Miguel Nunes Silva
Em 2017, a Chanceler Alemã
Angela Merkel dava uma conferência de imprensa na qual atacava o ‘dicurso de
ódio’ nas redes sociais e na qual clamava por mais medidas de censura aos
cidadãos, inclusive reivindicando medidas europeias para prevenir o ‘flagelo’ a
nível internacional.
Rui Rio, a meio da sua campanha para a liderança do PSD, não se coibiu de ir para as redes sociais aplaudir o discurso da excelsa líder ‘democrata-cristã’.
Sublinho que o ano era 2017 e
os fenómenos do Brexit, de Trump e de Bolsonaro estavam ao rubro. Haviam-se
passado três anos desde a desastrosa abertura das fronteiras europeias à
invasão migratória ilegal, em desproporcional medida, responsabilidade, precisamente,
de Angela Merkel. Haviam passado ainda sete anos desde que a própria Angela
Merkel havia declarado a morte do famigerado multikulti, postura
eleitoral que viria a trair liminarmente a partir de 2014, ao abraçar o
lema wir schaffen das (cá nos arranjamos), incitando os
lunáticos marxistas do #RefugeesWelcome e da #Willkommenskultur.
Convém salientar todo o
contexto das palminhas excitadinhas de Rui Rio à Mutti em 2017, para
compreender a otária e colossal falta de noção do líder social-democrata aos
tempos que se viviam. Porque se haviam passado anos desde a traição de Merkel
ao seu próprio programa, porque ao trair o seu programa havia condenado a
Alemanha a taxas de crescimento da violência na ordem dos 650% – isto para nem mencionar o afundar de todo o
trabalho feito na consolidação das contas da República Federal ou a voluntária
entrega de competências a Bruxelas abdicando da soberania nacional – e
sobretudo porque o contexto mundial e Ocidental, era um de revolta para com as
políticas suicidas do sistema estabelecido e, como tal, não havia qualquer
desculpa para que Rui Rio pudesse alegar não ter visto nenhum aviso ou sinal de
alarme.
A isto acresce que, não existindo ainda CHEGA!, eram os próprios eleitores do PSD – que contestavam a imigração descontrolada do terceiro mundo e o abandono da responsabilidade fiscal e da soberania nacional – quem mais seriam visados pela censura que Merkel promovia, e que a extrema-esquerda do sistema mais habilmente saberia instrumentalizar a favor dos Mamadous e contra os Venturas.
Dito e feito, os portugueses
passaram a ser sistematicamente censurados em plataformas como o Facebook e o
Twitter, situação que cresceria em severidade com a cobertura da presidência
Trump e, mais tarde, com a pandemia. Tudo com a anuência, conivência e
profundíssima e displicente cobardia da São Caetano à Lapa. Como expressar
desprezo e raiva suficientes para classificar a atitude de Rui Rio e o claro
divórcio da realidade, da cúpula do PSD? Ainda em 2024 Marques Mendes clamava
por mais imigração – diga-se, do terceiro mundo. Perante a absoluta degradação
das condições de vida e da integridade cultural em França, Reino Unido,
Alemanha, Espanha, Bélgica, Países Baixos, Irlanda, Áustria, Itália, Suécia,
EUA, Canadá, Malta, Grécia, e outros – e ao longo de décadas – o PSD responde
que quer copiar a receita… o veado encandeado pelos faróis, galopa em direcção
aos mesmos.
A energúmena falta de
empirismo, no entanto, não se resume à imigração. Uma outra área na qual os
pecados merkelianos foram cardinais foi a energia.
Quando Angela Merkel
substituiu Gerard Schröder como chanceler em 2005, Berlim liderava a oposição à
desastrosa Guerra do Iraque e era a potência económica mais influente do
continente europeu. Parte dessa influência devia-se à vantagem competitiva que
a indústria germânica possuía em investigação e desenvolvimento, em eficiência
produtiva e… em custos energéticos.
O gás natural russo
proveniente de gasodutos era muito mais barato que outras fontes, a Alemanha
ainda queimava carvão de produção própria e os alemães mantinham várias
centrais nucleares em funcionamento. Schröder havia ainda negociado a
construção do gasoduto submarino Nordstream com a Rússia: uma obra que
garantiria preços de energia ainda mais baixos para a indústria alemã e
segurança de aprovisionamento relativamente aos velhos gasodutos soviéticos que
passavam pela Bielorússia e Ucrânia – países que ocasionalmente tinham
diferendos comerciais com Moscovo e que seriam contornados, pois o Nordstream
era uma obra bilateral que conectava Alemanha e Rússia diretamente no Báltico.
