terça-feira, 1 de julho de 2025

[Livros & Leituras] Os saneamentos políticos no Diário de Notícias no verão quente de 1975

Pedro Marques Gomes, Alêtheia Editores, Lisboa, janeiro de 2014, 322 páginas.


José Saramago pretendia que o DN fosse “um instrumento nas mãos do povo português, para a construção do socialismo” e que quem não estivesse “empenhado neste projeto” seria melhor “abandonar o Diário de Notícias”. Clarificava-se, então, a linha editorial que o jornal passaria a ter.

A nova direção do diário com maior circulação nacional durante o “Verão Quente” de 1975 – com tiragens diárias superiores a 100 mil exemplares – prometia, num artigo publicado em primeira página logo a seguir à tomada de posse, “servir o Povo Português e a verdade, contra os inimigos do Povo Português e a mentira”, recusando, por isso, subjugar-se a “interesses particulares”.

A 15 de Agosto de 1975 o Diário de Notícias avisava os seus leitores de que tinha tomado conhecimento de um documento, elaborado por um grupo de trinta jornalistas, no qual era questionada a orientação do jornal. Iniciava-se um duro conflito, que rapidamente ultrapassa as portas do velho diário da Avenida da Liberdade, coincidindo com um dos momentos mais “quentes” do período revolucionário português, caracterizado por profundas lutas entre defensores de diferentes projetos políticos para o futuro do país, mas também por diversas tentativas de controlo político-ideológico dos meios de comunicação social.

Este livro, publicado no âmbito da colecção Media e Jornalismo, coordenada por Ana Cabrera, analisa o conturbado processo que culminou no saneamento de uma parte dos jornalistas do Diário de Notícias, conhecido como «Caso dos 24» e que se mantém, ainda hoje, envolto em grande polémica, existindo sobre ele opiniões divergentes. Um caso que não foi apenas um problema laboral, colocando em evidência os diferentes posicionamentos políticos-ideológicos dos trabalhadores do jornal e as lutas internas e externas pelo seu controlo. 

Pedro Marques Gomes é investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa. Doutorando em História Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde prepara uma tese sobre a Imprensa e o Poder na Revolução de 25 Abril de 1974, é Mestre em Jornalismo pela Escola Superior de Comunicação Social. Participou no projeto de investigação “Justiça Política na Transição para a Democracia em Portugal”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem como principais interesses de investigação a história dos média e do jornalismo e da liberdade de imprensa. 

Um pouco chato, pois esmiuça tanto quanto possível o que era a imprensa portuguesa pós 25 de Abril: poucos jornalistas, muitos militantes políticos nas redações, tipografias, elevadores, portarias etc. Nada mudou, pelo contrário, multiplicaram os militantes, encolheram-se os ‘jornalistas’.

Como ainda hoje, junho de 2025. Só uma pequenina diferença dialética: não existem mais jornais do Estado, existem jornais “ajudados” pelo Estado.

Aliás, o Diário de Notícias, mal das pernas, por causa das cabeças, continua existindo graças à “ajuda do Estado”. E esses “ajudados” têm raiva daqueles que nada recebem e têm mais leitores do que eles. Daí a torcida e a participação contra a liberdade de expressão.

👏👏👏👏

Anteriores: 
Fila grande 
Jihadismo global 
Controle social, Sociedade Alternativa e poder: Nietzsche criou um monstro? 
Homeopatia – Uma medicina alternativa 
Glórias e Desaires da História Militar de Portugal 
A Liturgia do Silêncio

Um comentário:

  1. Miguel Urbano Tavares Rodrigues (Moura, 2 de agosto de 1925 – Vila Nova de Gaia, 27 de maio de 2017) foi um jornalista e escritor português.
    E militante histórico do PCP-Partido Comunista Português.

    Foi redator do Diário de Notícias entre 1949 e 1956, chefe de redação do Diário Ilustrado (1956 e 1957), antes de se exilar no Brasil, onde foi editorialista principal de O Estado de S. Paulo (1957 a 1974) e editor internacional da revista brasileira Visão (1970 a 1974), ao mesmo tempo em que participava do Portugal Democrático, órgão dos antifascistas portugueses, publicado, entre 1956 e 1975, também em São Paulo.

    Regressado a Portugal após a Revolução dos Cravos, foi chefe de redação do Avante! (jornal do PCP) em 1974 e 1975 e diretor de O Diário entre 1976 e 1985.
    Foi ainda assistente de História Contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1974-75), presidente da Assembleia Municipal de Moura em 1977 e 1978, deputado à Assembleia da República pelo PCP - Partido Comunista Português entre 1990 e 1995 e deputado às Assembleias Parlamentares do Conselho da Europa e da União da Europa Ocidental, tendo sido membro da comissão política desta última.
    Tem colaborações publicadas em jornais e revistas de duas dezenas de países da América Latina e da Europa e é autor de mais de uma dezena de livros publicados em Portugal e no Brasil.

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-