Pedro Almeida Vieira
Há uma velha tendência humana
– que a imprensa-abutre sensacionalista e as redes sociais elevaram à condição
de vício pandémico – de querer vigiar os gestos dos outros, medir-lhes o
coração, e acusá-los quando não cumprem aquilo que se julga, não uma regra, mas
uma expectativa narcísica da comunidade observadora.
E é este o ponto fulcral do
circo moralista que se formou, como se fosse vigília digital de almas, à volta
da ausência de Cristiano Ronaldo no funeral de Diogo Jota. Não tardaram os
inquisidores do costume a vociferar contra o egoísmo, a frieza, o desrespeito.
Não por amor ao morto, note-se, mas por desejo de escândalo. Por necessidade de
recriminar. Por impulso mimético de pertença ao grupo dos bons.
(…)
Cristiano Ronaldo não é um
santo, nem quer ser. E também não é um político, nem deve fingir sentimentos
para a câmara. É um homem, um desportista de excelência, e – por mais que custe
a quem o odeia – é talvez o português mais admirado e respeitado fora de
portas. E será porventura também o mais odiado cá dentro, justamente por isso.
A mediocridade nacional,
sempre tão caseira, sempre tão dada ao despeito, não perdoa que alguém do nosso
sangue ouse voar mais alto que o campanário da aldeia. Assim, tudo o que
Ronaldo faz – ou deixa de fazer – é analisado com microscópio moral por uma turba
que só encontra sentido na existência quando descobre um deslize, uma ausência,
um gesto imperfeito.
(…)
Leia o Editorial de Pedro Almeida Vieira, no Página UM, 7-7-2025
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