Aparecido Raimundo de Souza
A DESCRIMINAÇÃO RACIAL não é coisa
de agora. Em absoluto! Vem de longos carnavais, quando ainda a balbúrdia
desenfreada que conhecemos hoje como uma espécie de desfile festivo (na verdade
uma libertinagem bem a gosto da putaria sem limites), não passava de um bloco
de birutas e tresloucados vestidos à Clóvis Bornay e tendo, como puxador do
melhor ritmo do samba enredo da Salgueiro, o mestre Djalma Sabiá cantando
“Ilegal, imoral ou engorda” do Roberto Carlos, em Esperanto. Calma, meus
prezados. Djalma Sabiá nunca cantou “Ilegal, imoral e engorda”, de Roberto
Carlos. Menos ainda em Esperanto.
O que estamos querendo apontar com
esta entrada esquisita, neste texto mais estranho ainda, é que usamos este
gancho meio que atravessado, ou enviesado, para dizermos e trazermos à baila,
um tema atual, ou seja, o de pontilharmos, de maneira objetiva, que o racismo,
não é de hoje, vem atormentando as pessoas de cor, como se todos nós, brancos,
fossemos os reis e as rainhas do pedaço. Não somos. Saibam, senhoras e
senhores, cagamos e fedemos iguais a todos. Nossas sombras, angustias e
aflições, são idênticas.
Em nossas veias, corre o mesmo
sangue. As pessoas que pensam em contrário, deveriam ser banidas da sociedade.
Como assim, banidas? Em outras palavras: tiradas do meio comum onde vivem.
Arrancadas do nosso convívio, afastadas à toque de caixa. Lamentavelmente, o
brasileiro faz questão de ser burro, de passar diploma de asno e de imbecil, de
se formar nas mais diversas profissões, frequentar as melhores faculdades,
porém, continua sem entender que ser preto ou negro não é ser diferente. Ser
preto ou negro, é ser filho do mesmo Deus Pai que nos vigia e nos protege, sem
a distinção da cor e do credo, sem meios termos. Simples assim.
Concordamos que existem muitos
pretos de alma branca, como muitos brancos mais pretos que os negrumes dos
cafundós do inferno. Evidentemente o dia em que os cidadãos brasileiros, os
queridos e simpáticos “brancos azedos” largarem de ser idiotas, de bancarem os
bufões, de se acharem os maiorais, acreditem, caríssimos, os nossos dias, as
nossas horas de existência aqui nessas Terras de ninguém serão melhores até na
hora de respirarmos. Como dissemos acima, a descriminação não surgiu ontem, nem
é coisa de agora.
Essa podridão sem limites, essa
doença infame, pior que a pandemia da Covid-19, disseminada da cachola dos
brancos, vem de longa data. Remonta dos tempos em que eles nem saberiam
distinguir a cor preta da raça negra e vice versa. Os brancos se acham os reis
de castelos encantados, de baluartes semelhados aos das Cracolândias espalhadas
Brazzzil à fora, quando, na verdade, os infelizes não sabem onde têm o nariz,
ou pior, onde sentarem com seus rabos nojentos. Nesse universo imenso, houve um
escritor que, no seu tempo entre nós, precisou sair fugido de seu país para
melhor divulgar o seu trabalho.
O tema que ele abordava, não
agradava meia duzia de senhores farisaicos e proditórios, que não faziam outra
coisa senão sentarem suas bundas em grossas e duras bananas. Eram os ilustres e
poderosos (entre aspas), que saiam dos armários, desmunhecavam, sem contudo,
assumirem o verdadeiro rosto do maquiavelismo fraudulento que os consumiam.
Fazemos referência ao jovem negro James Arthur Baldwin, romancista, ensaísta,
dramaturgo crítico e poeta, autor do magnânimo “Go tell it on the mountain”.
ou "Vá dizer isso na
montanha".