Local, que fica em cima do Túnel Sá Freire Alvim, na Rua Barata Ribeiro, está tomado pelo mato e boa parte dos bancos foram quebrados. Devotos e visitantes relatam medo de assaltos e agressões
Patricia Lima
Localizado acima do Túnel Sá Freire Alvim, na Rua Barata Ribeiro, no movimentadíssimo e eclético bairro de Copacabana, o Recanto Nossa Senhora das Graças representa um convite ao diálogo interior e à conexão com a fé católica. Apesar da sacralidade do propósito e do lugar, o santuário, que era um espaço antigo de lazer na década de 1970, se encontra em péssimas condições de conservação.
Desde 1976, o santuário contou
com a dedicação de uma fiel e ardorosa defensora, a mineira da cidade de Miraí, Olívia
Fagundes Coelho. Sob os seus cuidados o oratório de cor azul, instalado em
uma pedra pintada de branco, serviu de palco para missas oficiadas por padres
da Paróquia de São Paulo Apóstolo, localizada na Rua Barão
de Ipanema, também no bairro, além de recorrentes reuniões de devotos – em
sua maioria idosos – para a reza de terços e novenas.
A manutenção do espaço sempre
foi um grande desafio para Dona Olívia, que esbarrou na falta da documentação
que comprovasse a propriedade do terreno. Após uma longa e cansativa
peregrinação, a guardiã do Recanto teve os esforços premiados.
Em 2016, o prefeito Eduardo Paes (PSD) sancionou a Lei 6.069, de autoria do vereador Carlo Caiado, do mesmo partido, reconhecendo publicamente o local de devoção. A partir de então, o cenário ensaiou melhoras. No local, que só havia dois bancos, passou a contar com 14, após uma vaquinha organizada pelos frequentadores.
Apesar do refrigério, outros e
maiores problemas foram provocados pela expansão do metrô de Copacabana. Em
2017, a zeladora do Recanto relatou ao jornal O Globo, que ficou
sem ter acesso à fonte de água do santuário, por conta das obras.
“Conseguimos um registro de
água para poder regar nossas flores. Quando começou a obra do metrô,
emprestamos nossa fonte, mas, depois que foram embora, a água foi desligada e
estou há tempos tentando religar. Eu já estou com dificuldades para vir até aqui.
Não tenho mais como varrer e ainda trazer água para as plantas. Eu não peço
tanto, quero nossa água de volta”, disse ao jornal Olívia Fagundes
Coelho, falecida há alguns anos.
Outras dificuldades também foram geradas pelas obras do modal. Na entrada do Recanto Nossa Senhora das Graças foi construída uma edificação para abrigar o gerador que alimentava o tatuzão, equipamento usado para a escavação das rochas. Com o término das obras, o gerador, que deveria ter sido retirado, continua no local, assim como o pequeno prédio que o abriga, dificultando o acesso dos devotos e inviabilizando as atividades.
Afora, a dificuldade de acesso
gerada, o prédio também permite que moradores de rua e usuários de crack
pernoitem e usem drogas no local. Pessoas ouvidas pelo jornal disseram sentir
medo de ir ao santuário, pois já encontram gente se drogando em em plena luz do
dia. Todos temem assaltos e agressões físicas.
Devota de Nossa Senhora das
Graças e frequentadora do lugar, Maria Lúcia Brabo reclama da
negligencia do poder público quanto à zeladoria e a segurança dos devotos e
visitantes do santuário. Segundo Maria Lúcia, o local vem se devastado por
usuários de drogas e moradores de rua, sem que ninguém tome uma providência,
apesar das reclamações.
“O Recanto de Nossa Senhora
das Graças foi durante décadas um agradável local de orações, rezas do terço
diárias, em grupos católicos. Era um local limpo e bem policiado. Está há uns 4
anos sendo depredado: imagem de Nossa Senhora das Graças, altar, iluminação,
bancos, jardins, entre outros equipamentos. O Recanto, um santuário, como
carinhosamente o chamamos, tornou-se, na atual prefeitura, morada livre dos
cracudos. De tudo fazem ali. Tudo. Há uma construção abandonada na entrada, que
foi usada para guardar um gerador nas obras do metrô. Por ali os drogados
entram e a usam livremente como moradia. O metrô foi concluído e aquilo não
tem, atualmente, outra função, a não ser a de abrigar drogados. Com isso, nunca
mais pudemos frequentar ou rezar no local”, desabafou
Maria Lúcia.
Moradores do bairro relataram
ao DIÁRIO DO RIO que entraram em contato com Secretaria
de Estado de Transporte solicitando a derrubada da construção, uma vez
que ela dificulta o acesso de idosos e pessoas com deficiências (PCDs). Segundo
os relatos, representes da pasta teriam argumentado que não poderiam retirar o
gerador da entrada do santuário por conta das demais obras de expansão do metrô
na Zona Sul.
A espessa vegetação, que tomou conta do Recanto, foi outra queixa feita pelos frequentadores, que disseram ter acionado os serviços da Prefeitura para limpeza e poda de árvores, sem sucesso. Enquanto isso, o que se vê no local são pichações, bancos quebrados ou arrancados e atirados longe pelos moradores de rua e usuários de droga. A depredação e o abandono de uma área importante do bairro são visíveis.
Há anos, Copacabana sofre com
a negligência ou abandono dos seus equipamentos públicos. Além de ver a
população de rua e as cracolândias aumentarem consideravelmente. A asfixia
lenta do Recanto Nossa Senhora das Graças representa não apenas o menosprezo por
um lugar histórico da cidade, mas também um ataque aos devotos e à fé católica
tão tradicional do bairro.
Título e Texto: Patricia
Lima, Diário
do Rio, 19-6-2024
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