Camilo Lourenço
A divisão no Conselho de Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar.
A divisão no Conselho de Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar.
Esqueçam a questão da TSU. O
problema de Portugal é outro. As informações passadas por quem esteve na
reunião do Conselho de Estado mostram que os presentes partiram-se entre
apoiantes das medidas do Governo e os que não concordam com elas (ver "Público"
de ontem) independentemente do posicionamento ideológico. Ou seja, a fractura
teve pouco a ver com a tradicional divisão entre Esquerda e Direita. O que
reforça uma ideia: as mudanças que temos de fazer não agradam a ninguém. Nem à
Direita (veja-se a inacreditável entrevista de Freitas do Amaral à SIC, na semana passada e as declarações
de Bagão Félix nas últimas semanas) nem à Esquerda (cujo rol, de tão extenso,
me dispenso de referir aqui). Por quê? À partida poder-se-ia pensar que a
Esquerda estaria mais inclinada a defender aquilo que criou nos últimos 38 anos
(com a ajuda de alguns governos de Direita): uma presença sufocante do Estado
na sociedade, traduzida na absorção de 50% da riqueza que o país cria. Mas não
é isso que se passa: a mudança assusta tanto a Direita como a Esquerda.
A divisão no Conselho de
Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar. Porque a
mudança implica dor (recessão, desemprego) e porque a mudança implica o fim de
privilégios e influência de grupos e personalidades de peso na sociedade
portuguesa. Tanto à Esquerda como à Direita. É isto que está a bloquear a
modernização de Portugal: o medo da mudança. E é isso que nos está a
empobrecer, afastando-nos do centro da Europa. Estamos a chegar àquele ponto em
que a única esperança de mudança se transferiu de quem tem a obrigação de mudar
o país (nós) para… a Troika. Pior atestado de incompetência não poderia haver.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 24-9-2012
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