na qual foi construída: uns terrenos situados nos arredores de
Atenas, nuns jardins que albergavam um santuário dedicado a um herói menor,
Academo.
Dispomos de poucas notícias
acerca do programa seguido na Academia, porém, atendo-nos ao ideal formativo
exposto em A República, os estudos deviam durar quinze anos, o dez primeiros
dedicados à matemática, considerada por Platão como a disciplina que aproximava
e preparava a alma para a compreensão das Formas (e portanto da realidade).
Somente então se encontrava o discípulo em condições de enfrentar os últimos
cinco anos consagrados às questões propriamente filosóficas.
Com efeito, chegaram-nos umas
quantas provas da importância da matemática no programa curricular da Academia
Platónica. Encontramos a primeira mesmo à entrada da escola, em cujo dintel
podia ler-se a máxima (ou advertência!): “Que não entre quem não saiba
geometria”.
A segunda é-nos proporcionada
por Aristóteles, de quem se diz que contava como os recém-chegados à Academia
ficavam estupefactos pois, esperando ser instruídos acerca do Bem e do Ser, não
ouviam falar de outra coisa que não fosse matemática, astronomia, o Uno e o
limite.
Por último, não há melhor
prova disso do que a quantidade e qualidade dos matemáticos que passaram ou
saíram da Academia, entre os quais sobressaem, acima de todos, Eudoxo de Cnido
(do qual, segundo algumas fontes, Platão pareceu sentir uma certa inveja) e
Teeteto.
Em qualquer caso, o objetivo
da Academia não era outro senão o de formar autênticos “filósofos” em sentido
original, isto é, amantes do saber, que pudessem transformar-se em homens de
Estado e dignos governantes das pólis.
Aquando da morte de Platão, a
direção da instituição recaiu sobre Espeusipo, um filósofo e matemático menor,
mas que contava com o indiscutível
“mérito” de ser o sobrinho do fundador (era filho de Potone, irmã de Platão).
Não deixa de ser curioso (e ilustrativo) ver como o nobre e moralizador Platão,
defensor do governo dos melhores, acabaria os dias com aquilo que se nos
afigura como um vulgar ato de nepotismo.
É que não devemos esquecer que
entre os discípulos de Platão na Academia se contavam algumas figuras de valor
e prestígio indiscutivelmente superiores aos do bom do Espeusipo; em
particular, um jovem estagirista destinado a converter-se num dos grandes nomes
da história do pensamento e da filosofia: Aristóteles.
Texto: in “Platão – A verdade
está noutro lugar”, edição Cofina Media SA, páginas 18 e 19.
Digitação: JP
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A Escola de Atenas, 1511, óleo de Raffaello Sanzio, ou Raphaël (1483-1520), Museu do Vaticano. No centro da composição, Platão e Aristóteles debatem sobre a natureza da realidade. |
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