segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Estamos presos ao passado

Camilo Lourenço

A divisão no Conselho de Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar.
Esqueçam a questão da TSU. O problema de Portugal é outro. As informações passadas por quem esteve na reunião do Conselho de Estado mostram que os presentes partiram-se entre apoiantes das medidas do Governo e os que não concordam com elas (ver "Público" de ontem) independentemente do posicionamento ideológico. Ou seja, a fractura teve pouco a ver com a tradicional divisão entre Esquerda e Direita. O que reforça uma ideia: as mudanças que temos de fazer não agradam a ninguém. Nem à Direita (veja-se a inacreditável entrevista de Freitas do Amaral à SIC, na semana passada e as declarações de Bagão Félix nas últimas semanas) nem à Esquerda (cujo rol, de tão extenso, me dispenso de referir aqui). Por quê? À partida poder-se-ia pensar que a Esquerda estaria mais inclinada a defender aquilo que criou nos últimos 38 anos (com a ajuda de alguns governos de Direita): uma presença sufocante do Estado na sociedade, traduzida na absorção de 50% da riqueza que o país cria. Mas não é isso que se passa: a mudança assusta tanto a Direita como a Esquerda.
A divisão no Conselho de Estado é o espelho da sociedade portuguesa: o país não quer mudar. Porque a mudança implica dor (recessão, desemprego) e porque a mudança implica o fim de privilégios e influência de grupos e personalidades de peso na sociedade portuguesa. Tanto à Esquerda como à Direita. É isto que está a bloquear a modernização de Portugal: o medo da mudança. E é isso que nos está a empobrecer, afastando-nos do centro da Europa. Estamos a chegar àquele ponto em que a única esperança de mudança se transferiu de quem tem a obrigação de mudar o país (nós) para… a Troika. Pior atestado de incompetência não poderia haver.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 24-9-2012

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