Passos saiu, mas também nunca disse que não
voltava. E isto, vindo de um ex-primeiro-ministro que não escondeu essa
condição, é muito.
André Abrantes Amaral
Escrevo sobre o regresso de
Passos Coelho dias depois de este se ter ido embora porque é uma das leituras
possíveis do seu discurso no último congresso do PSD. Passos saiu, mas também
nunca disse que não voltava. E isto, vindo de um ex-primeiro-ministro que não
escondeu essa condição, é muito.
Estou certo que, a esta hora,
o leitor já me apelidou de passista, “coisa” que não sou, pois nunca fiz parte
de listas partidárias nem ocupei cargos e funções ou assumi sequer qualquer
papel nas políticas que Passos Coelho conduziu. Sou apenas um cidadão que
escreve e tem uma opinião sobre o que se passou nos últimos anos e vai acontecer
nos próximos. O meu interesse é o da mera pessoa que quer viver melhor num país
melhor. Pode ser raro, mas ainda existe.
No seu discurso de despedida,
Passos Coelho recordou a quase bancarrota em que o PS deixou o país, apontou o
dedo aos seus responsáveis que voltaram ao governo como se não fosse nada com
eles, alertou para a propaganda da geringonça, que é tão difícil de desmontar,
e referiu a importância da coligação com o CDS, porque só com o CDS a direita
regressa ao governo, com políticas reformistas. Por fim, despediu-se recordando
aos que estavam no congresso, Rui Rio incluído, que ele era, sempre seria, um
ex-primeiro-ministro que venceu as eleições e que só não continuou porque as
suas reformas foram demasiado ousadas para a extrema-esquerda e este PS poderem
tolerá-las.
Quando a crise regressar - e
vai regressar porque o crescimento econômico resulta das políticas do governo
PSD/CDS que não estão a ser aprofundadas e duma conjuntura internacional que
não vai perdurar -, Passos Coelho será a figura para que todos olharão. Será
muito difícil a um dirigente do PSD, sem provas dadas no governo nem vitórias
eleitorais equiparadas às de Passos Coelho, resistir à vontade deste de
regressar à política.
A força de atração de um
político com o percurso como o de Passos Coelho impossibilitará o futuro de Rui
Rio ou de qualquer outro que surja. Enquanto a economia continuar a ajudar este
PS, enquanto a extrema-esquerda hipocritamente se contentar com a
desqualificação laboral a que se assiste, o PSD será a oposição respeitosa -
Belém apelidá-la-á de responsável -, mas logo que o vento mude, a credibilidade
de quem pactuou com os “donos disto tudo” será nula. Passos saiu para não se
agastar e, quando for preciso, regressa.
Título e Texto: André Abrantes Amaral, Advogado, jornal
“i”, 22-2-2018
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