
Quem lê minhas crônicas pode achar
que defendo coisas do passado — qualquer coisa do passado. Longe de mim aceitar
esta avaliação, pois sei distinguir claramente o que o passado teve de bom e o
que valeu a pena substituir.
Tenho visto ecologistas
lamentarem a migração de pássaros do campo para as cidades, porque fogem dos
agrotóxicos. Não sei se a causa é mesmo esta, nem me cabe descobrir. Mas
desconfio que essa explicação seja coisa de ambientalista fanático a serviço do
esquerdismo; a começar pelo nome “agrotóxico”, um pejorativo com que a esquerda
verdejante pretende condenar os defensivos agrícolas. Se os pássaros fazem
falta no campo, o melhor é conseguir um meio-termo em que eles possam povoar lá
e também as cidades, pois os seus trinados são bem-vindos para quem não se
adapta aos multiformes e multidetestáveis ruídos urbanos.
Posso lamentar que as abelhas
estejam morrendo, pois são necessárias à polinização; que o asfalto seja uma coisa
preta, pegajosa e feia, permanecendo feia depois de compactada e nivelada; que
a informática esteja eliminando a capacidade de raciocínio lógico; que
telecomunicação em excesso distancie as pessoas na vida real. Não me compete
evitar tais consequências, mas se noto que elas existem, considero minha
obrigação denunciá-las.
Se você já esteve em cidades
turísticas como Caxambu, deve ter-se deliciado com passeios de charrete. Mas
será que notou como ficam imundas as ruas onde os cavalos lançam seu lixo ecológico?
Imagine então o resultado de substituir, em cidades como São Paulo, seis
milhões de automóveis por seis milhões de charretes, com os respectivos
cavalos. Não, não pense que eu iria preferir as charretes e o lixo ecológico
dos cavalos. O que prefiro mesmo é que não existam megalópoles com dez milhões
de habitantes. Muito menos do que isso já é demais.
E o brim cáqui Triumphador?
Ah, não! Nem me fale dele! Você não imagina a ojeriza que tenho por esse tipo e
cor de tecido. Usei-o contrafeito, como parte do uniforme escolar, e aguardei
com ansiedade o momento de aposentá-lo. Para sempre! Nunca mais! Never more!
Jamás! Niemals! Jamais plus! Giammai! Desde então venho usando linho (hoje
excluído da moda, e bem difícil de encontrar), casemira, cambraia, seda em
algumas peças, até microfibra, mas nunca aquilo.
(Vai ver que ele não sabe como
é gostoso o blue jeans!)
Gostoso? Será que ouvi bem?
Quando tive a desdita de conhecer o blue jeans, concluí que não passava de lona
disfarçada, e me recusei a vesti-lo. Esta é uma das coisas em que pretendo ser
exceção, a qualquer preço. Nunca usei nem vou usar essa lona cafajestosa. E
acho muito estranho que tantos outros — você, talvez — se rebaixem a ponto de
considerar aquilo uma roupa digna de ser usada.
Vou agora confiar-lhe uma
informação que descobri alguns anos atrás: O blue jeans é mesmo derivado de
lona. Nos Estados Unidos, em meados do século XIX, houve falta de roupas
adequadas para os trabalhadores nas minas. Mas havia tecido de lona sobrando,
então resolveram disfarçá-la com um inconfessável azulzinho envergonhado e
fabricar roupas dos garimpeiros. Eles gostaram da novidade, e para esse
trabalho braçal ela era mesmo adequada. Outros americanos das cidades também
gostaram, como é comum acontecer quando existe atração pela decadência, e em
pouco tempo o blue jeans conquistou o mundo decadente. A lona passou a ser boa
até para quem não está “na lona” — para todos, sejam trabalhadores braçais ou
não, ricos ou pobres, homens ou mulheres.
Isso mesmo! Até as mulheres
aderiram à lona de trabalhadores braçais. Os homens adorariam ver suas amadas
com roupas requintadas, de rainha, mas elas os decepcionam preferindo a lona. E
cada lona!… Por mais este motivo, não conte comigo para usar ou elogiar essa
lona abominável.
Título, Imagem e Texto: Jacinto Flecha, 26-04-2014
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