Aparecido Raimundo de Souza
HOJE DE MANHÃ, antes das sete horas, como faço todos os dias ao me
dirigir para o trabalho, desci para tomar meu café na padaria. Adoro este
recinto. Me sinto bem, quando estou ali. Diria que tal espaço se me apresenta
como uma extensão da minha própria casa. Por esta razão, chova ou faça sol,
esteja frio ou um calor de quarenta graus, não abro mão de “aparecer” dando o
ar da graça, por nada deste mundo. O estabelecimento em questão se situa quase
frenteado ao portal do meu condomínio. Entrei, sentei ao lado do meu lugar de
sempre, visto que a minha mesa preferida (a que mais gosto) se achava ocupada
por uma loirinha gostosa que mora dois andares acima do meu.
Meio do café, assim, num
repente, do nada, me deu uma vontade louca de soltar algumas flatulências.
Achei estranho, porque antes do banho, e de me trocar, dedico algum tempo
levando o bumbum para visitar o vaso sanitário, oportunidade em que aproveito
para expelir todos os possíveis e futuros dissabores de um infortúnio
“molestoso.” Com o traseiro colado à seringa e à disposição de um livramento de
fezes suave e sem pressa, usufruo lendo no celular as principais notícias do
dia me inteirando das novidades. Por esta razão, a série de puns desvairados e
anômalos, me pegou meio que surpresado.
Tocava, nesta hora, uma música
alta, aliás, muito acima do normal além de chata. Geralmente o gerente não
costuma colocar barulhos ensurdecedores em atenção aos frequentadores que para
ali se convergem na ânsia de se confraternizarem com o primeiro dejejum. Outro
motivo. Muito cedo para aquele tipo de estrondo se mostrar em volume tão
deprimentemente elevado. Pois bem! Temeroso por soltar outros arrotos
subversivos e atrapalhar ou chamar a atenção da minha convizinha, e claro, dos
demais em derredor, fiquei, de prontidão, com a pulga atrás da orelha, pronta
para entrar em ação.
A tosse anal, de fato, deu
sinais encorajadores de que estava furiosa. Intransigente prometia, pelos
movimentos que me obrigava a executar, logo voltaria à carga, fazendo com que
eu me apresentasse publicamente de forma cruelmente arrebatadora. Não deu outra.
Os gases intestinais no tubo retal vieram e se fizeram patentes. Diria, sem
medo de errar, de forma poderosa e bombástica. Na verdade, ainda que quisesse,
não tinha como segurar o estrago que se avizinhava. Nesta confusão desordenada,
ou seja, entre a minha vontade de reprimir os atos e a insensatez desvairada
dos malcheirosos exteriorizarem, e, impávidos espocarem entremeados e sem
prévio aviso, ou pior, entre liberar as bombardas e deixar os incômodos se
remoendo, fiquei ligado. Achei por seguro tomar uma decisão.