Rodrigo Constantino
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Foto: Michael Reynolds/Bloomberg |
As regulações federais
americanas vêm aumentando desde 1970, com a “Grande Sociedade” e outras
maluquices da esquerda. A transferência de poder executivo do Congresso para
essas agências reguladoras foi visível. Bush, por conta de crise financeira, e
Obama, em tempos normais, decretaram várias políticas dessa forma, sem
necessidade de aprovação do Congresso.
Trump poderia ter seguido
nessa tendência. É verdade que, em campanha, ele declarou guerra ao “deep
state”, inclusive a seus tentáculos regulatórios. Mas ele também dava sinais de
ser um ávido protecionista, às vezes um populista antitruste, que tinha pouco a
dizer sobre agências poderosas como a FCC no setor de telecomunicações e a FDA
no setor farmacêutico.
O histórico até aqui, porém,
mostra que Trump tem mesmo cumprido sua promessa, e está enfrentando o excesso
de regulação no país. É o que argumenta
Christopher DeMuth no WSJ. DeMuth é membro do Hudson Institute e foi
presidente do American Enterprise Institute, além de ter trabalhado na área
regulatória durante o governo Reagan.
O autor afirma que Trump tem
se mostrado um grande desregulador, que tem respeitado as prerrogativas
institucionais do Congresso e das cortes, e que demonstra o desejo de resgatar
o status constitucional antes dessa expansão descontrolada das regulações.
DeMuth apresenta três indicadores para corroborar seu ponto.
Em primeiro lugar, a escolha
de chefes extremamente qualificados para as agências regulatórias, que são
reformistas determinados. A desregulamentação, diz, só acontece quando os
funcionários estão firmemente comprometidos com as amplas missões públicas de
suas agências – e igualmente empenhados em expulsar excessos burocráticos,
desvios ideológicos e maquinas de grupos de interesses. DeMuth alega que as
indicações de Trump apontam nessa direção, e cita exemplos concretos em várias
agências.
Em segundo lugar, Trump está
abandonando a postura unilateral de legislar, tão comum na gestão de Obama. O
ex-presidente democrata fez várias incursões perigosas nesse terreno, agindo
como uma espécie de “déspota esclarecido”. Fez isso quando protegeu imigrantes
ilegais, inclusive das leis, quando gastou bilhões sem definição do Congresso
para subsidiar planos de seguro e avançar com seu Obamacare, ou quando impôs
pela EPA o plano de Energia Limpa.
Trump está desfazendo essas
medidas, devolvendo o poder de decisão ao Congresso, como deveria ser. A
esquerda, especialmente na mídia mainstream, reclama, pois defendia as medidas
de Obama, sem ligar muito para como elas foram aprovadas, se com ou sem a
devida deliberação e aprovação dos congressistas eleitos pelo povo. A esquerda
costuma ter uma queda por ditadores, e acha o processo democrático lento e
ruim, preferindo concentrar poder no “messias salvador da Pátria” – quando de
esquerda também, claro.
O terceiro e último indicador
usado é a introdução de um limite orçamentário para regulação, o que pode soar
entediante, mas é profundamente revolucionário, segundo o autor. Embora o teste
de custo-benefício adotado por Reagan tenha melhorado a regulamentação nas
margens, tornou-se progressivamente menos restritivo ao longo do tempo e se
mostrou manifestamente inadequado para a dinâmica do crescimento regulatório em
grande escala.
A administração Obama
corrompeu a análise de custo-benefício, inflando benefícios ao mesmo tempo em
que minimizava os custos, vendendo uma série de regras duvidosas de energia e
meio-ambiente. Além disso, o teste de custo-benefício aplica-se apenas a novas
regras, deixando intactas as regras estabelecidas e muitas vezes obsoletas. A
maioria das administrações, incluindo a de Obama, tentou empurrar as agências
para rever suas acumulações regulatórias, mas com resultados geralmente
escassos.
DeMuth acha que a abordagem de
Trump, ainda em estágio inicial, é muito mais eficaz. Ele acredita que essa
medida pode reverter o quadro de inchaço contínuo das regulações no país. Corte
de orçamento é convencional nos negócios. Fazer mais no ano seguinte com 5%
menos de recursos é o progressismo para as empresas, uma forma de sobreviver e
ganhar produtividade. Mas essa abordagem é bem incomum no governo, onde o orçamento
é concebido como um acréscimo automático da inflação, sem levar em conta os
resultados.
Menos comum ainda no governo é
levar em conta o custo de suas regras e medidas para os outros. O ethos da
agência reguladora é ampliar os controles para uma gama cada vez maior de
entidades e atividades, ao mesmo tempo em que os fortalece continuamente em
todas as margens. Esse “mindset” está por trás de várias patologias
regulatórias.
O autor pensa que o fato de
Trump ser um homem de negócios ajuda nisso. O CEO agora está focado em seu novo
“empreendimento”: a presidência, o braço executivo do governo. Ele dedica uma
atenção incomum a seus compromissos regulatórios, incluindo aqueles que não
faziam parte de sua agenda de campanha. Ele delega aos subordinados amplo
espaço de trabalho, cobra de forma mais ágil os resultados, e gosta de métricas
para medir o que cada um está entregando.
Seu estilo pode não ser o
melhor para a diplomacia, para encontros entre governantes com muita conversa e
pouca ação. Mas parece mais adequado para tocar a máquina, inclusive em sua
grande missão atual: reduzir o tamanho e o escopo da própria máquina estatal,
que Trump tem perfeita noção de ter se expandido em demasia.
Se a tese de DeMuth estiver
correta, é provável que Trump vá adiante na desregulamentação e também de forma
mais constitucional, devolvendo ao Congresso poderes que foram usurpados por
presidentes anteriores. O autor conclui: “A lista é longa de reformas
regulatórias saudáveis que estão bem dentro da jurisdição de nosso CEO
federal. Persegui-las energicamente poderia restaurar o bom nome da iniciativa
executiva”.
Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 20-11-2017
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