Tanto Schröder como
Merkel apostaram nas renováveis e planearam a gradual descontinuação do nuclear
e do carvão mas foi exclusivamente Angela Merkel que decidiu encerrar as suas
oito centrais nucleares no seguimento do pânico moral suscitado pelo acidente
de Fukushima. Igualmente, foi o governo de coligação SPD-CDU-Verdes – com o consentimento
da estadista sénior Merkel – que optou por declarar sanções à Rússia aquando do
começo da Guerra da Ucrânia. Em ambas as ocasiões, Berlim viu-se na necessidade
de reabrir as centrais a carvão, muito mais poluentes. Quanto às renováveis,
nem as eólicas nem as solares estiveram à altura das expectativas pois apesar
dos subsídios públicos, a fraca fiabilidade da produção desmotivou os
investidores. Se isto soa familiar, é porque é: foi precisamente a falta de
inércia do sistema eléctrico espanhol causado pelas
renováveis, que causou o apagão deste
ano.
A consequência foi a queda da Alemanha da maior economia
europeia para segunda, atrás…
da Rússia. Em 2023 sofreu uma recessão e
a taxa de crescimento está na cauda da OCDE.
Berlim decidiu, juntamente com
Bruxelas, impôr um prazo limite aos motores de combustão interna em automóveis,
proibindo-os a partir de 2035. Esta política deriva do objectivo europeísta e
onusiano das emissões zero e da agenda climática de descarbonização que é
incapaz de detalhar em quanto as mudanças climáticas serão mitigadas se se
cortarem as emissões de carbono.
Os governos PSs (PS e PSD)
alegremente viabilizaram todos estes objetivos e prazos, quer em Bruxelas ou
Nova Iorque. Fizeram-no sabendo perfeitamente que Portugal já tem dos preços
mais onerosos de automóveis e combustível da UE, e que a infraestrutura de
transportes em Portugal está, em larga medida, dependente do rodoviário e do
aéreo; e estes últimos são estruturalmente vulneráveis à variabilidade do preço
do petróleo.
Das duas uma: ou o PSD
acredita que Portugal vai construir ciclovias e ferrovias hiper modernas em
todo o país até 2035, ou que o preço dos carros eléctricos irá miraculosamente
baixar até essa data. Será que todos os portugueses vão ter um BYD na garagem
em 2035? O mais provável é a Direção do PSD prever que o prazo será prolongado
ou que nunca era para ser levado a sério, para começar – e nesse caso, mentiram
e continuam a mentir, tanto nos media como nos manuais escolares.
E que dizer da já residual
indústria nacional se tiver que arcar com preços de transporte ainda mais
elevados? Foi Ursula von der Leyen de mão dada com o governo alemão SPD-Verdes
que falou sem ironia em ‘decrescimento’. Em 2023 von der Leyen fez questão de
discursar na conferência ‘Para Além do Crescimento’ na qual defendeu o fim dos
combustíveis fósseis e acabar com o crescimento económico como objetivo
político. A destruição da indústria europeia é perspectivada como uma virtude!…
e não foi a mesma von der Leyen que fez campanha em Portugal pela mão do PSD e
vice-versa?
Censura, suicídio energético,
derrotas militares, insegurança, desindustrialização, estagnação económica e
endividamento. A Alemanha é a fonte inesgotável de más ideias das quais o PSD
nunca se farta.
No século XXI, o CHEGA! é o
novo partido da Direita moderada, as Esquerdas são os novos anarquistas
lunáticos revolucionários, e o PSD é o novo partido comunista, inspirado pela
promessa progressista dos camaradas europeus, e controlado pelo Q.G. da Revolução
Internacional, sediado em Bruxelas.
Título e Texto: Miguel Nunes Silva é Diretor do Instituto Trezeno e autarca. É licenciado em Relações Internacionais e Mestre em Estudos Europeus, tendo na sua carreira passado por várias agências da ONU e da UE, e ainda pelo sector privado. As suas análises podem ser encontradas em publicações como o Observador, o Semanário Sol, The European Conservative, The American Conservative, The National Interest ou o Small Wars Journal. ContraCultura, 26-7-2025
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