Gustavo
"Este não é o fim, e
pode mesmo não ser o começo do fim, mas é, certamente, o fim do começo".
- Winston Churchill
O Brasil está mudando. E para
melhor.
Alguns fatos apontam para essa
conclusão otimista. Primeiro, o julgamento do mensalão, que começou morno e que
parecia caminhar para terminar em pizza, parece que é para valer. Apesar da
ausência inexplicável no banco dos réus do capo di tutti cappi, e de
algumas questões mal resolvidas (como os constantes arranca-rabos entre Joaquim
Barbosa e Ricardo Lewandowski), as condenações, bem ou mal, estão saindo. Caiu
por terra, assim, de forma acachapante, a tese defendida há sete anos por Lula
e seus asseclas, segundo a qual o mensalão não existiu (ou foi uma
"conspiração das elites e da mídia golpista" etc.). É algo positivo,
sem dúvida. Ao que parece, o Brasil está aproveitando a chance de deixar de ser
o país da impunidade.
Outro fato positivo, e
simbolicamente mais importante, foi a recusa de alguns partidos da base aliada
do governo de referendar uma nota a favor do ex-presidente - e enfatizo aqui o
"ex-presidente", porque parece que ele não entendeu que não é mais
presidente da República - Luiz Inácio Lula da Silva contra as acusações de
Marcos Valério, feitas à revista VEJA, de que ele, Lula, não só sabia, como foi
o mentor e chefe do esquema do mensalão. A nota, denunciaram os líderes de
alguns partidos aliados, foi-lhes arrancada à base da coação pelo presidente do
PT, Rui Falcão.
Não sei se vocês perceberam,
mas o que está descrito aí em cima é algo absolutamente inédito: pela primeira
vez em dez anos, e mesmo antes, um grupo de políticos (ainda por cima, aliados)
recusou-se a fazer o papel de aduladores do Apedeuta. Pela primeira vez desde
que este apareceu na vida política nacional, há mais de trinta anos, políticos
aliados se negaram a bajulá-lo. Depois de décadas sendo sistematicamente
paparicado, incensado, endeusado por legiões de políticos, artistas e
intelectuais, Luiz Inácio Lula da Silva teve de ouvir um "não" como
resposta. Não é pouca coisa.
Não é segredo para ninguém que
o culto da personalidade de Lula já atingiu níveis realmente stalinianos,
superando mesmo o de Getúlio Vargas na época da ditadura estadonovista. Em
vários textos, escrevi sobre isso. É algo inseparável da criação de seu mito
político, que se alimenta tão-somente de um misto de esquerdismo inercial e
complexo de culpa das elites (já falo sobre isso). Agora, ao que tudo indica
esse mito começa a desbotar, gerações de vigaristas ou de idiotas
bem-intencionados estão vendo, finalmente, que o ídolo tem pés de barro. O
reizinho está ficando nu.
De vez em quando ouço alguém
dizer, como que justificando para si mesmo o fato de se ter deixado enganar por
tanto tempo: "Lula é um gênio". Comparam-no, assim, a um Einstein, um
Newton, um Galileu. Um gênio instintivo, um gênio da política etc. etc. Ora
essa! Nada mais equivocado e, diria mesmo, nada mais cretino. Dizer que Lula é
um gênio é uma forma de alimentar o culto da personalidade criado em torno do
Filho do Barril. É um insulto aos verdadeiros gênios, e é uma maneira de
isentar-se de culpa pela construção do mito, a maior farsa política da História
do Brasil.