Helena Matos
Estamos na mão dos frágeis. Rui Rio ganhou
um congresso do seu partido; Costa perdeu as legislativas. Qual a legitimidade
de Rui Rio para fazer acordos com Costa em matérias como a regionalização?
Considerando-se legitimado
pelos assombrosos 22.611 votos que recebeu no Congresso do PSD, Rui Rio
propõe-se estabelecer acordos com António Costa em matéria de Justiça,
Segurança Social, reforma do Estado e descentralização.
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Rui Rio e António Costa, foto: Pedro Ferreira |
Nem quero imaginar o que teria
Rui Rio para acordar caso tivesse ganho as eleições em 2015 com 1.993.921 votos
como aconteceu com Passos Coelho. Obviamente Portugal não seria o limite à sua
ânsia de ruptura nem Costa um interlocutor à altura de tal grandeza e quero
acreditar que Rui Rio acabaria a propor a Espanha um novo Tratado de
Tordesilhas ou um acordo ao Japão e à China para desbloqueamento da contenda em
torno ilhas Senkaku que opõe aqueles dois países. E nem se consegue conceber o
que se sentiria Rui Rio mandatado para fazer se porventura alguma vez se
aproximasse dos quase três milhões de votos conseguidos por Cavaco Silva em
1991!
Sejamos claros, estamos nas
mãos de líderes frágeis. Logo perigosos. Rui Rio ganhou um congresso do seu
partido; Costa perdeu as legislativas e para ser primeiro-ministro paga um
dízimo legislativo ao PCP e ao BE. (Dízimo esse que por largos anos tornará
Portugal um país ainda mais corrupto, atrasado e crispado.) Contudo nada na sua
fragilidade eleitoral inibe Costa ou Rio de comprometerem o país em opções de
que dificilmente haverá possibilidade de retorno, como é o caso da dita
descentralização. Antes pelo contrário esta fuga em frente surge-lhes como a
porta de saída para a menoridade das suas circunstâncias. E é aqui que entra o
cerne da política dos próximos meses: qual a legitimidade de Rui Rio para fazer
acordos com Costa em matérias como a regionalização? Vai o país aceitar que um
processo de tal importância seja acordado entre um derrotado nas legislativas e
um líder partidário que da sua legitimidade presente apenas tem para apresentar
pouco mais que vinte mil votos?
Costa e Rio andam a brincar
aos acordos de regime. Nessa sua estratégia sobram-lhes capas elogiosas nos
jornais e falta-lhes o essencial: o voto dos portugueses. Dir-se-á que aquilo
que lhes interessa mesmo é a domesticação do Ministério Público. Não sei se
isto é verdade, mas receio que não seja completamente mentira. Seja como for há
que recordar-lhes a cada dia, a cada hora, a cada segundo que os portugueses
têm muitas palavras e ainda mais votos a dar sobre o assunto.
PS. A Comissão
para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) apresentou uma queixa contra
André Ventura. Em causa estão as críticas feitas por André Ventura no facebook
da RTP: aquele político discordava do facto de numa peça noticiosa daquela
estação de televisão não terem sido identificadas como ciganas as pessoas
que protagonizaram as agressões que tiveram lugar num hospital.
Convirá que a Comissão para
a Igualdade e Contra a Discriminação Racial explique para lá do que parece ser
uma fixação em André Ventura o que a leva (ou não) a decidir apresentar queixa.
Por exemplo, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial também
apresentou queixa da peça do Jornal de Notícias que dizia “Líder cigano pede desculpas por agressões a enfermeiro”?
Na prática parece estarmos
perante um racismo seletivo: não se pode escrever “ciganos agrediram”, mas pode
fazer-se um título como “Líder cigano pede desculpas por agressões a
enfermeiro”. O que naturalmente nos conduzirá ao paradoxo do líder cigano, seja
esse cargo o que for, andar por aí a pedir desculpas por agressões que não se
noticiou terem sido praticadas por ciganos.
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 25-2-2018
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