Perante o conflito na Síria e o ataque
pelas forças aliadas, o BE comporta-se como uma espécie de Suíça hippie. Quando
levamos o pacifismo aos limites do bom senso, perdemos sempre o compasso moral.
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Catarina Martins, Coordenadora do Bloco de Esquerda, foto: Manuel de Almeida/Lusa |
Perante o conflito na Síria e
o ataque deste fim de semana pelas forças aliadas, o BE comporta-se como uma
espécie de Suíça hippie. Numa posição de santa neutralidade, criticou o “regime
de Bashar Al-Assad” — proclamando que “o uso de armas químicas é absolutamente
inaceitável” — e, ao mesmo tempo, atacou os Estados Unidos, o Reino Unido e a
França pela “escalada de militarismo internacional”. Na nota emitida pela sua
Comissão Política, exigiu que Portugal se “distancie claramente” dos aliados e
apelou, lacrimejante, à resolução pacífica do conflito sírio.
No mesmo dia, o PCP também
condenou, “com a maior firmeza”, o “inaceitável ato de agressão contra a Síria”
— mas não se distanciou do regime de Assad. Com os comunistas, sabemos sempre
que o pacifismo é apenas um truque para apoiar o belicismo de Putin; e sabemos
que o ataque ao “imperialismo norte-americano” é apenas um slogan para
disfarçar o apoio ao imperialismo russo. Aquelas palavras são uma arma
política, não são um instrumento moral.
O caso do BE é mais grave
porque os bloquistas acreditam mesmo naquilo que dizem e escrevem — acham, para
lá de qualquer dúvida ou hesitação, que todos os conflitos se resolvem com
flores e beijinhos. Nas suas juvenis cabeças, para acabar com uma parte
substancial do problema bastaria desarmar todos aqueles que carregassem duas
características: serem americanos; serem capitalistas. Talvez seja ocioso
recordar-lhes que os Estados Unidos têm 242 anos, o capitalismo (segundo Marx,
atenção) tem 600 anos — mas o primeiro registo de guerra tem 14 mil anos.
Quando recebeu o Prémio Nobel
da Paz no início do seu primeiro mandato, Barack Obama lembrou que era o Comandante em Chefe de um país
que estava a travar duas guerras e explicou muito bem explicadinho como
funciona o mundo: “O Mal existe. Um movimento pacifista não conseguiria ter
detido os exércitos de Hitler. As negociações não convencem os líderes da Al
Qaeda a deixarem as armas. Dizer que por vezes a força pode ser necessária não
é um apelo ao cinismo — é um reconhecimento da História, das imperfeições do
ser humano e dos limites da razão”.
Mas não se pode esperar que a Comissão Política do Bloco perceba o que Obama quer dizer. Quando levamos o pacifismo aos limites do bom senso, perdemos sempre o compasso moral. No seu comunicado, os bloquistas falam sobre os Estados Unidos — “Não é aceitável qualquer normalização da violência e da barbárie, de ataques contra civis e da violação contínua do Direito Internacional” — sem perceberem que, na realidade e involuntariamente, estão a descrever a atuação do regime sírio. E não percebem porque, de facto, na sua cabeça não há qualquer diferença moral entre as armas químicas do regime sanguinário de Assad e os mísseis dos regimes democráticos dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França. Para Catarina Martins, todas as armas são iguais e todas as motivações para as disparar são igualmente condenáveis. Quando chegamos a este ponto de relativismo já não há mais nada a fazer.
Título e Texto: Miguel Pinheiro, Observador, 18-4-2018
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